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Eduardo Cunha, Michel Temer e Renan Calheiros: Do triunvirato peemedebista, apenas o presidente do Senado não tem interesse em se candidatar à Presidência. | GABRIELA KOROSSY/Câmara dos Deputados
Eduardo Cunha, Michel Temer e Renan Calheiros: Do triunvirato peemedebista, apenas o presidente do Senado não tem interesse em se candidatar à Presidência.| Foto: GABRIELA KOROSSY/Câmara dos Deputados

Em pé-de-guerra com o PT, o PMDB decidiu usar a tese de candidatura própria como válvula de escape para 2018. Com o maior número de prefeitos, governadores, deputados e senadores do país, o partido ensaia se posicionar como a alternativa de “concertação nacional” para o fim da crise política e econômica. Por trás da estratégia, três nomes tentam se viabilizar – o vice-presidente Michel Temer, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.

Alvaro e Requião já tentaram se candidatar

O histórico de disputas internas do PMDB em busca de um candidato a presidente conta com dois personagens paranaenses.

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O primeiro ato público de consolidação do plano está marcado para outubro. A legenda pretende realizar em Brasília a maior convenção partidária da história, com mais de cinco mil filiados. “Vamos aproveitar o evento para revitalizar o estatuto do partido, apresentar pesquisas e propostas de revitalização do PMDB nacional”, conta o chefe de gabinete de Temer na Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Rodrigo Rocha Loures.

Enquanto isso, a sigla permanece envolvida em sua maior especialidade – a batalha de poder nos bastidores de Brasília. Reportagem da revista britânica The Economist, publicada no fim de semana, descreve que Temer já ocupa parcialmente o papel de “primeiro-ministro” do país. A cada vez que Cunha ou o presidente do Senado, Renan Calheiros, aumentam o tom da rebelião contra a presidente Dilma Rousseff, o vice ganha força como “moderador”.

“Se você olhar os passos do PMDB, especialmente as propagandas partidárias recentes, vai perceber que o partido está preparando o caminho para que o Temer assuma. Seja pela queda da Dilma, seja pela eleição de 2018”, diz o especialista em comunicação política Carlos Manhanelli. Segundo ele, há sinais claros de que o partido tenta se descolar do PT e mostrar que “pensa o Brasil” de forma diferente.

Se a aposta final forem as urnas, falta combinar com o eleitor. Nenhum peemedebista foi sequer mencionado em pesquisas feitas recentemente sobre a sucessão presidencial. “Fala-se em Paes e Cunha, mas no fundo o único que poderia alcançar sucesso seria o próprio Temer – e ainda assim dependendo de inúmeros outros fatores”, conclui Manhanelli.

Se os números comprovam o gigantismo do PMDB em quase todas as esferas políticas, por outro lado a legenda nunca foi uma potência nas eleições presidenciais e só chegou ao Palácio do Planalto pela porta dos fundos. Vice de Tancredo Neves, José Sarney era um dissidente do PDS que virou peemedebista de última hora. O mesmo aconteceu com Itamar Franco, que se elegeu como vice de Fernando Collor em 1989 pelo PRN e, após o processo de impeachment, em 1992, assumiu o governo pelo PMDB.

Nas duas vezes em que lançou candidato próprio, o partido não superou 5% de votos. Em 1989, Ulysses Guimarães, apesar do protagonismo na Constituinte, ficou apenas em sétimo lugar, com 4,73%. Em 1994, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia ficou em quarto, com 4,38%.

“A verdade é que o PMDB não tem vocação para presidir o país”, avalia o sociólogo Rudá Ricci, da Universidade Federal de Minas Gerais. A tese é de que o partido, apesar da capilaridade de suas bases eleitorais, jamais conseguiu se inserir na vida das pessoas. “Todo mundo sabe quem é o PMDB, mas ninguém sabe o que o partido pensa sobre economia, educação, saúde.”

A característica “amorfa” do partido também é tema do livro Imobilismo em Movimento (2013), do filósofo e professor da Universidade de Campinas, Marcos Nobre. Na visão de Nobre, todo o sistema político brasileiro se afunilou para o “pemedebismo”, que impede qualquer transformação profunda na política brasileira. O “pemedebismo”, segundo ele, é regido por cinco pontos, sendo dois principais: o governismo (apoio a qualquer presidente, de qualquer partido) e a formação de supermaiorias legislativas (sustentar um enorme bloco parlamentar de apoio ao governo em nome da “governabilidade”).

“Por essas e outras talvez a melhor definição do PMDB tenha sido apresentada pelo FHC nos anos 1990: o partido é como um ônibus, que aceita todo tipo de passageiro, mas que não tem um motorista”, cita Ricci.

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