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| Foto: Alan Santos/PR

Os nomes que despontam no Brasil como possíveis representantes de uma candidatura populista para a eleição presidencial de 2018 terão como principal barreira a dificuldade de formar uma grande aliança partidária, necessária para ter um tempo maior de propaganda gratuita na TV.

A onda populista no mundo, que tem feito candidatos competitivos em países democráticos, tornou-se maior com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e tem gerado discussões sobre a chance de alguém com esse perfil aparecer com força em 2018 no Brasil. Um deles, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), ficou em terceiro em pesquisa encomendada pela CNT e divulgada em fevereiro, com 11,3% dos votos, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 30,5%, e a da ex-senadora Marina Silva (Rede), com 11,8%.

O cientista político Jairo Pimentel, especialista em comportamento eleitoral e professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp), acredita que Bolsonaro, por ter pouca força política para formar uma coligação numerosa, tende a morrer na praia. “Mesmo a Marina Silva, uma candidata mais competitiva, teve dificuldade de colocar sua mensagem no ar e responder aos ataques da campanha de Dilma Rousseff, por ter pouco tempo de TV”, disse.

Pimentel ressalta também que, com o fim do financiamento empresarial, a propaganda gratuita será ainda mais importante em 2018. “Sem recursos para fazer uma campanha ampla, os candidatos ficarão ainda mais dependentes da televisão”, disse, ressaltando a importância das coligações. Além disso, com a polarização entre PT e PSDB, algo que deve permanecer, os partidos pequenos tendem a orbitar em torno deles, reduzindo o leque de opções de alianças para figuras como Bolsonaro.

Os argumentos do cientista político explicam a vitória de João Doria para prefeito de São Paulo, por exemplo. O empresário, que durante a campanha tentou se diferenciar dos políticos tradicionais e frequentemente é comparado a Donald Trump, candidatou-se pelo PSDB e teve uma enorme coligação costurada pelo governador Geraldo Alckmin, que garantiu a Doria o maior tempo de televisão na campanha.

Para o cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências, a falta de tradição no Brasil de realização de primárias entre os partidos para definir seus candidatos, como ocorre nos EUA, também dificulta a ascensão de um nome como Trump. “As primárias abrem espaço para que um candidato visto como não tradicional possa se tornar conhecido e ganhe popularidade a tempo de chegar competitivo na eleição”, disse.

O analista Thomaz Favaro, da consultoria de risco político Control Risks, lembra também que Trump tornou-se viável eleitoralmente nos Estados Unidos com um discurso voltado para aspectos econômicos, como a criação de emprego. “No Brasil, ainda não se vê uma narrativa de fortalecimento político semelhante à que alçou Donald Trump à Casa Branca. Aqui, os discursos sobre retomada do crescimento econômico ainda são bastante centristas e combinam políticas econômicas relativamente ortodoxas”, afirma.

Fragmentação

Apesar destes eventuais entraves, os especialistas avaliam que uma alta fragmentação das candidaturas pode favorecer este perfil de candidato, na medida em que reduz a quantidade de votos necessários para garantir um lugar no segundo turno. “Com mais opções para os eleitores, os votos se dispersam e é possível que alguém com baixa votação avance para o segundo turno”, disse o cientista político Antonio Lavareda, citando o exemplo da eleição presidencial de 1989. A disputa daquele ano contou com 22 candidatos e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se candidatava pela primeira vez, passou para o segundo turno com 17% dos votos.

Na avaliação de Cortez, da Tendências, o campo da esquerda caminha para ter um alto grau de fragmentação, após o PT perder a liderança neste lado. Ele acredita que somente uma candidatura de Lula teria condições de aglutinar os partidos de esquerda em torno de um nome só. “A grande interrogação é na centro-direita. Se houver um candidato que represente o governo Temer, podemos ter um segundo turno com um nome de centro-esquerda e outro de centro-direita. Mas, com a fragmentação da centro-direita, é possível que Bolsonaro passe para o segundo turno, com cerca de 15% dos votos”, disse.

Lavareda sustenta que o grau de fragmentação das candidaturas vai depender da evolução do processo político até 2018, que deverá ser afetado pelas investigações da Operação Lava Jato, e o nível de sucesso do governo de Michel Temer. No primeiro ponto, nomes cotados para a disputa podem se inviabilizar em razão de denúncias, o que daria espaço a outros. No segundo, um fracasso do governo também daria espaço a candidatos que se proponham a salvar o país.

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