Animal

“Meu melhor amigo é o meu cachorro”

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
14/10/2016 20:30
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O empresário Neil Martin Kremer, com dois, dos quatro pastores que mantém em casa: “Minha vida com eles é muito prazerosa e me realiza plenamente”. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Dono de quatro cães da raça pastor alemão, o empresário Neil Martin Kremer, 50 anos, não quer saber de outra companhia. Solteiro e com um filho morando fora do país, ele encontra, nos amigos Kimba, Lennon, Destake e Vicki, o convívio perfeito. “Sempre fui apaixonado por cães. Moro em uma casa com quintal grande e interagimos praticamente todo o tempo. Minha vida com eles é muito prazerosa, me preenche espiritualmente e me realiza plenamente”, diz Kremer, que afirma não sentir falta (nem querer) uma presença humana na casa.
Quem compartilha do sentimento é a aposentada Estela Maria Pontello, 62 anos. Após o casamento da única filha, Mariana, ela passou a viver sozinha com Thor, um vira-latas misturado com cocker, que completou 12 anos. “O Thor é meu companheiro de todos os dias e fazemos tudo juntos”, diz. A sinergia entre eles é tanta, que Estela consegue captar as “mensagens” do amigo que, por conta da idade, requer alguns cuidados especiais. “Ele tem ótima saúde, mas às vezes sofre com dor nas costas, então estou sempre atenta”, conta Estela. E o inseparável cãozinho não esconde os sentimentos em relação à dona. “Ele demonstra ciúme, ternura, carinho e faz com que meus dias sejam plenos. Na maioria dos dias, é minha única companhia”.
“O Thor é meu companheiro de todos os dias”, diz a aposentada Maria Pontello. Foto: André  Rodrigues/Gazeta do Povo
“O Thor é meu companheiro de todos os dias”, diz a aposentada Maria Pontello. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Quase ninguém duvida que os animais, especialmente cães, podem realmente fazer o papel de melhor amigo do homem. “Esse convívio é um dos tópicos do envelhecimento ativo. Ter um animal é realmente terapêutico e favorece a melhora da qualidade de vida, o vínculo afetivo e impacta, inclusive, na longevidade”, diz o geriatra do Hospital Marcelino Champagnat, José Mário Tupiná Machado.
Segundo ele, é dever dos geriatras e gerontólogos estimular e motivar esse tipo de vínculo nas pessoas mais velhas, especialmente naqueles cujo convívio social já se apresenta certa precariedade. “Pessoas que vivem em instituições de longa permanência, como os asilos, se beneficiam sobremaneira do contato animal. Inclusive há programas de auxílio nos quais o objetivo é exatamente esse”, completa o médico.
Em tese, não há diagnóstico que contraindique o convívio com o animal, mas aquelas que apresentam qualquer condição de demência acendem o sinal amarelo para a questão. “A pessoa com esse diagnóstico flutua entre momentos de estabilidade e instabilidade, às vezes, com variação importante de agressividade. Então só é preciso certo cuidado, porque o animal pode sofrer com isso”, avalia Tupiná.
Neil e dois de seus quatro cães. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Neil e dois de seus quatro cães. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
O zootecnista especialista em comportamento animal e professor de medicina veterinária da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Paulo Parreira, corrobora esta opinião. “É importante que a pessoa apresente equilíbrio emocional, para que possa conduzir satisfatoriamente todos os cuidados que o animal demanda”, diz ele. Para Parreira, o animal, sozinho, não é resposta para tudo, mas os estudos são cada vez mais determinantes quanto aos benefícios do convívio. “Qualquer interação é totalmente favorável, mais ainda se houver uma educação básica e controle adequados. Na dúvida, um especialista pode indicar as raças com o temperamento ideal para cada pessoa”, diz o zootecnista.
Além da companhia, atenção e amor
Para o zootecnista especialista em comportamento animal, Paulo Parreira, o Brasil ainda caminha a passos lentos quando se fala em cães de assistência. “Nos Estados Unidos, por exemplo, alguns animais são treinados para ajudar o idoso em situações específicas, como alcançar uma chave ou acionar um botão de pânico”, explica. Por aqui, são mais comuns os cães de companhia, não de assistência, a exemplo do projeto Amigo Bicho. Idealizado pela médica veterinária Leticia Séra Castanho, o projeto atualmente reúne voluntários (animais e pessoas) para visitar pacientes em hospitais e associações. Criada em 2005, a iniciativa, por meio da Terapia Assistida por Animais (TAA), auxilia na redução do estresse e da ansiedade, além de favorecer a liberação da dopamina nos pacientes, um importante neurotransmissor que, entre outros benefícios, promove a sensação de prazer e motivação.

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