Comportamento

Katia Michelle

Como observar um pássaro pode te ensinar (mais) sobre a vida

Katia Michelle
10/03/2017 15:50
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O pássaro besourinho do bico vermelho em flagra do observador Sérgio Gregório. Foto: Sérgio Gregório

Há uma diferença abrupta entre ver as coisas e enxergar. E não é só a máxima “o essencial é invisível aos olhos” que explica a dissonância. Basta olhar para o céu para ver. Você pode observar vários pássaros sobrevoando, mas com algumas dicas é possível  enxergá-los e identificá-los da melhor maneira. Essas dicas estão presentes na prática chamada birdwatching (observação de aves), que ganha cada vez mais adeptos e tem em Curitiba seguidores ativos. Tanto que um curso de observação de aves será realizado agora em março e diversos grupos – e até o turismo com essa finalidade – vem ganhando espaço.
“Todas as pessoas são observadores de aves em potencial. A vida nos dá esse vínculo com a natureza. E quando começamos a prestar atenção nos detalhes, essa observação vai ficando cada vez mais interessante”, conta o ornitologo Fernando Straube, autoridade máxima no tema. Com mais de três décadas de experiência e 50 mil horas de pesquisa acumulada,  ele ministra no próximo dia 31 de março o Curso de Observação de Aves – Iniciação a Ornitologia, que durante três dias vai abordar a parte teórica e prática do birdwatching.
"Todas as pessoas
"Todas as pessoas
Ele salienta que só na região de Curitiba é possível enxergar quase 400 espécies de pássaros, sobrevoando os parques urbanos, as reservas naturais e até mesmo os bairros e o centro da cidade. “ Os parques municipais abrigam grande parte dessas espécies, mas em qualquer lugar é possível observar os pássaros”, diz. Para Straube, nos últimos anos, as conveniências tecnológicas e celulares com câmeras cada vez mais potentes despertaram na população o desejo de registrar as aves observadas.
Não é por acaso que um passeio pela timeline das redes sociais mostram fotografias, amadoras ou não, de pássaros e pedidos de ajuda para identificação. É quase genuíno e os compartilhamentos acontecem disparados porque a curiosidade é inerente ao ser humano.
“Mas que pássaro é esse que pousou na minha janela?”. O primeiro passo para identificar a espécie, conforme explica o biólogo é prestar atenção nas formas e cores e em detalhes como topografia, padrões de coloração, regiões do corpo, tipos de pena e alguns como comportamento ambiente e até a época do ano em que se está.
Para ajudar na identificação, algumas técnicas visuais, como a utilização de equipamento (binóculos ou lunetas) e técnicas de anotação descritiva e ajuda da literatura disponível, além, é claro, de técnicas auditivas (também aqui, saber “ouvir” é uma arte) são essenciais para identificar as espécies.
O raro maquiquinho da várzea, que atrai observadores do mundo inteiro e exigiu horas de paciência do fotógrafo para o registro. Foto: Sérgio Gregório.
O raro maquiquinho da várzea, que atrai observadores do mundo inteiro e exigiu horas de paciência do fotógrafo para o registro. Foto: Sérgio Gregório.
Qualquer semelhança com técnicas de autoconhecimento não é mera coincidência, pois a prática de observar aves é, também, uma prática que ensina a enxergar os outros: é preciso estar atento e com os olhos bem abertos. O resultado é ver além do óbvio. Onde você acha que está um pássaro comum, pode estar uma raridade como a espécie “macuquinho da várzea”, um pássaro que pode ser visto em Curitiba e que atrai turistas do mundo inteiro.
Sai Azul: um dos pássaros fotografados pelo observador Sérgio Gregório, em Curitiba.(Foto: Sérgio Gregório)
Sai Azul: um dos pássaros fotografados pelo observador Sérgio Gregório, em Curitiba.(Foto: Sérgio Gregório)
Paixão por pássaros
Para o professor de educação física Sérgio Gregório não é possível dizer o que veio primeiro: a paixão por observar pássaros ou a paixão por fotografia. O caso é que ele uniu as duas coisas com maestria e mesmo começando a fotografar de forma amadora já se transformou em um “case de sucesso” quando o assunto é registro de pássaros. Tanto que o material produzido por ele é utilizado como referência nesses registros. Ele foi um dos únicos a registrar o raro pássaro “macuquinho da várzea” e também assina as fotografias utilizadas nessa matéria.
O tucano de bico verde: surpresa que Curitiba também reserva aos observadores atentos. Foto: Sérgio Gregório.
O tucano de bico verde: surpresa que Curitiba também reserva aos observadores atentos. Foto: Sérgio Gregório.
O raro registro foi resultado de mais de duas horas de espera, na chuva. “Muita gente consegue ouvir esse pássaro que vive no brejo, mas ver é algo muito difícil, fotografar ainda mais”, comemora o professor universitário. Ele começou a fotografar pássaros por passatempo, mas hoje dedica boa parte do seu tempo para registrar as aves na região de Curitiba e em outros locais do Brasil. “Minha intenção é que esses registros ajudem a preservar essas espécies”, conta.
SERVIÇO
O Curso de Observação de Aves, ministrado por Fernando Straube, será realizado do dia 31 de março ao dia 2 de abril. A aula teórica, na sexta-feira  (31 de março) será realizada no Ambiental Office Coworking, localizado na R. Schiller, 1797 Alto da XV, com estacionamento e coffee break. No sábado (1° de abril), a turma terá disponível uma van para o deslocamento até o local das aulas práticas, que serão realizadas na Reserva Jaguarapira (Centro de Pesquisa para a Conservação da Floresta Atlântica), região metropolitana de Curitiba. Neste dia serão oferecidos coffee break e almoço em lugar privilegiado para a observação de aves. A van trará os participantes de volta a Curitiba após o término das aulas práticas, no final da tarde. No domingo (2), as atividades serão realizadas em área verde de Curitiba especialmente escolhida para observar aves dentro da cidade. Neste dia também será servido um coffee break especial para os alunos. Investimento:  R$299,00. Inscrições: horicursos.com.br.
O pássaro grimpeiro: olhar atento e persistência permite o registro. Foto: Sérgio Gregório.
O pássaro grimpeiro: olhar atento e persistência permite o registro. Foto: Sérgio Gregório.
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