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Padre Leocádio Zytkowski incentiva os fiéis da Igreja a participar dos processos de decisão: “a omissão é o maior pecado social”, diz. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Padre Leocádio Zytkowski incentiva os fiéis da Igreja a participar dos processos de decisão: “a omissão é o maior pecado social”, diz.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Grande parte dos 20 anos que o padre Leocádio Zytkowski dedicou ao sacerdócio ele também destinou às causas sociais e à política. Não à política formal, com cargos na administração pública, mas para que os fiéis das paróquias por onde passou se interessassem pelo processo político e se tornassem conscientes das decisões nas urnas. Tanto que já organizou três debates em três cidades diferentes – Curitiba, Almirante Tamandaré e Araucária.

Quando comandava a paróquia da Barreirinha em 2008, o pároco organizou um debate entre os candidatos à prefeitura da capital – quase todos os políticos participaram. No mesmo ano, juntou os candidatos à prefeitura de Almirante Tamandaré para debater propostas sobre emprego, moradia, saúde, educação e transparência.

Agora em 2016, já comandando a paróquia da Vila Angélica, em Araucária, o padre reuniu seis dos sete candidatos à prefeitura e conseguiu juntar 1,5 mil pessoas para ouvir o que cada um tinha a dizer. “O debate é a melhor forma de o povo ouvir e conhecer o candidato”, diz. “Eleger um prefeito e vereadores é entregar a chave da nossa casa para alguém. A nossa cidade é a nossa casa. E tem sempre alguém que merece o nosso voto.”

Para o pároco, participar da política deveria ser uma responsabilidade de todo cidadão – e também da igreja. “Até o Papa Francisco disse que a política é a melhor forma de caridade. É através da política que nós conseguimos mais justiça social”, afirma.

Depois do debate, vem a cobrança. O padre Leocádio conta que a pastoral já marcou uma reunião com o prefeito que será eleito neste domingo (2) para apresentar uma série de propostas realizadas por ele e pelos moradores e cobrar o comprometimento dele com a comunidade. “A população tem que estar atenta, cobrar e fiscalizar os representantes. E, se precisar, fazer protestos e se manifestar pelos seus direitos”.

Conquistas vieram

O padre Leocádio também já foi conhecido como “Padre da Corneta”, apelido que ganhou quando operou a “Rádio Corneta” na paróquia da Barreirinha. O objetivo da rádio, que funcionava na própria igreja, era falar à comunidade sobre o que acontecia na própria comunidade, buscar soluções para os problemas e até mesmo organizar protestos quando necessários. “Nós não podemos nos omitir diante das coisas erradas. O maior pecado social é a omissão”, opina, dizendo que, ao longo dos oito anos de trabalho na comunidade, uma série de vitórias foram conquistadas como a canalização do Rio Belém e a revitalização da Avenida Anita Garibaldi.

Desde que ingressou no Seminário, o padre Leocádio aprendeu que a posição da Igreja deve ser ativa, atuando em prol daqueles que tem menos. “Eu aprendi com os profetas da Bíblia que o papel da Igreja deve ser se comprometer com a justiça social. É uma coisa que está no sangue”, diz o sacerdote, contando que a primeira grande conquista foi a redução dos salários de vereadores na mesma Araucária onde nasceu assim que começou a carreira de padre, nos anos 90. “Na época, eles aumentaram o salário, duas, três vezes numa mesma legislatura. Entramos com uma ação pública e conseguimos diminuir os salários em 50%”, conta orgulhoso.

E problemas também

Com as conquistas, vieram os processos judiciais que já teve que encarar por conta da atuação - um deles por causa da “Rádio Corneta”. “A maioria das pessoas gostava, mas sempre tem alguém que se incomoda”, comenta o Padre Leocádio, dizendo que, mesmo com os percalços, não pretende desistir de participar e incentivar o sentimento político nos fiéis. “Se a política é suja, é porque nós cristãos não estamos comprometidos”, desabafa.

O sonho, para ele, é que cada vez mais pessoas participassem do processo político e se mobilizassem, mas sempre de uma forma pacífica. “Juntos nós podemos refletir e lutar por aquilo que o povo precisa. Sempre com os pés no chão”.

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