Animal

A demência geriátrica nos pets

Luisa Nucada, especial para a Gazeta do Povo
05/10/2014 03:16
Não é só a decadência física que vem com a idade. O gato Fronha, de 16 anos, anda miando mais, esquecendo das coisas, além de ter perdido as referências do que é certo ou errado. Como se fosse uma pessoa com Mal de Alzheimer. De uns tempos para cá, passou a subir na mesa para pegar comida, não se lembra das regras da casa”, conta sua dona, a médica veterinária Gilmara de Paula da Luz.
Comportamentos atípicos em cães e gatos idosos podem ser sinal da síndrome da disfunção cognitiva, conhecida como demência geriátrica. Segundo a médica veterinária Ceres Faraco, professora do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), um dos indícios da doença é a alteração nas respostas aprendidas: o animal “desaprende” coisas que sabia, como no caso de Fronha, que ficou indisciplinado.
A demência, explica Ceres, é um quadro neurodegenerativo causado pelo envelhecimento patológico das células do cérebro. “Também são sintomas da doença a desorientação temporal e espacial e os distúrbios no ciclo de sono e vigília.” Animais dementes podem se deparar com um canto da casa e não conseguir sair dali, devido à perda da cognição visuoespacial. Também podem ficar acordados a noite toda, choramingando.
Para o médico veterinário Marlos Gonçalves Sousa, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o comprometimento da função neuronal pode levar esses bichos a ficarem mais quietos e apáticos. “O animal com demência tem dificuldade de aprendizado, interage menos com os donos e pode não assimilar uma brincadeira nova.” Em fases mais avançadas da doença, eles podem não reconhecer seus proprietários, deixam de atender ao próprio nome e ficam aéreos, com ar não­responsivo.
Acompanhamento
“Animais idosos estão mais propensos a ter disfunções renais, hepáticas e cânceres que afetam o sistema nervoso central. É importante descartar a possibilidade dessas doenças antes de concluir que se trata de demência”, diz Sousa. Portanto, o diagnóstico é feito por exclusão. A tomografia é o único exame capaz de detectar a disfunção cognitiva.
Por ser uma doença degenerativa, a demência não tem cura, mas é possível retardar sua progressão. “Existem medicamentos neuromoduladores, que alteram a química cerebral e proporcionam alguma melhora, como a selegilina. Também há complementos nutricionais que combatem os radicais livres, responsáveis pelo envelhecimento”, aponta Ceres.