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Ex-presidente José Sarney foi gravado em conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. | Gustavo Lima/Senado
Ex-presidente José Sarney foi gravado em conversa com Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.| Foto: Gustavo Lima/Senado

A possibilidade de a empreiteira Odebrecht fazer uma delação premiada na Operação Lava Jato foi considerada “uma metralhadora de [calibre] ponto 100” pelo ex-presidente José Sarney em conversa gravada por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.

Sarney relacionou a empresa a uma ação que a presidente Dilma Rousseff, afastada do mandato pelo Senado, teria feito durante a campanha eleitoral.

“Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela [Dilma] está envolvida diretamente é que falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível]”, diz Sarney na conversa.

O ex-presidente também comentou que os escândalos na Petrobras revelados pela Lava Jato eram responsabilidade do governo:

“Esse negócio da Petrobras, só os empresário que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?”, questionou.

Em resposta, Sérgio Machado disse que Lula havia acabado. “O Lula acabou, o Lula, coitado, deve estar numa depressão”, concordou Sarney que, na sequência, disse que Lula não recebeu solidariedade de Dilma: e criticou o juiz Sergio Moro: “Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro perseguindo por besteira”.

Os trechos do diálogo entre Sarney e Machado foram publicados pelo jornal Folha de S.Paulo. O ex-presidente é o terceiro político a ser gravado por Machado, depois do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que foi exonerado do ministério do Planejamento quando o áudio tornou-se público, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

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A eventual delação premiada da Odebrecht já havia sido mencionada por Renan, em áudio, após ser instigado por Machado. O presidente do Senado concordou com a afirmação de Machado de que a empresa “vai tacar tiro no peito dela, não tem mais jeito”, em referência à Dilma. Renan respondeu: “Tem não, porque vai mostrar as contas”.

Leia a seguir a transcrição das conversas entre José Sarney e Sérgio Machado publicada pela Folha de S.Paulo.

Primeira conversa

SARNEY - Olha, o homem está no exterior. Então a família dele ficou de me dizer quando é que ele voltava. E não falei ontem porque não me falou de novo. Não voltou. Tá com dona Magda. E eu falei com o secretário.

MACHADO - Eu vou tentar falar, que o meu irmão é muito amigo da Magda, para saber se ele sabe quando é que ela volta. Se ele me dá uma saída.

MACHADO- Presidente, então tem três saídas para a presidente Dilma, a mais inteligente...

SARNEY - Não tem nenhuma saída para ela.

MACHADO -...ela pedir licença.

SARNEY - Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem parlamentarismo com ela.

MACHADO - Tem que ser muito rápido.

SARNEY - E vai, está marchando para ser muito rápido.

MACHADO - Que as delações são as que vem, vem às pencas, não é?

SARNEY - Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100.

MACHADO - Olha, acabei de sair da casa do nosso amigo. Expliquei tudo a ele [Renan Calheiros], em todos os detalhes, ele acha que é urgente, tem que marcar uma conversa entre o senhor, o Romero e ele. E pode ser aqui... Só não pode ser na casa dele, porque entra muita gente. Onde o se nhor acha melhor?

SARNEY - Aqui.

MACHADO - É. O senhor diz a hora, que qualquer hora ele está disponível, quando puder avisar o Romero, eu venho também. Ele [Renan] ficou muito preocupado. O sr. viu o que o [blog do] Camarotti botou ontem?

SARNEY- Não.

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MACHADO - Alguém que vazou, provavelmente grande aliado dele, diz que na reunião com o PSDB ele teria dito que está com medo de ser preso, podia ser preso a qualquer momento.

SARNEY- Ele?

MACHADO - Ele, Renan. E o Camarotti botou. Na semana passada, não sei se o senhor viu, numa quinta ou sexta, um jornalista aí, que tem certa repercussão na área política, colocou que o Renan tinha saído às pressas daqui com medo dessa condição, delações, e que estavam sendo montadas quatro operações da Polícia Federal, duas no Nordeste e duas aqui. E que o Teori estava de plantão... Desculpe, presidente, não foi quinta não. Foi sábado ou domingo. E que o Teori estava de plantão com toda sua equipe lá no Ministério e que isso significaria uma operação... Isso foi uma... operação que iria acontecer em dois Estados do Nordeste e dois no sul. Presidente, ou bota um basta nisso... O Moro falando besteira, o outro falando isso. [inaudível] ‘Renan, tu tem trinta dias que a bola está perto de você, está quase no seu colo’. Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que esteja, ele ainda tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E ela perdeu toda... [...] Como é que a presidente, numa crise desse tamanho, a presidente está sem um ministro da Justiça? E não tem um plano B, uma alternativa. Esse governo acabou, acabou, acabou. Agora, se a gente não agir... Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez.

SARNEY - Eles sabem que eles não vão se safar.

MACHADO - E não tinham essa consciência. Eles achavam que iam botar tudo mundo de bandeja... Então é o momento dela para se tentar conseguir uma solução a la Brasil, como a gente sempre conseguiu, das crises. E o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o senhor é o que tem a melhor cabeça. Tem que construir uma solução. Michel tem que ir para um governo grande, de salvação nacional, de integração e etc etc etc.

SARNEY- Nem Michel eles queriam, eles querem, a oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas condições.

MACHADO - Não tem outa alternativa. Eles vão ser os próximos. Presidente: não há quem resista a Odebrecht.

SARNEY - Mas para ver como é que o pessoal..

MACHADO - Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo mundo se cagando. Então ou a gente age rápido. O erro da presidente foi deixar essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda a classe política para o saco. Não pode ter eleição agora.

SARNEY - Mas não se movimente nada, de fazer, nada, para não se lembrarem...

MACHADO - É, eu preciso ter uma garantia

SARNEY - Não pensar com aquela coisa apress... O tempo é a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar você voltar para lá [Curitiba]

MACHADO - Só isso que eu quero, não quero outra coisa.

SARNEY - Agora, não fala isso.

MACHADO- Vou dizer pro senhor uma coisa. Esse cara, esse Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu falar. Ou se não falar, vai botar para baixo. Essa é a ameaça, presidente. Então tem que encontrar uma... Esse cara é muito mau caráter. E a crise, o tempo é a nosso favor.

SARNEY - O tempo é a nosso favor.

MACHADO - Por causa da crise, se a gente souber administrar. Nosso amigo, soube ontem, teve reunião com 50 pessoas, não é assim que vai resolver crise política. Hoje, presidente, se estivéssemos só nos três com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se reunindo 50 pessoas, chamar ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é essa que o senhor falou é isso, só tem essa, parlamentarismo. Assegurando a ela e o Lula que não vão ser... Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo com o Supremo, etc, e fazer, a bala de Caxias, para o país não explodir. E todo mundo fazer acordo porque está todo mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora, isso tem que ser feito rápido. Porque senão esse pessoal toma o poder... Essa cagada do Ministério Público de São Paulo nos ajudou muito.

SARNEY - Muito.

MACHADO - Muito, muito, muito. Porque bota mais gente, que começa a entender... O [colunista da Folha] Janio de Freitas já está na oposição, radicalmente, já está falando até em Operação Bandeirante. A coisa começou... O Moro começou a levar umas porradas, não sei o quê. A gente tem que aproveitar ess... Aquele negócio do crime do político [de inação]: nós temos 30 dias, presidente, para nós administrarmos. Depois de 30 dias, alguém vai administrar, mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias. Ele tem sorte. Com o medo do PSDB, acabou com el,e no colo dele, uma chance de poder ser ator desse processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que entrar com a inteligência que não tem. E experiência que não tem. Como é que você faz reunião com o Lula com 50 pessoas, como é que vai querer resolver crise, que vaza tudo...

SARNEY - Eu ontem disse a um deles que veio aqui: ‘Eu disse, Olhe, esqueçam qualquer solução convencional. Esqueçam!’.

MACHADO - Não existe, presidente.

SARNEY- ‘Esqueçam, esqueçam!’

Machado - Eu soube que o senhor teve uma conversa com o Michel.

SARNEY - Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos não é ele que...

MACHADO - Temos que fazer um governo, presidente, de união nacional.

SARNEY - Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo isso ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em delação premiada.

MACHADO - Não estão falando.

SARNEY - Até falando isso para saber até onde ele vai, onde é mentira e onde é valorização dele.

MACHADO - Não é valoriz... Essa história é verdadeira, e não é o advogado querendo, e não é diretamente. É [a PGR] dizendo como uma oportunidade, porque ‘como não encontrou nada...’ É nessa.

SARNEY - Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem meter advogado no meio.

MACHADO - Não, advogado não pode participar disso, eu nem quero conversa com advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero advogado nessa conversa.

SARNEY - Sem meter advogado, sem meter advogado, sem meter advogado.

MACHADO - De jeito nenhum. Advogado é perigoso.

SARNEY- É, ele quer ganhar...

MACHADO - Ele quer ganhar e é perigoso. Presidente, não são confiáveis, presidente, você tá doido? Eu acho que o senhor podia convidar, marcar a hora que o senhor quer, e o senhor convidava o Renan e Romero e me diz a hora que eu venho. Qual a hora que o senhor acha melhor para o senhor?

SARNEY - Eu vou falar, já liguei para o Renan, ele estava deitado.

MACHADO - Não, ele estava acordado, acabei de sair de lá agora.

SARNEY - Ele ligou para mim de lá, depois que tinha acordado, e disse que ele vinha aqui. Disse que vinha aqui.

MACHADO - Ele disse para o senhor marcar a hora que quiser. Então como faz, o senhor combina e me avisa?

SARNEY - Eu combino e aviso.

[...]

MACHADO - O Moreira [Franco] está achando o quê?

SARNEY - O Moreira também tá achando que está tudo perdido, agora, não tem gente com densidade para... [inaudível]

MACHADO - Presidente, só tem o senhor, presidente. Que já viveu muito. Que tem inteligência. Não pode ser mais oba-oba, não pode ser mais conversa de bar. Tem que ser conversa de Estado-Maior. Estado-Maior analisando. E não pode ser um [...] que não resolve. Você tem que criar o núcleo duro, resolver no núcleo duro e depois ir espalhando e ter a soluç... Agora, foi nos dada a chave, que é o medo da oposição.

SARNEY - É, nós estamos... Duas coisas estão correndo paralelo. Uma é essa que nos interessa. E outra é essa outra que nós não temos a chave de dirigir. Essa outra é muito maior. Então eu quero ver se eu... Se essa chave... A gente tendo...

MACHADO - Eu vou tentar saber, falar com meu irmão se ele sabe quando é que ela volta.

SARNEY - E veja com o advogado a situação. A situação onde é que eles estão mexendo para baixar o processo.

MACHADO - Baixar o processo, são duas coisas [suspeitas]: como essas duas coisas, Ricardo, que não tem nada a ver com Renan, e os 500, que não tem nada a ver com o Renan, eles querem me apartar do Renan...

SARNEY - Eles quem?

MACHADO - O Janot e a sua turma. E aí me botar pro Moro, que tem pouco sentido ficar aqui. Com outro objetivo.

SARNEY - Aí é mais difícil, porque se eles não encontraram nada, nem no Renan nem no negócio, não há motivo para lhe mandar para o Paraná.

MACHADO - Ele acha que essas duas coisas são motivo para me investigar no Paraná. Esse é io argumento. Na verdade o que eles querem é outra coisa, o pretexto é esse. Você pede ao [inaudível] para me ligar então?

SARNEY - Peço. Na hora que o Renan marcar, eu peço... Vai ser de noite.

MACHADO - Tá. E o Romero também está aguardando, se o senhor achar conveniente.

SARNEY - [sussurrando] Não acho conveniente.

MACHADO - Não? O senhor que dá o tom.

SARNEY - Não acho conveniente. A gente não põe muita gente.

MACHADO - O senhor é o meu guia.

SARNEY - O Amaral Peixoto dizia isso: ‘duas pessoas já é reunião. Três é comício’.

MACHADO - [rindo]

SARNEY - Então três pessoas já é comício.

[...]

*

Segunda conversa

SARNEY - Agora é coisa séria, acho que o negócio é sério.

Machado - Presidente, o cara [Sérgio Moro] agora seguiu aquela estratégia, de ‘deslegitimizar’ as coisas, agora não tem ninguém mais legítimo para falar mais nada. Pegou Renan, pegou o Eduardo, desmoralizou o Lula. Agora a Dilma. E o Supremo fez essa suprema... rasgou a Constituição.

SARNEY - Foi. Fez aquele negócio com o Delcídio. E pior foi o Senado se acovardar de uma maneira... [autorizou prisão do então senador].

Machado - O Senado não podia ter aceito aquilo, não.

SARNEY - Não podia, a partir dali ele acabou. Aquilo é uma página negra do Senado.

Machado - Porque não foi flagrante delito. Você tem que obedecer a lei.

SARNEY - Não tinha nem inquérito!

Machado - Não tem nada. Ali foi um fígado dos ministros. Lascaram com o André Esteves.. Agora pergunta, quem é que vai reagir?

[...]

Machado - O Senado deixar o Delcídio preso por um artista.

SARNEY - Uma cilada.

MACHADO - Cilada.

SARNEY - Que botaram eles. Uma coisa que o Senado se desmoralizou. E agora o Teori acabou de desmoralizar o Senado porque mostrou que tem mais coragem que o Senado, manda soltar.

MACHADO - Presidente, ficou muito mal. A classe política está acabada. É um salve-se quem puder. Nessa coisa de navio que todo mundo quer fugir, morre todo mundo.

[...]

SARNEY - Eu soube que o Lula disse, outro dia, ele tem chorado muito. [...] Ele está com os olhos inchados.

[...]

SARNEY - Nesse caso, ao que eu sei, o único em que ela está envolvida diretamente é que ela falou com o pessoal da Odebrecht para dar para campanha do... E responsabilizar aquele [inaudível]

MACHADO - Isso é muito estranho [problemas de governo]. Presidente, você pegar um marqueteiro, dos três do Brasil. [...] Deixa aquele ministério da Justiça que é banana, só diz besteira. Nunca vi um governo tão fraco, tão frágil e tão omisso. Tem que alguém dizer assim ‘A presidente é bunda mole’. Não tem um fato positivo.

[...]

SARNEY - E o Renan cometeu uma ingenuidade. No dia que ele chegou, quem deu isso pela primeira vez foi a Délis Ortiz. Eu cheguei lá era umas 4 horas, era um sábado, ele disse ‘já entreguei todos os documentos para a Delis Ortiz, provando que eu... que foi dinheiro meu’. Eu disse: ‘Renan, para jornalista você não dá documento nunca. Você fazer um negócio desse. O que isso vai te trazer de dor de cabeça’. Não deu outra.

MACHADO - Renan erra muito no varejo. Ele é bom. [...] Presidente, não pode ser assim, varejista desse jeito.

[...]

SARNEY - Tudo isso é o governo, meu Deus. Esse negócio da Petrobras só os empresários que vão pagar, os políticos? E o governo que fez isso tudo, hein?

MACHADO - Acabou o Lula, presidente.

SARNEY - O Lula acabou, o Lula coitado deve estar numa depressão.

MACHADO - Não houve nenhuma solidariedade da parte dela.

SARNEY - Nenhuma, nenhuma. E com esse Moro perseguindo por besteira.

MACHADO - Tomou conta do Brasil. O Supremo fez a pedido dele.

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