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Lula em discurso para a miltância do PT: ele foi chamado por aliados de “próximo presidente da República”. | Paulo Pinto/Agência PT
Lula em discurso para a miltância do PT: ele foi chamado por aliados de “próximo presidente da República”.| Foto: Paulo Pinto/Agência PT

A um ano e nove meses da eleição de 2018 e embalado por pesquisas que hoje o colocam na dianteira da corrida presidencial, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá cada vez mais sinais de que quer voltar ao Planalto. Tem participado de mais eventos públicos. Criticado o atual governo. E recentemente admitiu que pode disputar a Presidência “se for necessário”. A caminhada para Brasília, porém, passa necessariamente pela Justiça: ele terá de evitar uma condenação em segunda instância até o ano que vem.

A ala majoritária do PT incentiva a antecipação da candidatura, ainda que informal, e vê nela uma estratégia de sobrevivência e reposicionamento da legenda: resgatar desde já o legado de Lula na Presidência para limpar a imagem do partido e consolidar a sigla como uma opção às forças de sustentação do governo Temer. Mas há quem veja nessa movimentação um objetivo bem mais pragmático de Lula – criar um clima de pressão sobre a Justiça para que ele não seja condenado nos processos a que responde.

Veja a evolução dos números de Lula nas pesquisas eleitorais

Trabalho de limpeza

O diretório nacional do PT se reuniu na quinta (19) e sexta-feira (20) em São Paulo para discutir a realização do 6º Congresso Nacional do partido, marcado para abril. Uma ala do PT defendia que a antecipação da candidatura de Lula ocorresse já nesta semana, durante a reunião. Por enquanto, isso não ocorreu. Mas na quinta à noite, Lula foi tratado por aliados – como a senadora Gleisi Hoffmann (PR) – como o próximo presidente da República. Em discurso à militância, o ex-presidente deu o tom da estratégia do partido para este ano: “É um ano que eu quero me dedicar, de corpo e alma, para reconstruir e limpar a imagem desse partido”.

Blindagem

“[A possível antecipação da candidatura de Lula] é uma defesa política contra os problemas jurídicos que ele enfrenta. É uma tentativa de blindá-lo contra as investigações em andamento”, diz o cientista político Fernando Azevedo, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Lula responde na Justiça Federal a cinco processos referentes a investigações de corrupção – veja todas as acusações. Nenhum dos casos foi julgado até agora. Mas, se até o ano que vem Lula for condenado em primeira e segunda instância em alguma dessas ações, ele se torna ficha suja e não poderá concorrer na eleição.

Para Azevedo, com o lançamento antecipado da candidatura, qualquer condenação poderá ser interpretada como uma tentativa de tirá-lo da disputa presidencial – uma “perseguição política” no discurso do PT. Apesar das possíveis “segundas intenções” da antecipação da candidatura, Azevedo diz que Lula atualmente é único nome viável da esquerda para 2018.

O anticonservador

Petistas críticos à postura da direção partido em relação aos casos de corrupção também admitem reservadamente que as movimentações de Lula por sua candidatura até possam ser uma estratégia de defesa pessoal dele. Mas também dizem que a esquerda brasileira não têm alternativas viáveis no atual momento de crescimento do conservadorismo e do que consideram ser o desmonte das políticas sociais pelo governo Temer. Nesse cenário, dizem, Lula é alguém capaz de colocar em discussão outro projeto para o país – embora o lançamento de sua candidatura vá bloquear a construção de novas lideranças nacionais e reforçar o poder interno do grupo que “sujou” a reputação do PT.

De qualquer modo, a estratégia para ter Lula como candidato passa necessariamente por evitar que ele seja condenado. O diretor do Instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, diz que, se isso ocorrer, o ex-presidente passa a ser um candidato forte. Segundo Hidalgo, embora as atuais pesquisas mostrem que Lula lidera as intenções de voto no primeiro turno (25%, segundo o último Datafolha), ele teria extrema dificuldade para vencer no segundo turno porque sua rejeição é alta (44%).

“O Lula vai ter de provar que é inocente para reduzir a rejeição. Se conseguir, será muito forte em 2018”, diz o diretor do instituto. De acordo com Hidalgo, eventualmente ele não precisará nem mesmo ser absolvido. Caso apenas consiga adiar os julgamentos e oficialize a candidatura na Justiça Eleitoral, já terá obtido uma vitória. “Se o Lula for candidato, vai usar isso a favor dele na campanha. Ele vai dizer: ‘Viram? Disseram que eu era culpado, mas eu sou candidato’.”

Precipitação

Cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Adriano Oliveira diz que qualquer avaliação sobre a sucessão presidencial neste momento é precipitada. “A gente não sabe o que vai acontecer com a Lava Jato até 2018”, diz. Oliveira lembra que a maioria dos pré-candidatos, assim como Lula, foi citada nas investigações. O cientista político também vê riscos se Lula antecipar a corrida eleitoral: ele vai se expor e chamará a atenção para as acusações que pesam contra ele.

Murilo Hidalgo inclusive avalia que o atual cenário é muito mais favorável para um candidato de fora da política: “Alguém como o [João] Doria [prefeito de São Paulo], como o perfil dele”. Doria é empresário e nunca havia disputado uma eleição.

Réu cinco vezes

Confira quais são os cinco processos a que Lula responde na Justiça. Ele ainda não foi julgado em nenhum deles. A defesa do ex-presidente nega todas as acusações.

1. Compra do silêncio de Cerveró

Lava Jato

Quando virou réu: julho de 2016
O caso: Lula vira réu acusado de tentar obstruir a Justiça. Ele é acusado de comprar o silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, que decidius delator o esquema de corrupção na estatal.
Onde tramita: Justiça Federal de Brasília
Juiz responsável: Ricardo Augusto Leite, de Brasília.

2. Triplex do Guarujá

Lava Jato

Quando virou réu: setembro de 2016
O caso: Lula vira réu sob acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá e do armazenamento de seus bens pela empreiteira OAS.
Onde tramita: Justiça Federal do Paraná
Juiz responsável: Sergio Moro

3. Tráfico de influência no BNDES

Operação Janus

Quando virou réu: outubro de 2016
O caso: Lula tornou-se réu sob acusação dos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e organização criminosa em contratos internacionais do BNDES com a empreiteira Odebrecht.
Onde tramita: Justiça Federal de Brasília
Juiz responsável: Vallisney de Souza Oliveira

4. Compra de aviões

Operação Zelotes

Quando virou réu: dezembro de 2016
O caso: Lula vira réu pela quarta vez pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa na compra, pelo governo brasileiro, de 36 caças suecos do modelo Gripen.
Onde tramita: Justiça Federal de Brasília
Juiz responsável: Vallisney de Souza Oliveira

5. Vantagens indevidas

Lava Jato

Data: dezembro de 2016
O caso: Lula da Silva tornou-se réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sob acusação de vantagens indevidas conseguidas por meio de contratos firmados entre a Petrobras e a Odebrecht e de comandar um esquema para captar apoio parlamentar para projetos de interesses da empreiteira.
Onde tramita: Justiça Federal do Paraná
Juiz responsável: Sergio Moro

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