
Uma canetada do general Augusto Pinochet, ditador do Chile entre 1973 e 1991, tornou as Forças Armadas chilenas as mais bem equipadas da América do Sul até hoje. A Lei do Cobre obriga o país a destinar 10% das receitas com exportação do metal, o principal produto do Chile, para a compra de material bélico.
"Os chilenos têm blindados melhores, aviões tecnologicamente mais avançados e uma frota de navios superior à brasileira", afirma Expedito Bastos, especialista em Defesa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bastos diz que os chilenos não são os únicos que têm algum tipo de superioridade sobre o Brasil no continente. "A Colômbia está se equipando. O Uruguai tem forças terrestres mais modernas", afirma ele. Apenas a Venezuela, na opinião do professor e de outros especialistas blefa ao anunciar compras de mais equipamentos. "Talvez eles até tenham material, mas a dúvida é se sabem usar", afirma.
Erro brasileiro
Para o coronel Geraldo Cavagnari, os presidentes-generais que governaram o Brasil depois do golpe de 1964 erraram ao não criar uma lei semelhante à que vigora no Chile. "Foi a maior bobeada que deram", afirma o pesquisador, lembrando que hoje as Forças Armadas brasileiras não têm orçamento anual garantido para reequipamento.
O modelo chileno, porém, hoje é questionado dentro do próprio Chile. O atual governo, de Sebastián Piñera, cogita anular a Lei do Cobre. A presidente anterior, Michelle Bachelet, tentou o mesmo. A alegação é de que o porcentual fixo destinado às Forças Armadas elimina a possibilidade de crescimento maior da indústria do cobre.
Democracia
Os especialistas em defesa afirmam, porém, que não foi apenas a ditadura brasileira que errou na área militar. Depois do fim da redemocratização, sem lei para garantir investimentos, as compras de novos equipamentos foram minguando e não se investiu no setor. Expedito Bastos, da Universidade Federal de Juiz de Fora, lembra que, com a Nova República, em 1985, tudo que era militar passou a ser malvisto.
Para Bastos, devido à má visão dos militares, o Brasil deixou de se modernizar em um momento importante da evolução do armamento. "Perdemos a nossa indústria da defesa no início dos anos 90. E isso aconteceu exatamente na hora em que a mecânica estava interagindo com a eletrônica."
Apesar dos problemas, a análise dos especialistas é de que o Brasil, por seu tamanho, ainda não tem rivais à altura na América do Sul. "Quem atacar o Brasil vai perder", afirma o coronel Geraldo Lesbat Cavagnari, pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp. Para ele, a própria ausência natural de inimigos levou o Brasil a ter sempre uma postura pouco ativa na compra de armamentos. "Se você não tem perigo à vista, a tendência é se acomodar. Mas há um velho ditado militar que diz que, se você quer a paz, precisa se preparar para a guerra", diz o coronel, defendendo a necessidade dos novos investimentos.



