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Maria Victoria concedeu entrevista à rádio Bandews FM. | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
Maria Victoria concedeu entrevista à rádio Bandews FM.| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

A candidata do PP à prefeitura de Curitiba, Maria Victoria, falou nesta segunda-feira (29) à rádio Bandnews FM. Entre outros temas, respondeu sobre transporte coletivo, propôs que guardas municipais tivessem papel de educadores em escolas e falou do tamanho de sua campanha. O Livre.jor comparou para a Gazeta do Povo as respostas da candidata com os fatos.

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Gastos de campanha

“Essa é uma campanha sem dinheiro. Então, é sola de sapato, televisão e redes sociais.”

É mesmo?

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha de Maria Victoria arrecadou R$ 301 mil até esta segunda-feira (29). A maior fatia do dinheiro (88%) vem do diretório nacional do PP, partido de que o pai dela, o ministro Ricardo Barros, é tesoureiro-geral licenciado.

A arrecadação da campanha da pepista era, assim, a terceira maior entre os candidatos a prefeito – apenas Rafael Greca (PMN) e Gustavo Fruet (PDT) ostentavam valores maiores até a segunda-feira. Cabe lembrar, ainda, que a coligação costurada pelo PP garantiu a Maria Victoria o segundo maior tempo de televisão. E produzir os programas é uma grande despesa das campanhas.

Transporte coletivo 1

“Rompimento do contrato [com as empresas de ônibus] só [será feito] se for confirmada algum tipo de fraude. Do contrário, implica em uma paralisação relativamente longa, que vai atrapalhar muito o dia a dia de quem usa o transporte coletivo. E 74% das pessoas de Curitiba utilizam o transporte coletivo. O diálogo da prefeitura com as empresas é muito bem vindo. Hoje, há 180 ônibus circulando na cidade com mais de dez anos, que não deveriam estar circulando.”

A candidata derrapa nos números.

Uma pesquisa feita em 2012 para a Gazeta do Povo revelou que os ônibus eram o principal meio de transporte para 60% dos trabalhadores curitibanos. Se lembrarmos que, desde então, o sistema perdeu passageiros, é razoável supor que a proporção não subiu.

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Outro levantamento, este da Urbs, diz que os ônibus são responsáveis por 45% dos deslocamentos em Curitiba. Mas a empresa afirma que só será possível ter um número preciso com a conclusão pesquisa de origem e destino.

Sobre os ônibus vencidos, eles já eram 248 em julho passado, segundo documento enviado ao Livre.jor, via Lei de Acesso à Informação, pela Urbs. Os prefixos de cada um deles estão em documento na internet.

Transporte coletivo 2

“Não há transporte coletivo sem subsídio no Brasil. Por isso, o bom relacionamento com o governo estadual é fundamental para garantir o subsídio [à tarifa em Curitiba e região metropolitana].”

Errado!

Maria Victoria repete um erro já cometido em outra entrevista. O sistema de transporte coletivo de Curitiba funciona, atualmente, sem subsídio – ainda que com integração reduzida com a região metropolitana. E já funcionou, totalmente integrado e sem subsídio, até 2012, quando a tarifa técnica (quanto custa transportar cada passageiro) chegou a R$ 2,89 – a passagem, na catraca, custava R$ 2,60. Como esse valor era, segundo a Urbs, próximo da tarifa técnica da rede de Curitiba (R$ 2,62), mas muito aquém do custo da rede metropolitana (R$ 4,02), o governo do estado, sob Beto Richa (PSDB), ofereceu subsídio de R$ 64 milhões ao sistema. À época, Luciano Ducci (PSB), ex-vice prefeito de Richa, disputava a reeleição.

Curitiba não é exceção à regra. Até 2013, quando uma série de manifestações detonadas pelo custo das passagens de ônibus parou várias cidades do país (inclusive Curitiba), pouco se falava em subsídio ao transporte coletivo.

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“Em muitos países há um sistema de financiamento do transporte público que, em linhas gerais, cobre entre 40% e 50% dos custos dos sistemas. Os modelos são composições entre recursos provenientes de tributos e recursos gerados pela cobrança do sistema, o que contrasta com as cidades brasileiras onde, via de regra, o custo total dos sistemas costuma ser coberto exclusivamente pelo pagamento das passagens”, diz uma nota técnica produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em julho de 2013 – um mês após a onda de protestos.

A nota pode ser lida, na íntegra, no portal da Câmara dos Deputados.

Guarda Municipal nas escolas

“[Proponho] Utilizar também a Guarda Municipal para falar sobre violência, inclusive contra a mulher, e cidadania [nas escolas]. Não há nos currículos escolares a questão dos estudos sociais, onde se aprende seus direitos mas também seus deveres, e a GM poderia muito bem cumprir esse papel.”

Não é bem assim.

A matéria de Estudos Sociais, que abrangia História, Geografia e Organização Social e Política do Brasil (OSPB), foi instituída pelo Conselho Federal de Educação na Doutrina do Núcleo Comum, em 1971 – auge da ditadura militar. Mas seria injusto dizer que se trata de uma obra de um governo totalitário. A ideia surgiu, no Brasil, no final dos anos de 1920, no bojo do movimento norte-americano conhecido como Escola Nova, e constava de manifesto de 1932 assinado por educadores renomados – entre eles, Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando Azevedo. Um bom resumo está em reportagem da Revista de História da Bibioteca Nacional.

Hoje, segundo a Secretaria Municipal da Educação, Estudos Sociais não consta mais, como disciplina, do currículo escolar. Mas temas como direitos humanos e cidadania, sim, informa a Secretaria, via assessoria de imprensa. A propósito: o currículo do Ensino Fundamental em Curitiba está em reforma. Uma versão preliminar pode ser lida na internet.

De qualquer modo, cabe lembrar que a Guarda Municipal tem efetivo, em 2016, menor que em 2013. Maria Victoria apontou, ela mesma, a necessidade de ampliá-lo. Assim, é de se perguntar se a corporação teria condições de assumir um papel como o proposto – isso pra não questionar por que usar guardas na função que é dos professores.

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