Comportamento

Carolina Werneck

Bonecas reborn custam até R$ 20 mil e imitam bebês de verdade; maior público é adulto

Carolina Werneck
05/12/2017 15:15
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A semelhança das bonecas feitas por Evelyn com bebê reais é tão grande que muitas pessoas se confundem ao ver adultos com elas no colo. Foto: Reprodução/Facebook

A primeira coisa que as gêmeas Maria Eduarda e Maria Eloíza Gomes Pereira, de 9 anos, fazem quando acordam é trocar as fraldas e dar mamadeira para suas “filhas” Majara, Juliana e Sophia. Depois, antes de irem para a escola, as duas repetem o ritual, sempre sob a supervisão da mãe, Regiane.
Os bebês em questão são, na verdade, bonecas hiper-realistas que chegam a custar R$ 20 mil. Mesmo as bonecas mais simples não custam menos de R$ 1 mil. Os preços deixam claro que os bebês reborn são muito mais que uma brincadeira. As crianças, aliás, representam a menor parte do público que procura por esse tipo de produto.
Boneca feita por Evelyn Muniz passa a sensação de ser um bebê de verdade dormindo. Foto: Reprodução/Facebook
Boneca feita por Evelyn Muniz passa a sensação de ser um bebê de verdade dormindo. Foto: Reprodução/Facebook
Universo reborn
Há oito anos a então recepcionista Evelyn Muniz se interessou por uma reportagem que viu nos Estados Unidos sobre as bonecas reborn. “Eu me apaixonei pelas bonecas. Foi amor à primeira vista”, diz. Desde então ela vem aperfeiçoando as técnicas de produção dos bebês que fazem muita gente se confundir de verdade. Evelyn vive em Curitiba e mantém um ateliê em São Paulo.
De acordo com Evelyn, as bonecas reborn tiveram origem na época da 2ª Guerra Mundial. Sem recursos para comprar brinquedos novos, as mães reformavam as bonecas das crianças. Daí o nome “reborn”, que significa “renascido” em tradução livre.
Com o passar do tempo, o que era brincadeira de criança passou a chamar a atenção também dos adultos. Há, na internet, vários espaços ocupados por pessoas que se interessam por essas bonecas. São canais no Youtube, grupos no Facebook, sites que vendem não só os “bebês”, mas também roupinhas e acessórios para os “enxovais”.
Evelyn produz entre seis e sete bonecas por mês, mas, um mês antes do Natal, tinha 25 encomendas para entregar até a festa. Foto: Reprodução/Facebook
Evelyn produz entre seis e sete bonecas por mês, mas, um mês antes do Natal, tinha 25 encomendas para entregar até a festa. Foto: Reprodução/Facebook
“Estou grávida de um novo reborn. Quem adivinha se é menina ou menino?”, diz uma postagem em um dos inúmeros grupos no Facebook sobre as bonecas. Declarações como essa são comuns, e normalmente vêm seguidas de felicitações por parte de outros integrantes do grupo quando uma encomenda é feita ou entregue.  As autodeclaradas “mamães reborn” também pedem dicas de roupinhas para as bonecas usarem em ocasiões especiais, como o Natal.
Todo esse encantamento vem dos detalhes minuciosos no trabalho de confecção. “Algumas pessoas têm até medo por achar que é um bebê de verdade. Nesse ponto, às vezes as crianças têm mais essa segurança de que é uma boneca. Os adultos falam ‘ai, meu bebê’. Enquanto as crianças pegam como se fosse uma boneca mesmo. Adulto pega com cuidado”, observa Evelyn. Para ela, essa é uma reação automática devido à semelhança com bebês reais.
Feitas em vinil, os detalhes das bonecas impressionam: dobrinhas, manchas e até veias são pintadas à mão imitando a pele fininha dos bebês. Foto: Reprodução/Facebook
Feitas em vinil, os detalhes das bonecas impressionam: dobrinhas, manchas e até veias são pintadas à mão imitando a pele fininha dos bebês. Foto: Reprodução/Facebook
Cuidados diários
Assim como as gêmeas de 9 anos, muitos adultos também desenvolvem rotinas com suas bonecas. Evelyn conta que “sempre tem quem trate a boneca como se fosse uma criança de verdade. Tem gente que troca a fralda todo dia, mas é porque elas não acham isso fora do normal. Então levam ao shopping para passear, para almoçar fora, ao parque e tudo mais”.
Os detalhes do rosto são fundamentais para deixar a boneca ainda mais parecida com a realidade. Foto: Reprodução/Facebook
Os detalhes do rosto são fundamentais para deixar a boneca ainda mais parecida com a realidade. Foto: Reprodução/Facebook
Uma pesquisa rápida no Youtube confirma a percepção da artesã. Títulos como “Bebê reborn fez cocô”, “Rotina da noite do meu bebê reborn” e “Primeiro banho do bebê reborn” pipocam em vários canais disponíveis no site. Muitas pessoas têm armários inteiros dedicados às roupinhas, sapatos e outros acessórios comprados para as bonecas.
A incrível semelhança a um bebê de verdade também causa situações curiosas. Regiane, mãe das gêmeas Maria Eduarda e Maria Eloiza, lembra-se de um episódio engraçado. “Fomos ao mercado e a Maria Eduarda segurava uma das bonecas, aí uma moça veio e me perguntou se o bebê não era muito novinho para ficar no colo de uma criança. Quando contei que era uma boneca ela ficou super sem graça.”
Arte sob encomenda
Evelyn já confeccionou mais de 3,5 mil bonecas — todas feitas à mão. O material usado é um tipo de vinil preenchido com areia de aquário tratada, o que permite que elas tenham o peso de um bebê de verdade. Embora geralmente use moldes prontos, a artista também faz bonecas que imitam crianças reais, como filhos ou netos de suas clientes. “Mesmo nesses casos, com o tempo você percebe que tem moldes muito parecidos. Então você usa como base e se concentra nos detalhes para deixar bem próximo à criança em questão.”
Com peso igual ao de crianças reais, à primeira vista é difícil perceber que são bonecas. Foto: Reprodução/Facebook
Com peso igual ao de crianças reais, à primeira vista é difícil perceber que são bonecas. Foto: Reprodução/Facebook
Os detalhes imitam a pele fininha das crianças (que muitas vezes deixa ver veias, manchinhas e marquinhas próprias dos recém-nascidos), e os cabelos e cílios são feitos com fibras especiais. As bonecas mais caras — aquelas que chegam a custar R$ 20 mil — têm a textura da pele muito similar à das crianças.
Um dos trabalhos mais marcantes, segundo a artista, foi feito para uma criança com síndrome de Down. A mãe encomendou uma boneca com os mesmos traços da filha. “Ela tinha 9 anos. Foi incrível, ela até chorou. Eu fiquei muito emocionada naquele dia. São lembranças que a gente gosta de guardar com a gente”, conta Evelyn.
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