Comportamento

Anna Carolina Amaral, especial para a Gazeta do Povo

Como dividir as contas do casal sem ter crise conjugal

Anna Carolina Amaral, especial para a Gazeta do Povo
24/06/2016 22:00
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Melannie Castella , 30 anos, e Marcos Rampazzo Filho, 28 anos: antes mesmo do casamento, despesas na ponta do lápis. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Ciúmes? A sogra? Privilegiar os amigos? A educação dos filhos? Se você acha que estas são as principais razões das crises conjugais, está enganado. Uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), no Brasil, ouviu 819 mulheres e apontou o dinheiro como a principal razão para as brigas de casais. Para 37,5% das entrevistadas, os gastos são o principal motivo para as discussões em casa. A falta de dinheiro foi mencionada por 31,5%. Além disso, uma pesquisa da Experian (empresa britânica de gestão da informação) revelou que 56% dos motivos de divórcio nos últimos seis anos, no Reino Unido, tem como causa a economia conjugal. Ou seja, em muitas relações, a dobradinha educação financeira e diálogo passa longe.
Mas como atingir a “harmonia” financeira no casamento? O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, explica que são necessários cinco passos: conhecer os gastos, definir os sonhos, organizar o orçamento, economizar e investir. Para ele, dividir as despesas em um relacionamento não é uma questão meramente matemática, mas comportamental. Por isso, depende muito de diálogo e entendimento pessoal.
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A psicóloga para noivos e recém-casados Paula Beatriz Mitter de Carvalho completa esse raciocínio explicando que brigas motivadas por questões financeiras acontecem porque a maioria dos casais não tem o hábito de falar sobre dinheiro, muito menos sobre ganhar, poupar e gastar. O que acaba ocorrendo é uma repetição de padrões financeiros antes do casamento, quando se faz gastos individuais, sem precisar compartilhar com outra pessoa, reforça Paula.
Antes do casamento
A dica dos especialistas é começar a conversar sobre finanças antes do matrimônio. “O tempo que antecede o casamento pode ser uma boa oportunidade para exercitar ou iniciar o enfrentamento dessa questão, desde a planilha de gastos com a cerimônia até a escolha de regime de bens que regerá a união civil ”, orienta a psicóloga.
Morando juntos antes do casamento, os advogados Melannie Castella , 30 anos, e Marcos Rampazzo Filho, 28 anos, sempre conversaram sobre a economia doméstica. “Mesmo antes de casarmos, nos preocupávamos e discutíamos a nossa situação financeira, o que facilitou o início do período pós-casamento”, recorda Melannie. Casados há três meses, eles dividem, meio a meio, todas as despesas comuns, como condomínio, luz, gás, telefone, internet, tevê a cabo, diarista, mercado, presentes, restaurantes e depositam o dinheiro excedente em uma poupança. “Para facilitar a divisão, fazemos todos os pagamentos por meio de cartão de crédito conjunto. Quanto a aqueles gastos com a gente mesmo, cada um arca com o seu”, completa.
Despesas individuais
O presidente da Abefin é defensor de que cada membro do casal contribua com um valor proporcional a sua renda. Segundo ele, é uma das fórmulas mais justas quando se considera a renda de ambos. Assim, quem tem um salário maior pode dispor de um valor mais alto tanto para os sonhos quanto para as despesas. Além disso, o especialista alerta para a importância da individualidade de cada parceiro. “O casal deve ter desejos em conjunto, mas cada um deve ter seus objetivos pessoais. Para isso, uma boa alternativa é pensar na possibilidade de cada um ter sua conta corrente própria, definindo os limites de depósitos, considerando as despesas individuais”, exemplifica.
Casados há 32 anos, o geógrafo Antonio Marques , 52 anos, e a professora universitária Maristela Denise Marques Souza, 53 anos, mantêm uma conta conjunta onde o salário de ambos é depositado. “Eu efetuo o pagamento das contas fixas e fico de olho na nossa conta corrente. Minha esposa cuida do orçamento doméstico, como o pagamento à diarista, as idas ao supermercado, à feira, à farmácia e outros gastos. Quando qualquer um de nós faz alguma despesa cotidiana, costuma-se prestar contas um para o outro”, conta Antonio. Mesmo com uma única conta, ambos têm liberdade para fazer alguns agrados individuais, mas procuram manter o diálogo sempre aberto para evitar atritos referentes a despesas exacerbadas. “Temos nossos sonhos em comum e sabemos que eles são prioridade para nós. Esse entendimento faz com que antes de gastar em algo de alto valor, conversemos a respeito primeiro”, salienta Antonio.
Antonio Marques , 52 anos, e Maristela Denise Marques Souza, 53 anos: conta conjunta e diálogo constante sobre gastos. Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo
Antonio Marques , 52 anos, e Maristela Denise Marques Souza, 53 anos: conta conjunta e diálogo constante sobre gastos. Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo
Casais x divisão da despesa
Confira como os casais tratam com os gastos, segundo  o presidente da Abefin, Reinaldo Domingos. Faça o nosso teste abaixo e descubra em qual perfil você e seu companheiro se encaixam:
“Tudo junto e misturado”
Vocês misturam tudo, inclusive as finanças. O dinheiro é dos dois e as despesas são pagas em conjunto. Dica do especialista: para que tenham mais tranquilidade, conheçam seus rendimentos, identifiquem seus gastos e verifiquem quais podem reduzir ou eliminar com a intenção de poupar. Juntos, vocês podem conquistar muitos sonhos.
“Divisor de águas”
Vocês separam tudo, inclusive o dinheiro de cada um. Apenas as despesas comuns são divididas, o resto é individual. Dica do especialista: é importante que vocês conversem sobre seus verdadeiros objetivos, tanto os individuais quanto os conjuntos, para que possam conquistá-los. Um planejamento financeiro irá ajudá-los a realizar e viver com tranquilidade, sem perder a individualidade.
“Equilíbrio total”
Vocês mantêm as finanças equilibradas, separam parte do dinheiro individual para pagamentos de contas conjuntas e a outra parte para despesas pessoais, mas também fazem economia em conjunto. Dica do especialista: certifiquem-se de que suas poupanças tenham um objetivo certo: realizar sonhos de curto, médio e de longo prazos. Priorizem essas reservas frente ao consumo e terão uma vida de muitas realizações.
Reengenharia do casal
As dicas do presidente da Abefin para a harmonia financeira em casa:
Conheçam os gastos
Para gerir as despesas do lar o casal precisa conhecê-las verdadeiramente. Uma vez por ano ou quando ocorrer uma mudança financeira significativa, façam um diagnóstico financeiro, separado por categoria de gastos, para analisar onde podem ser feitas economias.
Sonhem juntos
É normal que o casal tenha desejos comuns, como comprar algo para a casa, reformar um cômodo ou fazer uma viagem. Portanto,conversem sobre os sonhos e estabeleçam um de curto prazo (a ser realizado em até um ano), de médio prazo (entre um e dez anos) e de longo prazo (em até dez anos).
Inovem no orçamento
Incorpore um orçamento diferente, que priorize os sonhos. Nele, são registrados os ganhos, subtraídos os valores necessários para realizá-los e assim adequar as despesas ao saldo.
Pequenas economias
Com os sonhos estabelecidos, o casal terá mais facilidade para poupar dinheiro para conquistar o que deseja. Basta economizar nos gastos do dia a dia, comprar produtos com um bom custo-benefício e priorizar estabelecimentos que ofereçam descontos para pagamento à vista. Quando o sonho vem primeiro, o consumo desenfreado perde a força!
Um casal investidor!
Para sonhos de curto prazo, o dinheiro pode ser aplicado em caderneta de poupança, isenta de impostos. Para projetos de médio prazo, CDBs e fundos de investimento são os mais indicados. Para metas de longo prazo, são indicadas a previdência privada e os títulos do tesouro.