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Apreensão de documentos na primeira fase da operação. | Wilson Dias/Agência Brasil
Apreensão de documentos na primeira fase da operação.| Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quarta-feira (8), a 2.ª fase da Operação Greenfield que investiga desvios de R$ 8 bilhões nos fundos de pensão Funcef, Petros, Previ e Postalis (responsáveis pelos pagamentos da previdência complementar dos funcionários da Caixa Econômica, Petrobras, Banco do Brasil e Correios). A suspeita que motivou a nova etapa da operação é de que o empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, proprietário da JBS-Friboi, teria tentado comprar o silêncio de um ex-sócio que poderia ser testemunha da investigação.

A primeira fase da Greenfield havia sido deflagrada em setembro de 2016. Em nota, a PF informou que 30 policiais federais cumpriram sete medidas judiciais: cinco no estado de São Paulo e mais duas no Mato Grosso do Sul.

São alvos de mandados de busca e apreensão da segunda fase da Operação Greenfield o empresário Mário Celso Lopes e seu filho Mário Celso Lincoln Lopes, sócios da empresa Eucalipto Brasil. No caso de Mário Celso Lopes, também foi cumprida uma ordem de prisão temporária por cinco dias. Mauro Celso Lopes é antigo parceiro de negócios da holding J&F.

As medidas têm o objetivo de recolher provas de que os envolvidos praticaram crimes como gestão fraudulenta de fundos de pensão que realizaram investimentos no Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Florestal – que recebeu aporte de cerca de R$ 550 milhões dos fundos de pensão Petros e Funcef.

Dificuldades à investigação

Segundo a Procuradoria, as investigações da Greenfield revelaram que Mário Celso Lopes participou da constituição da Florestal S/A (atual FIP Florestal). Na época, o empresário era o principal sócio da MCL Empreendimentos e Negócios LTDA, que se aliou ao Grupo J&F para a formação da companhia que, posteriormente, entre os anos de 2009 e 2010, recebeu os aportes financeiros de Petros e Funcef.

Para justificar o pedido de prisão de Mário Celso, o Ministério Público Federal relatou à Justiça a descoberta de movimentações recentes como a assinatura de contrato cujo objetivo seria o de dificultar as investigações. Em novembro do ano passado, após a deflagração da Operação Greenfield, a Eldorado Celulose (empresa do Grupo J&F) firmou um contrato de R$ 190 milhões com a Eucalipto Brasil. A Eldorado, por sua vez, tinha como sócios os fundos Funcef e Petros.

“Chamou a atenção dos investigadores o fato de, menos de um mês após o fechamento do negócio, ter ocorrido a retirada de uma cláusula do contrato. A alteração beneficiou Mário Celso em detrimento da Eldorado e dos sócios minoritários: Funcef e Petros. O Ministério Público Federal suspeita que a medida tenha sido uma articulação com o propósito de comprar o silêncio de Mário, já que este conhecia as irregularidades envolvendo o recebimento dos recursos dos fundos de pensão”, diz nota da Procuradoria.

Para os investigadores, todas as movimentações acionárias e negociações que viabilizaram os investimentos feitos pelos dois fundos de pensão beneficiaram Mário Celso Lopes e seu filho e sócio.

A Eldorado

A empresa Eldorado Celulose, do grupo J&F, passou a ser investigada pela Operação Greenfield após a descoberta de indícios de irregularidades no processo de escolha da companhia para receber recursos dos fundos de pensão. Para os investigadores, os responsáveis pelos investimentos no FIP Florestal atuaram ilicitamente e admitiram a superavaliação dos ativos que foram objeto de investimento.

Com isso, mesmo fazendo um grande aporte de capital próprio (cada fundo investiu R$ 275 milhões) e assumindo grandes riscos, Funcef e Petros não tiveram o controle da empresa Florestal.

Outro indício de irregularidade apontado pelo Ministério Público Federal ocorreu no momento da fusão entre a Florestal e a Eldorado. Com o propósito de reduzir ainda mais a participação acionária de Funcef e Petros na nova companhia, houve uma nova superavaliação, desta vez dos ativos da Eldorado.

“Os investigados Joesley Mendonça Batista (e seu irmão Wesley Batista) e Mário Celso Lopes (assim como seu filho e sócio Mário Celso Lincoln Lopes) conseguiram o controle de uma nova grande empresa sem precisar ter realizado o investimento condizente com o valor de tal empresa. A partir de então, tiveram o porte necessário para obter, junto ao FGTS e Caixa Econômica Federal (entre outros bancos), financiamentos e empréstimos que permitiram alavancar ainda mais o valor da Eldorado, gerando a empresa que hoje é uma das líderes do mercado de celulose no Brasil”, descreve um dos trechos da petição. Joesley e Wesley Batista são sócios do grupo J&F.

Bloqueio de bens

O Ministério Público Federal pediu o bloqueio dos bens, ativos, contas bancárias e investimentos pertencentes a MCL Empreendimentos e Negócios, MCL Participações, Mário Celso Lincoln Lopes , Mário Celso Lopes e Eucalipto Brasil S.A. Solicitou ainda o sequestro de bens como imóveis e cotas sociais dos envolvidos.

A intenção com essas medidas é assegurar – em caso de condenação – a recomposição do prejuízo causado aos fundos. Atualmente, o valor está estimado em R$ 1,7 bilhão. A Justiça também acatou o pedido de afastamento dos sigilos bancário, fiscal, telefônico, telemático de todos os documentos apreendidos na operação.

Outro lado

A J&F informou que nenhuma das suas empresas foi alvo de busca e apreensão ou qualquer ação policial no âmbito da Operação Greenfield nesta quarta-feira. A empresa reforçou que, quanto ao processo que tramita na 10.ª Vara Federal de Brasília, seus advogados já entregaram a sua defesa e aguardam novos pronunciamentos do juiz responsável. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Mário Lopes e de seu filho.

A reportagem encaminhou e-mail solicitando um posicionamento do fundo Petros, mas ainda não obteve retorno. O Funcef informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria o caso.

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