Como transformar ideias “bobas” no canal mais visto do Brasil; Felipe Neto responde

Na roda de amigos, você comenta o novo clipe da Clarice Falcão, com ou sem nudez, fala daqueles professores que merecem ser banidos da escola, mesmo que não mereçam, ou dos dias que faltam para mudança de casa. Assuntos comuns – e outros bobos – que se repetem todos os dias, exceto se você for o Felipe Neto. Aí esse tipo de assunto vira vídeo e se propaga rapidamente para 13 milhões de pessoas. Este é o alcance que um dos youtubers mais vistos do Brasil tem em seu canal.

Felipe, que hoje ocupa o primeiro lugar no ranking dos canais com maior número de novos inscritos do país, obteve, apenas de janeiro a julho deste ano, 4,6 milhões de novos seguidores e 784 milhões de visualizações. O carioca começou cedo na empreitada de conquistas de fãs. Precoce, criou uma empresa de telemensagem aos 14 anos, enquanto trabalhava, estudava e fazia cursos de teatro. A partir do teatro, consolidou a intimidade com as telas e em 2010 começou a postar vídeos de assuntos que todo mundo gostaria de dar pitaco, mas restringia ao grupo de amigos.

Felipe não teve medo de fazer críticas, mas o excesso delas desencadeou a depressão. “Minha depressão se manifestou em 2010, logo após o sucesso do canal pela primeira vez. A dificuldade de lidar com a fama repentina e as cobranças que isso trazia me derrubaram muito e levei algum tempo para me estabilizar”, disse em entrevista exclusiva ao Viver Bem.

Apesar do problema, que pede manutenção constante, Felipe não se afastou da rede. Pelo contrário. “Me considero um vencedor todos os dias por lidar com essa doença e vencê-la. Não sou feliz o tempo inteiro, mas sou feliz de verdade e não para fingir no Instagram”, enfatiza.

Ele lança nesta terça-feira (8) um novo canal, com o irmão Luccas. Para a dedicação exclusiva ao projeto, os irmãos decidiram morar juntos e fazer uma espécie de reality show. Sim, a vida comum também desperta interesse. Lançado oficialmente no dia 31 de julho, o Irmãos Neto foi o primeiro a bater o recorde mundial dos canais que atingiram um milhão de inscritos em apenas um dia. Antes de Felipe e Luccas, apenas o Pewdiepie, da Inglaterra, alcançou a marca em três dias em seu canal secundário. Além disso, os três canais (Luccas também tem um canal próprio) – somando as plataformas individuais de cada um – bateram o número de assinantes da TV paga brasileira em menos de 12h. A marca foi de 19.350.000, com 100 mil a mais de inscritos.

Em conversa com o Viver Bem, Felipe fala sobre como escolhe os temas para abordar no canal e também sua constante transição na carreira. Confira trechos da entrevista:

O Youtube não é lugar para fazer sempre mais do mesmo. Ou você se reinventa, ou fica pra trás. Quando decidi voltar pro Youtube em 2016 [do “Não Faz Sentido” para o “Felipe Neto”] , não queria mais colocar os óculos escuros e gritar. Essa minha fase tinha passado, eu não sentia mais vontade de interpretar aquele cara. Eu queria alegrar, divertir, propagar coisa positiva, amor, diversão, por isso eu repensei toda a minha imagem. Larguei os óculos, tirei a barba, pintei o cabelo e passei a viver apenas de ser feliz e tentar fazer os outros felizes também.

Como eu posto vídeo todos os dias, reservo uma parte dos meus dias só pra pensar em ideias, que nascem de tudo, tudo mesmo! Timeline do Facebook, conversas com amigos, capas de jornais, Twitter, todo lugar tem alguma possibilidade de ideia, é só estar atento sempre.

Eu posto 1 vídeo por dia e a cada dois dias eu posto um vídeo extra, ou seja, são em média 45 vídeos por mês. Só que raramente eu fico cansado, porque sinceramente amo fazer isso, o prazer que sinto gravando é imenso, é o momento de maior felicidade do meu dia.

Não. Todos os meus amigos de alguma forma estão envolvidos com a minha vida e o meu canal, é tudo um só! Claro que às vezes pode ser cansativo para os demais, principalmente porque eu não tenho fim de semana, mas no fim, todo mundo se diverte muito e eu não deixo de ir ao cinema ou sair para jantar.

Só influencia quando tenho algum período de crise, mas é muito raro, pois estou sempre em tratamento. A maior dificuldade foi no início, pois minha depressão se manifestou em 2010 logo após o sucesso do canal pela primeira vez. A dificuldade de lidar com a fama repentina e as cobranças que isso trazia me derrubaram muito e levei algum tempo pra me estabilizar, mas me considero um vencedor todos os dias por lidar com essa doença e vencê-la. Não sou feliz o tempo inteiro, mas sou feliz de verdade e não pra fingir no Instagram.

Existem influenciadores hoje que não estão no Youtube, focam mais em Instagram, por exemplo. Então nem sempre capitalizam com vídeos e sim com fotos, mas todos capitalizam o máximo possível, afinal é a forma como nos sustentamos. Eu, hoje em dia, digo muito mais “não” do que “sim” para publicidade, pois quero apenas divulgar coisas que realmente acredito e que têm a ver com o conteúdo do meu canal. Hoje tem cada vez mais influenciadores, mas cada vez menos estudo por parte desses influenciadores sobre plataformas, conteúdo, audiência, publicidade, engajamento. O resultado disso são muitos fenômenos passageiros, que explodem por acaso e depois acabam ficando no caminho, tudo por não compreenderem o ambiente onde cresceram e não possuírem as ferramentas necessárias para se manter.

Não adianta querer começar um canal se o objetivo é ficar rico e famoso. É muito mais difícil do que parece, então se você não estiver motivado pela paixão, não vai conseguir manter seu canal. Encontre aquilo que você ama e foque nisso, estude muito todas as plataformas e tendências e coloque seu estudo na prática.