• Carregando...
Para o Planalto, a devolução da MP foi uma tentativa de dividir as atenções num dia em que o nome de Renan apareceu ligado à operação Lava-Jato | UM/XG/UESLEI MARCELINO
Para o Planalto, a devolução da MP foi uma tentativa de dividir as atenções num dia em que o nome de Renan apareceu ligado à operação Lava-Jato| Foto: UM/XG/UESLEI MARCELINO

O Palácio do Planalto avalia que a atitude do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de devolver a medida provisória (MP) 669 — que anula o programa de desoneração da folha de pagamento das empresas — foi um ato isolado e uma tentativa de dividir as atenções num dia em que seu nome apareceu ligado ao escândalo de corrupção da operação Lava-Jato. Renan e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já foram avisados de que seus nomes estão na lista de 54 pessoas que foi encaminhada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) com pedido de abertura de inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF) por envolvimento na Lava-Jato.

Dilma recebe base aliada no Planalto, mas exclui Temer

Dois dias depois de ouvir em jantar com o PMDB o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dizer que ela precisa receber mais os líderes da base, a presidente Dilma Rousseff se reúne na manhã desta quarta-feira com líderes aliados no Senado e da Câmara. As reuniões não contam com a presença do vice-presidente Michel Temer, que ficou incomodado com a exclusão. Aliados de Temer consideraram a postura de Dilma um “erro grosseiro de relação política” , num momento em que o governo está fragilizado e necessitando de apoio.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) saiu do encontro relatando que essas reuniões serão mensais e que, a partir de agora, o governo ouvirá mais os aliados antes de enviar matérias ao Congresso.

Segundo participantes do encontro desta quarta-feira, Dilma transpareceu “tranquilidade” e “humildade”. Na conversa, Dilma pediu unidade pela aprovação das medidas de ajuste fiscal, e reconheceu que é preciso estabilizar a relação com os aliados porque os problemas políticos estão afetando a economia.

Na reunião, foi considerada “muito ruim” a devolução da MP da desoneração por Renan, na semana em que estão no Brasil representantes das agências de risco. O governo está preocupado com o rebaixamento do investimento por conta das turbulências na economia e pelas investigações na Petrobras. “Estamos vivendo uma crise de grandes especulações políticas que criam um ambiente ruim e afetam a economia” , resumiu um aliado sobre a conversa com Dilma.

A presidente disse aos deputados que, se aprovadas as medidas encaminhadas por ela ao Congresso, a partir de junho o cenário econômico começará a reagir e, gradativamente, melhorar.

Antes, na reunião com os senadores aliados, a presidente comentou a valorização do dólar, que está quase R$ 3. Disse que neste patamar, ajuda nas exportações e que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio está finalizando um plano nacional de exportações que será lançado nas próximas semanas. Ela também disse que a próxima medida encaminhada pelo governo será o fim da cumulatividade do PIS/Cofins.

No jantar com os peemedebistas, na noite de segunda-feira, o vice-presidente Michel Temer reclamou por ficar sabendo das medidas do governo pelos jornais. Ele se referiu à proposta de desoneração da folha, anunciada na sexta-feira passada pela equipe econômica, e que o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolveu ontem ao governo. No jantar, a presidente se comprometeu a realizar reuniões semanais com integrantes da base para debater os assuntos do governo.

A relação do Palácio do Planalto com o Congresso está tensionada. Ontem, após ser informado de que está na lista dos investigados na Operação Lava-Jato, o presidente do Senado e do Congresso tomou sua decisão política mais drástica contra o governo: devolveu a Medida Provisória (MP) 669. A decisão foi considerada uma bomba pela equipe econômica. O governo agora teme reação das agências de risco.

Além da presidente, estão no encontro no Palácio do Planalto os ministros Aloizio Mercadante e Pepe Vargas. Os senadores são: Humberto Costa (PT-PE), Blairo Maggi (PR-MT), Omar Aziz (PSD-AM), Vanessa Graziottin (PCdoB-AM), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Eunício Oliveira (PMDB-CE), Benedito de Lira (PP-AL), Acir Gurgacz (PDT-RO) e José Pimentel (PT-CE).

Ao chegar ao Senado, Renan Calheiros disse que não foi comunicado pelo Palácio do Planalto e nem por ninguém sobre sua inclusão na lista do Ministério Público. Renan disse que agora, em seu gabinete, vai se informar dos fatos para dar novas declarações. “Desde logo, não fui comunicado por ninguém. E acredito que o Eduardo (Cunha) também não. Nem pelo Planalto”, disse Renan.

O ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas, disse nesta quarta-feira que o governo não tem possibilidade de tirar nem colocar ninguém na “lista de Janot”. Segundo Pepe, tal interferência seria uma demonstração de que o Ministério Público não é independente, o que, segundo ele, não é verdade. Pepe disse ainda que ao governo não interessa que o Congresso saia mais fraco desse episódio.

“Não há nenhuma possibilidade de o governo incluir ou tirar alguém da lista. Até porque isso significaria fazer uma especulação de que o Ministério Público possa ser influenciado e não teria autonomia e independência. E também não é verdade que o governo tenha a intenção na fragilização do Congresso. Muito antes pelo contrário”, afirmou Pepe.

O ministro falou com jornalistas ao fim dos dois encontros do qual participou entre a presidente Dilma Rousseff e os líderes dos partidos da base do governo na Câmara e no Senado. Na entrevista, ele deu o tom do estremecimento que a devolução da MP pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), causou nas relações do aliado com o governo. “(Renan) faz parte de um partido da base, nós não consideramos o presidente Renan um adversário, consideramos o presidente Renan um parlamentar e um presidente do Senado, que faz parte do partido do vice-presidente da República, que faz parte dos partidos que compõem o nosso governo. Se estremece ou não estremece relação, o que nós temos que fazer é dialogar com ele. Se alguém tem insatisfação só tem um jeito: é sentar, conversar e ouvir eventualmente essas insatisfações”, disse.

Pepe, que é responsável pela articulação política do governo, afirmou que não foi avisado previamente sobre a ação de Renan. Partiu do ex-líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR) a iniciativa de alertar o ministro sobre a iminência desse ato. Renan preferiu avisar os líderes da base a informar o Planalto sobre a devolução da MP.

Pepe ligou para Renan, mas não conseguiu falar com ele. O ministro havia conversado ontem pela manhã com o peemedebista, mas não foi avisado. Desde então os dois não se falaram.

Na mesma linha, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, minimizou a devolução da MP por Renan. Segundo ele, a iniciativa não prejudica as intenções do governo de promover o ajuste fiscal.

“ Não há nenhum comprometimento. O governo toma iniciativas através de projetos de lei. Vivemos desafios fiscais que, em curto prazo, serão superados e vão colaborar para uma grande estratégia de crescimento econômico e geração de emprego no país. O governo está muito confiante na aprovação dessas medidas”, disse Rossetto, em rápida entrevista após reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), no Palácio do Planalto.

Ontem mesmo, depois que Renan anunciou que devolveria a MP 669 para o Planalto, o governo informou por meio de nota oficial que encaminharia um Projeto de Lei com pedido de urgência com o mesmo conteúdo da MP, aumentando as alíquotas de desoneração da folha de pagamento. Na nota, o governo diz que a substituição da MP pelo projeto de lei não trará prejuízos ao ajuste fiscal.

Segundo interlocutores, o governo ainda trabalha com a possibilidade de o projeto ser aprovado em tempo suficiente para ajudar a reforçar as receitas e realizar a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país).

Caso isso não ocorra, afirmam os interlocutores, o governo ainda pode lançar mão de novas medidas. Uma delas, por exemplo, é aumentar o tamanho do contingenciamento que será feito no Orçamento da União.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]