Comportamento

Bruna Covacci

Iris Apfel, o exemplo do que é envelhecer bem

Bruna Covacci
29/09/2015 12:17
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Todo mundo quer saber a visão que há por trás dos seus gigantescos óculos redondos. Aos 94 anos, a decoradora nova-iorquina Iris Apfel não foi e nem é estilista, modelo ou editora de moda, mas isso não impediu que ela se tornasse um ícone de estilo, daqueles que carregam informação fashion em cada look que vestem e têm bons quotes sobre a indústria.
Iris em seu apartamento.
Iris em seu apartamento.
Entre 2005 e 2006, foi tema da exposição “Rara Avis: Selections from the Iris Barrel Apfel Collection”, que aconteceu no Metropolitan Museum; em 2007, apresentou peças de seu guarda-roupa para o livro “Rare Bird of Fashion: The Irreverent Iris Apfel”; em 2011, fechou parceria com a M.A.C para lançar uma coleção de maquiagem; e ainda anunciou, para 2013, uma linha de óculos em colaboração com a marca eyebobs. Já foi capa da “Dazed & Confused”, e, neste ano, teve sua vida agitadíssima dirigida por Albert Maysles (que morreu em março).
Editorial da revista Dazed & Confused.
Editorial da revista Dazed & Confused.
Para celebrar a sua alegria e jovialidade em plena quarta idade, assistimos ao documentário “Iris”, disponibilizado no Netflix e, a partir dele, elencamos frases e curiosidades que fazem a personagem ainda mais interessante.

Envelhecimento
“Envelhecer não é para maricas, vou te contar. É muito engraçado”. No documentário, mesmo com dificuldade para andar e muitas vezes em cadeiras de rodas, Iris mostra que faz questão de fazer compras em lojas de rua e manter seu dia com a agenda lotada. Para ela, se você deixa de fazer aquilo que está acostumado por causa da idade, simplesmente vai ficar esperando morrer, sem poder se divertir. É como cair numa armadilha. “Quando sua mente está ocupada, você não sente tanta dor. Graças a Deus eu amo fazer coisas. Eu me sinto abençoada por ter todas essas oportunidades nessa fase da vida”. Só de telefonemas, às vezes Iris recebe mais de 50 num só dia!
Ela não se acha bonita, mas é feliz por ter se tornado uma pessoa que ela mesma considera interessante. “Quando não se é bonito você é instigado a fazer algo diferente para se destacar”, diz. Se ela não pensou em fazer alguma cirurgia plástica? “Eu sou contra. A menos que Deus tenha te dado um nariz de Pinóquio ou você tenha sido queimada. Você não sabe qual vai ser o resultado, pode ser pior”.
Moda
“Aprendi com minha mãe que apenas com um vestido preto, mudando os acessórios, você pode ir a qualquer lugar, incluindo uma festa de gala”. Para ela, mais divertido do que ser convidado ou ir a uma festa é poder se vestir para ela.
Mais uma foto do editorial Dazed & Confused.
Mais uma foto do editorial Dazed & Confused.
“A vida é cinza e sem graça. Quando você se veste é possível divertir as pessoas. E as cores podem ressuscitar os mortos”. Ela acredita ter sido a primeira mulher a usar uma calça jeans nos anos 1940, principalmente pela dificuldade que foi para conseguir comprar a peça masculina. “Não me venderam. Eu voltei na loja mais de três vezes até conseguir”.
Os acessórios grandes são o seu marco.
Os acessórios grandes são o seu marco.
Vivida, afirma que o essencial da moda se perdeu com o tempo. “É triste que os estilistas hoje não costurem e não tenham senso de história. Eles pegam peças de desfiles antigos, mudam um botão e conseguem vender horrores. É sofrível”. Para ela, se precisar optar, é melhor sempre ser feliz do que bem vestido.
“Odeio quando as peças parecem combinadas, elas precisam parecer únicas”, a frase explica seu estilo e sua excentricidade. Em controvérsia do que muitos esperam dela, Iris não gosta do conceito de bonito, sabe que a maioria do mundo não concorda com ela, mas não se importa.
Decoração
Trabalhando como decoradora, ainda jovem, clicada pelo marido Carl.
Trabalhando como decoradora, ainda jovem, clicada pelo marido Carl.
Quando se deparou com o problema de não encontrar o tecido perfeito para os projetos que estava fazendo, enquanto trabalhava como decoradora, procurou um tecelão e, tempos depois, fundou a Old World Weavers, uma empresa de tecidos de decoração, que teve clientes tão prestigiantes como Greta Garbo e Estée Lauder.
Com o crescimento da empresa, que se tornou responsável por vários projetos de decoração e restauro para a Casa Branca, ela e seu marido Carl Apfel, que faleceu em agosto aos 100 anos, conheceram o mundo todo.
Mais um retrato de Isis feito por Carl, na Tunísia.
Mais um retrato de Isis feito por Carl, na Tunísia.
Seu apartamento em Manhattan, localizado na Park Avenue é o seu retrato fiel. A mistura de requintadas cadeiras francesas, caixas pintadas genovesas, xales paisley antigos, santos mexicanos, e muitos outros itens adquiridos por Apfel e seu marido Carl nas inúmeras viagens, funciona de modo admirável.
Mesmo sem filhos, ela mantém a decoração de Natal (com direito a ursinhos, renas e trenzinhos) ativa todos os dias do ano.