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A beleza da nova raça de cães sem pelos

The New York Times
27/02/2017 14:00
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Quem já assistiu à competição canina do Westminster Kennel Club sabe da importância do penteado adequado para um cão.
Algumas raças na competição, e não se sabe ao certo exatamente por que é assim, são preparadas para parecer egressas da Convenção de Penteados Exagerados: os poodles, com o corpo adornado por elaborados tufos no estilo topiária; os yorkshires cujo pelo sedoso é tão longo que o cãozinho parece não ter pernas; os komondors, que talvez sejam os que mais se parecem com um esfregão industrial ambulante – a pelagem é essencial para esses cães.
E há os cães completamente sem pelo.
Em uma entrevista coletiva em janeiro, o Kennel Club orgulhosamente apresentou três raças que, este ano, participariam pela primeira vez do concurso.
Introduzida juntamente com dois cães mais convencionais – o pumi e o sloughi, espécime elegante do Norte da África – estava uma raça um tanto surpreendente chamada terrier americano sem pelo.
O que significa terrier sem pelo?
“Significa que ele não tem pelo nenhum”, disse Janet Parker, de Jackson, em Michigan, cujo cão pelado, Walkyr, competia em Westminster. Não se trata de pelo curto, como o doberman, o pinscher ou o labrador, mas uma careca total. Pele, na verdade.
Segundo Parker, a pele de Walkyr é parecida com a de uma pessoa, embora excepcionalmente macia, dando a sensação, como alguém lhe disse uma vez, de “um pedaço de mortadela quente”.
O terrier americano sem pelo é basicamente um rat terrier mutante. Eles surgiram inesperadamente, em 1972, quando um único filhotinho – fêmea – nasceu sem pelo em uma ninhada de rat terriers (conhecidos por gostar de cavar e caçar ratos) na Louisiana.
O criador gostou do filhote pelado, explicou Parker, mas teve dificuldades para produzir outros, pois o gene sem pelos é recessivo – até que a cadelinha sem pelo original “acidentalmente engravidou de um de seus próprios filhos”. Voilà, uma ninhada sem pelo.
A raça é conhecida por seu entusiasmo, não provocar alergias nas pessoas, não encher a casa de pelos e liberar seus proprietários da necessidade de tosa, condicionador e secador antes de apresentações.
Sue Medhurst, de Stafford, na Virgínia, que compareceu à coletiva de imprensa com três de seus terriers sem pelo – Rodney, Candy e Johnny, todos com cor de cimento fresco – diz que precisa apenas aplicar hidratante e, dependendo da estação, protetor solar. “Eles praticamente só precisam de banho e mais nada”, disse ela.
Os terriers sem pelo se juntaram a duas outras raças peladas que já são tradicionais nas exposições: o xoloitzcuintli e o cristado chinês. Cada um exibe características diferentes na competição.
O xoloitzcuintli, antiga raça mexicana reverenciada pelos maias, é conhecido por seu nome intimidante, cheio de consoantes (pronuncia-se cholo-ITs-cuintli), e pela forma como é condescendente com seus proprietários, como se fosse um gato.
“Eles têm uma aura só deles. Não têm metas, como pegar o jornal ou coisa do gênero. Pensam que são deuses. É como se achassem que você não é digno deles”, disse Jennifer Young-Johnson, de Hesperia, na Califórnia, que planejava levar dois exemplares para o show.
“Ao contrário dos terriers sem pelo e de pele macia, os xolos, como são conhecidos, tem uma pele parecida com o couro fino de bolsa. São cães carecas, de cabo a rabo”, disse Young-Johnson.
Ela mantém a pele de seus cães macia usando alguns produtos, incluindo esfoliante/hidratante especial fornecido por uma empresa de acessórios para pets que tem um contrato com um de seus xolos.
“Ela é modelo da linha de produtos para cães sem pelo”, disse Young-Johnson.
Por fim, temos o cristado (ou cão de crista) chinês, o Rodney Dangerfield do mundo canino. Sua beleza discutível está provavelmente relacionada à falta de pelo e às sardas, que podem ser amenizados pelo penteado-susto no topo da cabeça e pela pelagem macia em torno das patas, dando-lhes uma aparência ligeiramente perturbada e frenética.
Um cachorro coberto só de pele no que efetivamente é um concurso de beleza pode ser um conceito estranho.
“Não temos necessariamente uma postura em relação à falta de pelo porque achamos que todos os cães são absolutamente maravilhosos”, disse Brandi Hunter, porta-voz do Kennel Club Americano, que é o órgão que decide quais raças podem competir em Westminster.
Mesmo assim, pode ser chocante topar com um cão pelado, especialmente se você não está preparado para isso. “As pessoas acham que há algo errado com eles”, disse Young-Johnson.
É preciso ter um gosto refinado, além de um certo tipo de classe, para apreciar o visual único de um cristado chinês”, disse Parker, que possui alguns deles, além de seu terrier americano sem pelo. (“Gosto dos cães carecas”, disse ela.)
Porém, o mais estranho é isto: nem todos os cães sem pelo são completamente pelados.
O cristado chinês com pelo é conhecido como powderpuff; os xolos com pelo são os coated xoloitzcuintli. Mas há também um tipo de terrier americano sem pelo – o que parece ser um paradoxo – conhecido como terrier americano sem pelo coated. Esses cães são totalmente reconhecidos por todos os órgãos pertinentes e aceitos como legítimos membros da raça sem pelo, apesar do fato de terem pelo.
Parker não concorda.
“Um terrier sem pelo com pelo é um rat terrier, na minha opinião. Se quero um terrier sem pelo, ele não pode ter pelo”, disse ela.
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