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Manter Vaccari como tesoureiro foi “tiro no pé”, diz especialista. | Antônio More/Gazeta do Povo
Manter Vaccari como tesoureiro foi “tiro no pé”, diz especialista.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

As últimas fases da Operação Lava Jato, que culminaram nas prisões do ex-deputado André Vargas (ex-PT) e do tesoureiro afastado da sigla João Vaccari Neto, começam a expor ainda mais a alta cúpula do partido. Em menos de dois anos, esse é o segundo tesoureiro da legenda a ser preso – o primeiro foi Delúbio Soares, por envolvimento no mensalão, em 2013. Já Vargas chegou a ocupar uma Secretaria Nacional da agremiação.

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As prisões fizeram movimentar até o ex-presidente Lula, numa tentativa de contenção da queda de prestígio do partido. A decisão foi de afastar Vaccari do cargo, mas a direção saiu em defesa do tesoureiro e considerou a prisão como “injustificada”. Atitude diferente teve o PT quando da divulgação das denúncias de envolvimento de Vargas com o doleiro Alberto Youssef – o ex-deputado acabou forçado a pedir desfiliação.

Prisão de Vaccari dá mais armas para a oposição

Se a Lava Jato já vinha dando combustível para a oposição criticar o PT desde o ano passado, agora, com a prisão de João Vaccari, primeiro dirigente do partido a ser afetado pelas denúncias, os partidos contrários à presidente Dilma Rousseff possuem ainda mais munição de ataque.

O momento é delicado para a legenda, como avalia o cientista político Mário Sérgio Lepre, da PUCPR. Mesmo com dois grandes protestos pedindo até mesmo a saída de Dilma da Presidência, a oposição vinha “pisando em ovos” quando perguntada sobre a ideia de impeachment. Agora, já começa a procurar brechas para embasar o pedido.

Para Lepre, porém, a oposição ainda age de maneira tímida, mesmo com o enfraquecimento constante do PT. “A gente percebe que o movimento anti-PT está partindo da sociedade, que está totalmente irritada com a situação do país. Mas é a oposição que deveria também representar esse movimento”, observa. (KB)

Para o cientista político Mário Sergio Lepre, da PUC-PR, as tentativas de reversão da imagem negativa do partido com as denúncias da Lava Jato são tímidas e, na maior parte das vezes, equivocadas. “O PT tem uma característica de tentar proteger seus companheiros, mas, no caso do Vaccari, foi um tiro no pé. Ele deveria ter sido afastado muito antes da prisão”, avalia. Lepre também acredita que o discurso de vitimização prejudica a cúpula do partido.

Na sexta-feira, por exemplo, o jornal Folha de S.Paulo divulgou o conteúdo de um documento assinado pelo presidente da legenda, Rui Falcão, afirmando que o PT é, desde o mensalão, alvo de “aberrações e violência jurídica”. No mesmo dia, o diretório nacional da legenda anunciou uma resolução política em que suspende o recebimento de doações de empresas privadas.

A prisão de Vaccari expõe ainda as doações eleitorais recebidas pelo PT. Desde que ele assumiu o posto na legenda, em 2010, o caixa do partido teve ascendência expressiva, mesmo em anos não eleitorais. Em 2009, por exemplo, o PT arrecadou R$ 11,2 milhões. Já em 2011 e 2013, também anos não eleitorais, o montante arrecadado foi de R$ 50,7 milhões e R$ 79,8 milhões, respectivamente – boa parte desse dinheiro veio de empresas investigadas na Lava Jato.

Para Lepre, essa situação compromete a imagem do PT e também a viabilização das próximas campanhas eleitorais do partido. “O problema é que essas denúncias vinculam o PT como ‘o partido da corrupção’. Já há um movimento para criar, nas próximas eleições, uma frente ampla de esquerda, na tentativa de se desvencilhar do PT.”

Nenhum dirigente petista atendeu às ligações da reportagem.

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