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Em 2002, Euclides Scalco esteve à frente da Secretaria-geral da Presidência da República de FHC. | Antônio More/Gazeta do Povo
Em 2002, Euclides Scalco esteve à frente da Secretaria-geral da Presidência da República de FHC.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Do alto dos seus 84 anos, com a experiência calcada em duas coordenações de campanhas presidenciais vitoriosas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos fundadores do PSDB, vai dar umas bicadas ou conselhos na campanha de seu mais novo protegido, o prefeito candidato à reeleição Gustavo Fruet (PDT). Detalhe: Euclides Scalco é ainda filiado ao PSDB. Problema? Para ele, nenhum.

“Para mim, o PSDB é igual aos outros partidos. Não há rumo definido. Não tem partido que sobreviva sem uma proposta escrita e convicta. Os diversos estatutos de partidos são ótimos. O papel aceita tudo. Para uma nação, é preciso ser muito diferente”, reconheceu o ex-deputado federal, gaúcho de Nova Prata, talhado em Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná.

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Em 1995, após o atual senador Alvaro Dias (PV) se filiar ao PSDB, deixou a legenda que tanto prezava. Não detalha os motivos que o levaram para fora do partido, mas alega divergências políticas com o irmão mais velho de Osmar Dias (PDT). “Naturalmente que conversamos depois. Aconteceu o mesmo com o Beto [Richa]”. Voltou a se filiar ao partido em 2002, após assumir a Secretaria-geral da Presidência da República de FHC.

Ele acredita que o grande número de partidos no país (35) inviabiliza qualquer avanço. Ele não poupa nem o de Fruet. De volta ao ninho tucano, deixou marcas bastante fortes na história recente da política no estado. Coordenou a campanha de Osmar Dias em 2006, derrota doída para seu desafeto Roberto Requião (PMDB) – “Com este nem converso mais”, disse –, mas levou Beto Richa (PSDB) aos louros da vitória na corrida para reeleição de prefeito em 2008.

O guru informal

Scalco, que é uma espécie de guru da campanha de Fruet, um conselheiro informal do prefeito – não admite, de jeito nenhum, estar na campanha diretamente –, conversou com a reportagem da Gazeta do Povo, por pouco mais de uma hora na Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas, onde atualmente se dedica às benfeitorias voluntárias como presidente da instituição.

A fala mansa e o agasalho esportivo não correspondem com seu passado enfiado dentro de ternos e gravatas apertadas, mas batem com sua postura de chutar o balde ao conversar sobre política brasileira e local.

É do tipo que bota o dedo na ferida. Talvez, por isso, tenha escolhido apoiar o prefeito e Fruet optado em ter um dos pais tucanos mais emblemáticos da história da sua antiga legenda por perto. “É um moço [Fruet] que tem respeitabilidade. Nada se diz do Gustavo. Podem reclamar que não fez muita coisa, mas nada mexeu moralmente ou eticamente com ele”, disse.

Seu antecedente tucano casa com o do prefeito, mas não aceita que sua proximidade no passado com adversários atuais sejam um empecilho. “Não tem problema porque todos os partidos não têm identidade alguma”, esquivou-se.

Contudo, reclama da incoerente aliança entre Richa e Rafael Greca (PMN). “Não dá para entender uma aliança do Beto com o Greca. A política não admite ziguezague”, mencionou.

“Não tenho nada a dizer”

O ex-cacique do PSDB passou 50 anos de sua vida no meio da política. Entre ajudar a eleger um presidente, um governador ou prefeito, foi deputado federal, mas o que lhe traz felicidade mesmo atualmente é trabalhar na Associação dos Amigos do HC. “Estou muito feliz porque estou participando de uma entidade como voluntário para dar atenção para os cidadãos vulneráveis, as crianças e adolescentes. São os menos protegidos”, destacou.

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A frase acima é quase tudo que a reportagem conseguiu arrancar sobre sua vida fora da carreira pública. Quase não fala sobre si. Não pretende ser biografado. “Eu não acho que tenha coisas para dizer”, desconversa, rindo.

Vai pelas manhãs até o Alto da Glória, onde está a sede da instituição. À tarde fica a mercê da família. Não disse o que realmente gosta de fazer. É leitor voraz de jornal. Mas não costuma ler apenas as colunas do FHC. Vai até São Paulo quando quer bater um papo com ele.

Dona Terezinha, sua esposa e companheira de 60 anos, tenta mantê-lo na linha. A entrevista estava marcada para acontecer em sua residência. Ele não estava lá. Ela, quando retornou do mercado, disse: “Deve ter esquecido”, explicou ela. Mas um compromisso de última hora o levou para a sede da Associação, onde atendeu a reportagem. “Ela ligou brigando comigo quando vocês passaram lá em casa”, disse Scalco no final da entrevista.

Há uma crise de identidade. O país não é mais o mesmo.

Euclides Scalco

O PT morreu como partido. Se o PT não tivesse cometido as barbaridades que cometeu não morreria. A gente esperava que conduziria a política na linha do que era pregado.

Hoje na minha avaliação não tem nenhum partido político que tenha condições de encampar mudanças da natureza que o país precisa.

A minha posição é sempre a mesma. Sou um social democrata. Para mim, o PSDB é igual aos outros partidos. Não tem rumo definido.

Você tinha no passado políticos como Franco Montoro, Ulysses Guimaraes, Jarbas Passarinho. Eram figuras de expressão que hoje não existem mais. Por aquilo que conheci da política, a única personalidade que tem nível (cultural e habilidade política), respeitabilidade, é o FHC.

O Aécio como presidente do partido não teve a posição que se esperava. Não digo que foi uma decepção, mas ele não teve a dimensão da importância do PSDB.

Coordenei campanhas do Osmar e, se ele for candidato a governador, terá meu apoio.

Fui próximo do Requião, quando fui presidente do MDB. Mas hoje, com Requião, nem converso.

Curitiba tem que investir principalmente em transporte urbano. É o grande problema. Nó difícil de resolver.

Acho que foi o maior erro recente da política paranaense. Houve uma pressão desmensurada por parte dos professores, mas a condução foi errada. Tinha que haver um diálogo com todos.

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