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Tiffany é rejeitada em feiras de adoção e atacada por outros cachorros. Foto: arquivo pessoal
Tiffany é rejeitada em feiras de adoção e atacada por outros cachorros. Foto: arquivo pessoal | Foto:

Foi enquanto passeava em uma feira de produtos para pets que a protetora Horilde Linberger Galvan ouviu que uma das cachorras que resgatou, a Tiffany, poderia ter Síndrome de Down. Horilde não sabia que um animal poderia ter a condição, mas acreditou que fosse possível, pois Tiffany tem algumas características físicas e comportamentais diferentes dos outros 29 animais cuidados por ela.

“Ela sempre teve dificuldade para caminhar, pois perde a direção de onde está indo, late raramente, não ouve bem e tem muito medos dos outros cachorros. O olho dela é bem pequeno e estrábico também”, conta. Tifanny foi resgatada pela protetora, que nunca conseguiu um lar para a cadela, mesmo a levando a quase todas as feiras de adoção que participa. Além disso, no canil, os outros cães a atacam “porque entendem que ela é diferente”, conforme diz a protetora. A cachorra está para adoção há dois anos e a protetora ainda não sabe que doença ela tem.

De acordo com especialistas é improvável que a cadela — assim como outros cães e gatos — tenha Síndrome de Down.

“A Síndrome de Down é uma trissomia do cromossomo 21 dos humanos. Os gatos têm 19 pares de cromossomos e os cães têm 39, mas o cromossomo 21 dos cachorros não tem os mesmos genes que o cromossomo 21 das pessoas”, diz a médica veterinária do Hiper Zoo, Adriane Molardi Bainy.

O professor de medicina veterinária da PUCPR Enio Moura diz que para que a síndrome pudesse ocorrer em cães, seria necessário que vários cromossomos fossem triplicados em vez de duplicados, o que é altamente improvável. “Além disso, em estudos que incluíram cães e gatos, alguns genes da Síndrome de Down só foram encontrados em primatas”, explica.

Conforme Adriane, o que pode ocorrer são outras alterações genéticas que acarretam características físicas ou comportamentais que as pessoas associam à condição, fazendo com que elas utilizem o nome da síndrome equivocadamente. Moura complementa, dizendo que alguns casos viralizam e se tornam famosos, difundindo a ideia de que existe Síndrome de Down em cães e gatos.

A doença do Tigre Kenny foi associada à síndrome. Foto: Reprodução
A doença do Tigre Kenny foi associada à síndrome. Foto: Reprodução

“Há o caso do tigre Kenny [que supostamente teria Síndrome de Down]. A instituição que o abrigou até sua morte já afirmou que nenhum estudo foi feito. Os sinais clínicos que ele apresentava são muito mais próximos de outro distúrbio genético, que por sinal é relativamente comum em felinos (mucopolissacaridose), mas, agora é impossível confirmar [Kenny faleceu em 2008]”, conta.

Outras condições

Responsável pelo Serviço de Genética Médica do curso da PUCPR, Moura explica que cães e gatos podem ser acometidos por diversas doenças genéticas, mas que há poucas síndromes cromossômicas (como é o caso da de Down) registradas. Entre elas estão a Síndrome de Klinefelter, Síndrome de Turner e triplo X.

“Um cão normal tem 78 cromossomos, entre os quais há um par sexual (XX na fêmea e XY no macho). Nestas síndromes há cromossomo a mais (síndrome de Klinefelter e triplo X) ou a menos (síndrome de Turner)”, explica.

De acordo com Moura, a síndrome de Klinefelter geralmente acomete cachorros do sexo masculino e faz com que seus caracteres sexuais não sejam bem desenvolvidos, seus ossos sejam mais alongados do que o normal e que sejam inférteis. Turner acaba afetando mais as fêmeas, que crescem menos do que o normal e são inférteis. Já a Síndrome de Triplo X, as fêmeas apresentam ciclos reprodutivos irregulares, mas em geral são férteis, e algumas anormalidades dentárias.

“Nesses casos, os animais precisam somente da atenção e carinho que qualquer outro cão ou gato precisa. Alguns cães com síndrome de Klinefelter apresentam a abertura uretral em posição anormal. Nesses, pode ser necessária correção cirúrgica para melhorar a sua qualidade de vida”, diz o veterinário.

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