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Em busca de uma saída política: Renan tem sido isolado pelo Planalto nas negociações no Congresso e tenta se reposicionar. | Ueslei Marcelino/Reuters
Em busca de uma saída política: Renan tem sido isolado pelo Planalto nas negociações no Congresso e tenta se reposicionar.| Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Renan Calheiros não é mais aquele. Renascido das cinzas após o escândalo Mônica Veloso com ajuda do PT, o presidente do Senado desistiu de ser o fiel da governabilidade petista no Congresso Nacional. Só na última semana, impôs o vexame da primeira rejeição na história de um embaixador indicado pela Presidência da República, quase repetiu o mesmo com a apreciação do paranaense Luiz Edson Fachin para o Supremo Tribunal Federal (STF) e complicou a votação da medida provisória que restringe o acesso a benefícios trabalhistas (alicerce do ajuste fiscal de Dilma Rousseff).

Nos corredores do Congresso, a opinião é unânime: o peemedebista está incomodado e quer demonstrar esse sentimento. “O governo começou a tratar o Renan como um devedor de favores, enquanto paparica o Eduardo Cunha [presidente da Câmara dos Deputados], que sempre fez questão de espezinhar o Planalto”, diagnostica um parlamentar da cúpula do PMDB. Como em um acidente de avião, outros apostam em uma composição de fatores que levaram à explosão dos ânimos do senador.

“Renan está passando por uma situação de pressão muito grande, pelas denúncias contra ele [é um dos investigados na Operação Lava Jato], pela Câmara ter imprimido um ritmo de independência e pelo desgaste político do próprio governo”, avalia a senadora paranaense Gleisi Hoffmann (PT), que também faz parte da lista de parlamentares citados em desvios na Petrobras. Segundo ela, no entanto, Renan sempre foi um “grande aliado” do “projeto político” que uniu petistas e peemedebistas a partir do segundo mandato de Lula.

Nesse alinhamento de problemas que assombram Renan, um vem de dentro do próprio PMDB. A rebeldia se agravou há um mês e meio, quando o vice-presidente Michel Temer assumiu a articulação política do governo. Nove dias depois, Dilma trocou um aliado do senador, Vinícius Lages, pelo ex-presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), no comando do Ministério do Turismo.

“Renan está se sentindo abandonado pelo governo, principalmente porque o Temer puxou todo processo de negociação com o Congresso para as mãos dele”, diz um ex-senador do PMDB, próximo do alagoano. “A questão é que o poder de influência do Temer é muito mais centralizado na Câmara do que no Senado, o que é um erro de cálculo do Planalto.”

Trajetória

A relação dívida-crédito entre Renan e o Planalto é complexa. Ex-ministro da Justiça na gestão Fernando Henrique Cardoso, Renan foi eleito presidente do Senado pela primeira vez em 2005, no final do primeiro mandato de Lula. Em 2007, graças ao entrosamento com os petistas, conquistou uma reeleição tranquila.

Até que, meses depois, foi pivô de um furacão de denúncias que envolviam uma filha fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso. Renan não conseguiu comprovar de onde vinham os recursos para pagar a pensão da menina (que eram entregues pelo lobista de uma construtora), mas escapou duas vezes da cassação em plenário.

Renunciou ao cargo para encerrar a polêmica, recomeçou por baixo e, em 2013, novamente com o apoio do PT, voltou à presidência do Senado. Em dezembro do ano passado, foi fundamental para a aprovação da proposta que derrubou a meta de superávit fiscal, que livrou Dilma de responder por um rombo bilionário no orçamento. Em fevereiro deste ano, reelegeu-se novamente para a presidência do Senado, em uma disputa contra Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC).

Na prática, a parceria com os petistas começou a ruir a partir dessa vitória. “Sem o Renan, o cotidiano do governo no Congresso tem sido pragmático como aquele lema dos Alcoólicos Anônimos, um dia de cada vez”, diz o deputado João Arruda (PMDB-PR).

Novo rebelde

Movimentações recentes de Renan Calheiros que demonstram o rompimento com o governo Dilma Rousseff:

MP devolvida

Um mês após tomar posse no novo mandato como presidente do Senado, Renan devolveu ao Planalto a medida provisória que revisava as regra de desoneração da folha de pagamento. Na ocasião, o senador peemedebista disse que “não é saudável aumentar impostos por medidas provisórias” e que “isso é reduzir o papel do Congresso”.

Patriota e Fachin

Renan aproveitou o clima ruim entre a base aliada e “jogou aos leões” a indicação de Guilherme Patriota para o cargo de embaixador na Organização dos Estados Americanos (OEA). Irmão do ex-ministro Antonio Patriota e visto como “bolivariano”, ele foi rejeitado. Renan também tentou barrar o paranaense Luiz Edson Fachin no STF, mas não conseguiu.

Ajuste adiado

Enquanto o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), se esforçava para agilizar a discussão sobre a medida provisória que restringe o acesso a benefícios trabalhistas, na semana passada, Renan liberou os 20 parlamentares inscritos para discursar sem limite de tempo. Com medo de que o quórum caísse após o falatório, restou ao governo o adiamento da votação para esta semana.

Aliança com Cunha

Após um período de relações estremecidas com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Renan voltou às boas com o colega. Os dois articulam um pacote de medidas indigestas para o governo, tal como uma lei para dar ao Congresso mais poder para controlar gastos, investimentos e indicações políticas das empresas estatais.

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