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Sergio Moro defendeu o engajamento contra a corrupção no país. | PAULO WHITAKER
Sergio Moro defendeu o engajamento contra a corrupção no país.| Foto: PAULO WHITAKER

O juiz federal Sergio Moro afirmou, na manhã desta segunda-feira (31) que o enfrentamento da corrupção pode ter um custo no curto prazo, mas que vale a pena. “No longo prazo, esse enfrentamento da corrupção sistêmica vai trazer ganhos a todos, porque o custo da corrupção sistêmica é algo extraordinário”, disse o juiz, que conduz as ações da Operação Lava Jato. Ele participa de evento promovido pela revista Exame.

O juiz argumentou que a corrupção prejudica a intenção do empresariado em investir no país, prejudica a concorrência livre entre empresas e também impacta a confiança da população nos mecanismos de transparência e Justiça.

Juiz rejeita ideia de que Lava Jato contribui para crise econômica

O juiz Sergio Moro rebateu nesta segunda-feira (31) que a operação Lava Jato – que investiga um amplo esquema de corrupção envolvendo estatais, órgãos públicos empreiteiras, partidos e políticos – seja culpada, mesmo em parte, pelo grave quadro econômico do país hoje.“O policial que descobre o cadáver não é culpado pelo homicídio”, argumentou Moro a uma plateia de empresários, em evento em São Paulo.

Em sua palestra, que tratou de corrupção sistêmica, Moro descreveu alguns dos custos diretos e indiretos gerados pelo pagamento de propina.

Citando a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, como exemplo de custos diretos, Moro afirmou que técnicos da Petrobras já disseram a ele que “mesmo que a refinaria opere em condições ótimas por toda sua vida útil, ela não se paga”.

O juiz disse que os custos indiretos da propina são ainda mais sérios, com a deterioração da confiança entre pessoas e também entre empresários, que se sentem prejudicados quando aqueles que participam de esquemas de corrupção levam vantagens no mercado.

Para Moro, encarregado dos processos decorrentes das investigações da Lava Jato, ainda há muito trabalho no país a ser feito contra a corrupção, além dessa operação.

“Não podemos confiar que o caso que está nas minhas mãos vai ser capaz de mudar isso”, referindo-se ao que classificou como quadro de corrupção sistêmica no Brasil. “Como país, não vamos conseguir ir muito longe com os custos da corrupção sistêmica.”

Ele destacou a “perda da autoestima” e da “dignidade” dos cidadãos brasileiros como o maior efeito negativo da corrupção. “É preciso que não só as instituições públicas, mas as instituições privadas e todos os cidadãos digam não a essas práticas, ao pagamento de propina. Os ganhos futuros serão muito maiores que os custos imediatos”, afirmou

Nas investigações específicas da Petrobras, Moro diz que os prejuízos à estatal vão além dos desvios e chegam a investimentos que não fazem sentido para a companhia. Ele citou como exemplo a refinaria Abreu e Lima, que segundo mostraram investigados na operação, nem em toda sua vida útil traria lucro ou sequer se pagaria.

Moro reiterou que, nas ações da Lava Jato, há indícios claros de corrupção sistêmica e destacou que o mais impressionante para ele é a “naturalização” do pagamento de propina evidenciado nas investigações.

Segundo o juiz, uma pergunta feita a um dos delatores sobre o porquê do pagamento de propina e da determinação dos porcentuais teve como resposta que essa era a “regra do jogo” e que tudo já estava “determinado”. “Há uma dificuldade de se esclarecer por que se pagava propina”, explicou.

No início da sua palestra, Moro destacou que a seu ver sempre haverá corrupção. “A corrupção como crime, como ato de desvio do ser humano, é um tipo de crime que sempre vai acontecer, remonta a tempos imemoriais, não importa o que façamos como instituições. A não ser que, num futuro muito distante nos transformemos todos em anjos”, ironizou, reforçando a importância de se fortalecer os mecanismos de investigação e Justiça. O juiz repetiu que não é a Lava Jato, como não foi a investigação do mensalão, que vai mudar o País, mas o fortalecimento das instituições.

Moro encerrou sua apresentação sugerindo que se aproveite esse momento em que a população está indo para as ruas. “Temos de aproveitar esse momento em que as pessoas deixam a condição de consumidoras para assumirem de cidadãs, algo muito raro na nossa democracia de massas”, disse pedindo que as pessoas não se acomodem. “É sempre mais escuro antes do amanhecer.”

Além de Moro, falarão no evento promovido pela Exame, nesta manhã, o ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes e o vice-presidente Michel Temer.

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