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A tensão provocada pelo tamanho da operação, a falta de homogeneidade da tropa e a pressão dos superiores contribuíram para que o confronto de ontem no Centro Cívico acabasse com mais de 200 feridos. Especialistas em segurança pública entrevistados pela Gazeta do Povo apontam que o número, por si, mostra que a preparação não foi eficiente.

Tiros, explosões e feridos no Centro Cívico; veja o vídeo

Por volta das 15h horas desta quarta-feira, policiais militares e manifestantes entraram em confronto na frente da Assembleia Legislativa. Imagens mostram que os policiais usaram bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e jatos de água contra os manifestantes.

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“Sempre que há tantos feridos é porque algo falhou”, diz o ex-secretário Nacional de Segurança Pública e coronel da reserva da PM de São Paulo, José Vicente da Silva Filho. Segundo ele, se for confirmado que houve mais de duas centenas de manifestantes e policiais que precisaram de atendimento médico, o confronto no Centro Cívico atingirá uma marca muito superior a de todas as manifestações de junho de 2013 e da Copa de 2014.

No episódio mais violento de 2013 (dia 13 de junho, na Av. Paulista), pouco mais de 100 pessoas se machucaram. Pelas informações a respeito do conflito desta quarta (29), o coronel destaca que não é comum o uso de cachorros, prática que teria sido banida há anos no controle de multidões em São Paulo. “Não é adequado porque os cães se irritam.” Silva Filho também destaca que a convocação de policiais de diversas cidades do interior pode ter afetado no padrão da operação. Segundo ele, treinamento e experiência pesam em momentos mais tensos.

Ex-coordenador-geral de Defesa Institucional da Polícia Federal, o delegado Daniel Sampaio explica que a preparação para o acompanhamento de manifestações precisa ser eficiente em duas frentes – primeiro na etapa de negociação, depois na da operação em si. “A primeira diretriz é colocar uma equipe de gerenciamento de negociação muito forte. Por que há confronto? Porque houve uma progressão das atitudes, que é mais fácil de ser contida preliminarmente com diálogo.”

Coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos da UFPR, Pedro Bodê, avalia que o perfil do comando teve impacto no comportamento dos policiais. “É reflexo de uma cadeia: um governador que não teve constrangimento em permitir o cerco da Assembleia, um secretário de Segurança conhecido pela truculência”, afirmou.

Bodê vê, por trás da ação policial, uma “orquestração” de todas as esferas públicas de poder para o uso da polícia em seu favor e contra o direito de manifestação. “Nesse modelo, a polícia nada mais é do que a guarda pretoriana do governador. E a polícia que é muito boa para reprimir protesto não consegue colaborar para reduzir a criminalidade.”

Também especialista em segurança pública, o cientista político da Universidade de Brasília Antonio Flávio Testa destaca que há um despreparo histórico para conter as manifestações no país. “Até 2013 havia aquela ideia dos tempos da ditadura, só da pancada. Começou a haver algo mais elaborado quando houve aquele susto na Copa das Confederações e percebemos que poderíamos passar vergonha na Copa.”

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