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Cachoeira (ao centro)  chega para depor na PF do Rio | Fernando Frazão/Agência Brasil/
Cachoeira (ao centro) chega para depor na PF do Rio| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil/

A Polícia Federal (PF) prendeu nesta quinta-feira (30) o bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, e o ex-diretor da empreiteira Delta Construções Cláudio Abreu e o lobista Adir Assad, que já havia sido condenado pela Lava Jato. Também é investigado o empresário Fernando Cavendish, ex-presidente da construtora Delta, contra quem foi expedido mandado de prisão. Cavendish não foi encontrado pela PF por estar em viagem ao exterior. Ele é considerado foragido. A ação da PF e do Ministério Público Federal (MPF) foi batizada de Operação Saqueador e apura desvios de dinheiro da Delta em contratos públicos – a PF ainda não informou quais seriam as obras sob suspeita.

Entre 2007 e 2012, a Delta teve mais de 96% de seu faturamento vindo de verba pública, algo em torno de R$ 11 bilhões. O esquema teria movimentado pelo menos R$ 370 milhões, que teriam sido lavados por Cachoeira por meio de 18 empresas de fachada. Segundo a PF, estas não existiam e os serviços não eram realizados; não existiam funcionários e a receita era incompatível com a despesa.

Responsável pela denúncia contra Fernando Cavendish e outros 22 alvos da Operação Saqueador, o procurador da República Leandro Mitidieri Figueiredo disse que os agentes públicos supostamente favorecidos com o esquema de lavagem da Delta serão alvo de outra investigação, desta vez conduzida pela recém-criada força-tarefa que investiga os desdobramentos da Lava Jato no Rio de Janeiro. Ele disse que a tendência das quadrilhas é mudar o modo de disfarçar o pagamento de propinas e não descarta o envolvimento de agentes políticos.

O juiz responsável pelo caso é Marcelo Bretas, da 7.ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro. É ele também que está à frente das ações da Eletronuclear, desmembramento da Lava Jato.

CPI do Cachoeira

A PF já havia deflagrado uma operação de mesmo nome e contra alguns dos mesmos alvos em 2013.

Tratou-se de um desdobramento de investigação iniciada a partir de documentos enviados pela CPI do Cachoeira, criada em abril de 2012 no Congresso para investigar as informações obtidas pela PF, por meio das operações Vegas e Monte Carlo, que indicaram o envolvimento de agentes públicos e privados com o empresário Carlinhos Cachoeira. As operações tinham como objetivo inicial investigar a exploração de jogos de azar.

Transferências milionárias

Estão sendo cumpridos mandados no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Goiás, expedidos pelo juiz federal Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Polícia Federal prendeu Cachoeira e Abreu em Goiânia, no condomínio de luxo Alphaville Cruzeiro do Sul. Eles foram levados para o Aeroporto Santa Genoveva, de onde seriam levado ao Rio.

“Foram verificados, até o momento, fortes indícios de transferências milionárias de recursos de referida empresa de engenharia para sociedades de fachada, possivelmente desviados de obras públicas. Para comprovação de tais desvios, está sendo realizada perícia contábil-financeira na sociedade investigada”, informa nota da PF. As investigações da PF duraram cerca de três anos e começaram a partir do envio de documentação pela CPI instaurada no ano de 2012 para investigar um grupo que atuava em Goiás.

De acordo com a Polícia Federal, a apuração levou ao indiciamento de 29 pessoas suspeitas de desvios de recursos federais destinados para diversas obras públicas. Com base no Inquérito Policial da PF, 23 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal (MPF).

“O material foi imprescindível para o início das investigações na medida em que tais informações nominaram as empresas de fachada que supostamente recebiam valores desviados da pessoa jurídica investigada no presente apuratório”, aponta a Federal. O investigados poderão responder pelo crime de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, peculato, entre outros.

Investigadores da Lava Jato auxiliaram na investigação já que o esquema também foi usado para lavar dinheiro. O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o uso de trechos da delação de executivos da Andrade Gutierrez.

Quem são os envolvidos

Carlinhos Cachoeira chegou a ser preso em 2012 na Operação Monte Carlo, acusado liderar uma quadrilha de jogos de azar em Goiás e no Distrito Federal. A ação desmontou a quadrilha, que mantinha contato e teria se beneficiado da relação com autoridades como o ex-senador Demóstenes Torres, que chegou a ser cassado devido ao seu envolvimento com o grupo. Carlinhos Cachoeira é alvo de diversos processos criminais na Justiça e já foi condenado a mais de 39 anos de prisão.

Cavendish ficou conhecido ao participar de uma festa luxuosa em Paris, em 2009, junto com o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, em que os dois usavam lenços brancos na cabeça. O empresário Adir Assad foi condenado pelo juiz Sergio Moro por ser um dos operadores de propina do esquema de fraude, corrupção e desvio de dinheiro descoberto na Petrobras.

Outro lado

Procurado, o advogado Miguel Pereira Neto classificou como desnecessária a detenção de seu cliente, Adir Assad, que já cumpria pena em prisão domiciliar.

De acordo com ele, não há nenhum episódio novo em relação aos fatos descobertos pelas operações Lava Jato e Monte Carlo que justifiquem a detenção. A defesa entrará com pedido de habeas corpus ainda nesta quinta.

“O Supremo Tribunal Federal já havia se entendido que a reclusão de Adir não era necessária. Não faz nenhum sentido prendê-lo no momento em que estava num regime de restrição de direitos, sem que tenha surgido algo novo”, argumentou.

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