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O doleiro Alberto Youssef afirmou, em depoimento na Justiça Federal nesta terça-feira, que as empreiteiras Odebrecht e Brasken depositavam as propinas relativas ao esquema de corrupção da Petrobras no exterior.

André Vargas ajudou a “abrir portas” no Ministério da Saúde, diz doleiro

Em depoimento à Justiça Federal nesta terça-feira (31), o doleiro Alberto Youssef contou ao juiz federal Sérgio Moro detalhes sobre a atuação da empresa Labogen, de Leonardo Meirelles

O ex-deputado federal André Vargas (sem partido) foi responsável por “abrir portas” para a empresa Labogen no Ministério da Saúde. A afirmação é do doleiro Alberto Youssef, que explicou o envolvimento do ex-parlamentar com a empresa em um interrogatório realizado nesta terça-feira (31), na Justiça Federal de Curitiba.

De acordo com Youssef, tudo começou quando ele ficou sabendo que Leonardo Meirelles, dono da Labogen, estava com dificuldades financeiras. “Eu soube que ele [Meirelles] estava tentando colocá-la [a Labogen] em funcionamento. A partir daí, eu pedi que ele me trouxesse dados da empresa, o que a empresa poderia fazer, e eu analisei e disse que ele tinha condições sim de colocar a empresa de pé, e que eu iria ajudá-lo porque ele tinha um grande negócio na mão, que era a Labogen”, disse Youssef ao juiz federal Sérgio Moro.

“Eu pedi ajuda ao André Vargas, que era um deputado federal, era vice-presidente da Câmara, para que ele nos ajudasse no Ministério da Saúde, para que a gente pudesse ter as portas abertas”, contou o doleiro. Segundo Youssef, não houve favorecimento da empresa para o fechamento de contratos. “Somente as portas abertas no Ministério da Saúde, porque não é fácil você pegar uma empresa que está parada há vários anos, bater na porta do Ministério da Saúde e ser bem atendido”, disse.

Em 2013, a Labogen firmou um contrato no valor de R$ 150 milhões com o Ministério da Saúde para o fornecimento de insumos farmacêuticos. Segundo denúncia do MPF, o fornecimento nunca aconteceu. O caso é alvo de um inquérito que apura as irregularidades. “Infelizmente, hoje se você não fizer um lobby nenhum empresário consegue entrar em nenhuma parte do poder público para prestar serviços”, disse Youssef ao juiz.

O doleiro também afirmou ter entregado, a pedido de fornecedoras da estatal, propina em dinheiro no seu escritório, na Zona Sul de São Paulo. Os recursos teriam sido usados para alimentar as contas do PP e do PT. Youssef disse ainda que fez pagamentos na porta do diretório nacional do PT em São Paulo.

“Eu cheguei a usar uma das empresas do seu Waldomiro (laranja de Youssef) para fazer uma operação para (a empresa) Toshiba onde eu pude, então, não só pagar o Partido Progressista (PP), mas também pagar o Partido dos Trabalhadores (PT). Foram dois valores de R$ 400 e poucos mil que foram entregues, a mando de Toshiba ao tesoureiro João Vaccari (Neto)”, disse.

De acordo com o doleiro, a primeira parcela da propina foi retirada pela cunhada do tesoureiro do PT, Marice Correa de Lima, em seu escritório. O segundo valor foi entregue na porta do prédio do Diretório Nacional do PT, em São Paulo, pelo funcionário do doleiro, Rafael Ângulo, a um representante da Toshiba, que teria repassado o dinheiro a Vaccari.

No interrogatório, Youssef reforçou ainda o pagamento a agentes públicos. Ele citou que a maior parte da propina operada por ele ia para os cofres do PP, por meio do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.

Pela primeira vez o doleiro Alberto Youssef diz em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que recebeu dinheiro no exterior para pagar políticos do PP e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, de 2010 a 2014, oriundo das empreiteiras Brasken, Odebrecht e Andrade Gutierrez.

Ao responder a pergunta de um procurador do Ministério Público Federal (MPF) de quem recebia dinheiro no exterior para pagar propinas a políticos em reais aqui no Brasil posteriormente, depois do dinheiro internalizado no país, Youssef foi direto:

“Da Brasken, Odebrecht, provavelmente UTC devo ter recebido alguma coisa lá fora. Andrade Gutierrez, para quem fiz caixa dois e da Engevix. Que eu me lembre são essas”, disse.

“Como eram feitos os pagamentos da Odebrecht no exterior?”, questionou o MPF.

“A Odebrecht teve grandes contratos na Petrobras. Primeiro Rnest (Petroquimica Abreu e Lima, no Pernambuco), onde ela teve o consórcio Conest. Parte desses valores A Odebrecht me pagou em reais vivos aqui e parte em contas no exterior. Como era um consórcio, A Odebrecht pediu que a OAS pagasse parte das comissões através de notas da MO, Rigidez e RCI”, respondeu.

Como o depoimento de Youssef foi feito a pedido dele, o doleiro colaborou e respondeu a todas as perguntas do juiz Sérgio Moro e dos procuradores. Um deles quis saber se Youssef recebeu algum pagamento por meio da Construtora Del Sur, uma das empresas da Odebrecht com ramificações no exterior. “Uma vez recebi uma ordem da Odebrecht na qual a remessa foi feita pela construtora Del Sur, que seria da Odebrechet”.

Youssef deu os nomes dos diretores da Odebrecht que autorizavam as operações do doleiro no exterior.

“Era o senhor Márcio Faria, presidente da Odebrecht Óleo e Gás, o Cesar Rocha que era diretor financeiro da holding. Pela Brasken, que é do mesmo grupo, que o contato era o Alexandrino (Alencar)”.

“Quantas vezes o senhor recebeu da Construtora Del Sur no exterior?”, perguntou o MPF.

“Duas ou três vezes”

Com relação a Andrade Gutierrez como eram feitos os recebimentos no exterior?

“Fiz três operações para a Andrade Gutierrez. E agora no final de 2013, começo de 2014, que foi operação de US$ 300 mil, que mandei para a DGX, e duas operações de US$ 150 mil, que nada tem a ver com a Petrobras. Mas foi operação de caixa dois. Um representante da Andrade, o Flávio Magalhães, e o diretor da Andrade Gutierrez na Venezuela, o senhor Alberto”.

Até o momento, a Odebrecht, maior construtora em atividade no país, não foi denunciada formalmente pelo Ministério Público Federal (MPF) e vem negando veementemente as suspeitas contra a empreiteira.

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