Comportamento

Bruna Covacci

Amigos caem na folia juntos

Bruna Covacci
05/02/2016 22:00
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Animação em Antonina: Thaine Hess e Camila Dias Carvalho (à frente), com Luan Dante Lombrado, Caio Henrique e Ezequiel de Moraes Silva (atrás, da esquerda para a direita). Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo.

Amigo que é amigo também está junto no carnaval. Essa é a filosofia dos três grupos que aparecem nesta reportagem. Em pleno fim de semana de folia, eles não abrem mão dessa tradição: criar blocos para sair na rua, viajar ou ir a diferentes bailes. Passar tantos dias de curtição (e dividir boas histórias) juntos é uma forma de perpetuar a amizade e aumentar a cumplicidade.
A Galera Linda é uma espécie de “grupo-mãe”, formado por 30 amigos que se conheceram no colégio, na faculdade ou na vizinhança. Para o carnaval, os agregados vêm de tantos lugares que eles chegaram a 70 membros em festas passadas. Há pelos menos cinco anos, organizam viagens diferentes para a folia. “Fazemos isso desde que nossos pais nos liberaram para sair de casa”, conta a dentista Marjorie Pedroso, 25 anos. Inicialmente, era a casa da família de Marjorie, em Guaratuba, no litoral paranaense, o destino das viagens. Depois, o grupo passou a procurar festas maiores.
A vez do “Carnaval Universitário” de Votuporanga, no interior paulista: da esquerda para direita (a partir da frente), usando a camiseta do ano passado, Natacha Melo, Luana Grybosi, Mareen Macedo, Marjorie Pedroso, Nathalia Picarelli,  Fábio Barbosa, Leonardo Macedo e Gabriel Prado.
A vez do “Carnaval Universitário” de Votuporanga, no interior paulista: da esquerda para direita (a partir da frente), usando a camiseta do ano passado, Natacha Melo, Luana Grybosi, Mareen Macedo, Marjorie Pedroso, Nathalia Picarelli, Fábio Barbosa, Leonardo Macedo e Gabriel Prado.
Em 2015, foram para Ferrugem, em Santa Catarina. Agora, estão em Votuporanga, no interior de São Paulo, onde acontece o Carnaval Universitário. Entre solteiros e namorados, o grupo está bem dividido. Mas, para quem é solteiro, engatar um relacionamento, eles dizem em coro: “só se for aprovado pela galera!”.
Para cada folia um abadá personalizado. Luana Grybosi, publicitária de 26 anos, costuma criar três modelos diferentes e a aprovação é feita por eleição. “Esse ano a frase é: ‘Quem é AÇAÍ?’”, explica Luana, uma brincadeira com a cena de Ivete Sangalo com ciúme do marido durante um show, que virou meme de internet. Eles revelam que, normalmente, há quem se dê bem por conta da camiseta, que já foi trocada por um beijo. Além disso, o grupo faz a alegria da criançada. “Uma senhora pediu o abadá para a sua filha de 8 anos, porque ela gostava muito da Peppa Pig (que aparece na camiseta). Não tive como negar”, conta Fábio Barbosa, 28 anos, que trabalha com logística. O grupo é tão família que Maureen Macedo, 26 anos, relações públicas, levou o irmão caçula, Leonardo Macedo, 19 anos, para completar o time.
O grupo celebrando em 2015 em SC. Foto: Arquivo pessoal.
O grupo celebrando em 2015 em SC. Foto: Arquivo pessoal.
À moda antiga
“Os pais do meu marido são de Antonina e sempre tiveram o costume de curtir por lá”. Foi assim que a auxiliar de marketing Thaine Hess, 23 anos, começou a explicar por que passa o carnaval no mesmo lugar há oito anos. Ela, a família do marido e alguns amigos que se tornaram adeptos da tradição e costumam fazer fantasias (para mulheres) , além de encorajar os meninos a saírem vestidos de mulher no “Bloco das Escandalosas”, na segunda-feira.
“É a época do ano em que conseguimos reunir o maior número de amigos. Chegamos a ficar em mais de 30 na mesma casa”, conta. Grávida de cinco meses, Thaine lembra que outras duas amigas que tiveram filhos ficaram dois anos longe da turma, e que, daqui a pouco, já vão poder passar a tradição para mais uma geração. “Vamos fazer o bloco das crianças”, diz.
Em clima de festa. Foto: Arquivo pessoal.
Em clima de festa. Foto: Arquivo pessoal.
Depois de passar momentos de aflição enquanto a Prefeitura de Antonina não voltava atrás com relação ao cancelamento da folia de Momo na cidade do litoral paranaense, Camila Dias Carvalho, publicitária, 24 anos, vai poder desfilar sua fantasia de Thor. Com outras 15 amigas, ela vai para a rua formando sua “Liga da Justiça”. Em outro ano, os amigos chegaram a desfilar pela Escola de Samba do Batel, que se apresenta no carnaval da cidade: “fizemos parte da comissão de frente e estávamos todos vestidos – em casais – para um baile de máscara. Teve até coreografia”, recorda.
Ezequiel de Moraes Silva, 32 anos, administrador, é um dos amigos que só conheceu o carnaval de Antonina por causa de Thaine. Ele já se vestiu de Batman e Super-homem e é figurinha carimbada do Bloco das Escandalosas. “É claro que a gente fica um pouco receoso de se vestir de mulher, mas quando entra na brincadeira é muito divertido. Todos os homens da cidade entram na onda”, conta.
Se já aconteceu alguma coisa engraçada? “Uma vez a polícia parou o meu carro e eu tive que descer vestido de mulher. Levei multa porque estava de salto alto. O carro estava lotado de ‘escandalosas’”, conta. Depois disso, todos eles abandonaram o uso das sandálias altas – principalmente por conta do conforto. “A gente começa a se arrumar desde cedo e precisa da ajuda das meninas”, conta Luan Dante Lombrado, 26 anos, que trabalha com programação.
Folia em alto mar
Tudo começou quando a comerciante Cristiane Hoshino, 40 anos, resolveu ir sozinha para o Carnavio, cruzeiro que atravessa trechos da costa brasileira durante o carnaval, há três anos. Lá, fez amizade com pessoas de todo o país e conheceu muita gente de Curitiba. Depois que voltaram, passaram a se encontrar com frequência, transformando o grupo em amigos próximos. “A convivência lá dentro é muito intensa. Você se aproxima mais de algumas pessoas e passa sete dias com elas”, justifica.
Ao centro, a “fundadora” do grupo que vai no Carnavio, Cristiane Hoshino com os amigos Tiago Andreassa e Joaquim Barbosa  Junior. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
Ao centro, a “fundadora” do grupo que vai no Carnavio, Cristiane Hoshino com os amigos Tiago Andreassa e Joaquim Barbosa Junior. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
Parte do grupo que está no Carnavio: todos já com os abadás deste ano para a folia de Momo  em pleno  alto mar. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
Parte do grupo que está no Carnavio: todos já com os abadás deste ano para a folia de Momo em pleno alto mar. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
No segundo ano, ela e um grupo de quatro amigos oriundos do primeiro Carnavio se juntaram a outros 42 curitibanos para encarar uma nova viagem. Em alto mar, Cristiane brinca que se sente praticamente em outro planeta: “você fica sem celular, dorme no máximo três ou quatro horas por dia e não precisa de dinheiro”, diz. Desde julho passado, o grupo de amigos que vai para a viagem este ano se comunica via Whatsapp e se encontra semanalmente.
O advogado Tiago Andreassa Savi, 33 anos, é veterano na viagem. Participou do Carnavio quatro vezes e conhece Cristiane há três anos. Ele diz que viajar entre amigos o deixa mais seguro e fazer grupos grandes permite “tropeçar em conhecidos o tempo todo”. Neste ano, Tiago chegou a titubear e quase não participou do grupo. “Mas é difícil você encontrar uma galera tão legal e com energia tão boa como lá”, comenta.
A turma se divertindo durante o cruzeiro pela costa brasileira  no ano  passado. Foto: Arquivo pessoal.
A turma se divertindo durante o cruzeiro pela costa brasileira no ano passado. Foto: Arquivo pessoal.
Quando os amigos desistiram de acompanhá-lo, Joaquim Barbosa Junior, supervisor de produção, 33 anos, encontrou o grupo de Cris no Facebook e pediu para ser adicionado. “Conheci pessoas que quero levar para o resto da vida e falo todo dia com eles. Fico pensando nisso tudo depois do navio”, comenta.