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Companheiros de todos
| Foto: LETICIA AKEMI

Depois que chegou ao sebo, o gato foi castrado e, pouco a pouco, expandiu suas fronteiras, perambulando pelas igrejas, bares, ateliês e teatros da região. A notoriedade o levou a participar de filmes e programas de televisão. “As pessoas passaram a considerá-lo como dono do Largo da Ordem”, brinca Valéria. Quando desaparece, mesmo que por alguns dias, o felino provoca comoção pública para encontrá-lo.

Quando a livraria mudou de dono e passou a ser administrada pelo casal Raquel Loner, 25 anos, e Marcos Hadlich, 27 anos, Boris ficou. “Ele sempre dorme aqui no sebo, mas todo mundo cuida um pouco dele durante o dia”, revela Raquel.

Boris é apenas um dos inúmeros bichos coletivos espalhados pelas ruas da capital paranaense. Segundo estimativas da Sociedade Protetora dos Animais de Curitiba (SPAC), baseadas em um levantamento da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de 2005, a maioria deles é semidomiciliado, pois são animais que têm donos que os deixam livres. Outros tantos fazem parte dos cerca dos 15 mil cães abandonados que vivem na cidade.

Personalidades

Esses animais se tornam personalidades da região em que moram, criando vínculos especiais com as pessoas com quem se relacionam. É o caso de Joaquim Francisco, provavelmente o cão mais famoso do bairro Campina do Siqueira.

Com uma casinha alojada em frente ao número 470 da Rua Emílio de Almeida Torres, ele tem vários donos. Quem passa por ali percebe potes de ração e água nos portões de casas e espaços comerciais. “É tudo para ele”, conta a vendedora de roupas Margareth Rother, responsável pelos banhos e pelas vacinas do pet.

O cão apareceu na vizinhança há 13 anos e ninguém sabe de onde veio. A casinha foi uma construção coletiva de pessoas que passaram a alimentá-lo e, como recompensa, ganharam uma companhia no caminho para o ponto de ônibus ou no retorno de casa. “Ele se comporta como um lorde, que nos respeita. Nunca avançou em ninguém”, garante Margareth.

Assim que Joaquim começou a namorar, seus “donos” decidiram que era hora de castrá-lo. “Não dá para deixar que faça ninhadas por aí. Temos muitos cães de rua em Curitiba”, diz sua protetora. A iniciativa segue recomendação da SPAC, que indica que cães e gatos comunitários devem ser castrados para reduzir a superpopulação que anda pelas ruas da cidade.

“Curitiba tem muitos cães de rua. A castração é uma solução para reduzir esse problema e evitar que os animais sofram de fome e frio”, diz Soraya Simon, voluntária e presidente da SPAC, que elogia o trabalho de cuidadores como Margareth. “Essas pessoas são fundamentais para evitar que essas vidas não acabem”.

Pioneiros

Um programa da Pre­­feitura de Curitiba disponibiliza castração e microchipagem para cães comunitários de terminais de ônibus desde o ano passado. Até agora, o programa beneficiou 41 cachorros. Os primeiros a serem enquadrados no projeto foram Princesa e Totó, o casal de vira-latas do Terminal Portão.

Abrigados em meio ao tumulto de ônibus e passageiros, os dois são cuidados por comerciantes e seguranças do local há cinco anos. No entanto, desde 2011, a protetora independente Fernanda Dias, 32 anos, luta para mantê-los saudáveis, levando-os ao veterinário para castração e vacinação. Ela pagou do próprio bolso por sessões de quimioterapia para Princesa, que teve câncer em 2013.

“O terminal é a casa de Totó e Princesa. Tentei ­­levá-los para um hotel uma vez, mas eles não ficam. Nem todos concordam que os dois andem por ali, mas foi o local que escolheram para viver”, diz a protetora. No ano passado, Totó avançou em um passageiro depois de ser pisoteado. “Provocou revolta em algumas pessoas, que esqueceram que estavam lidando com cães. Se respeitarmos o espaço deles, esse tipo de coisa não vai acontecer.”

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