Comportamento

Talita Boros Voitch*

Para jogar de graça ou alugar: casas de jogos de tabuleiros ganham adeptos

Talita Boros Voitch*
13/07/2017 11:00
Thumbnail

Detalhe de um dos jogos de tabuleiro mais famosos do mundo: o Terra Mystica. (Foto: Reprodução/ZMan Games)

É fim da tarde de um dia de semana. Longe das telas e do Wi-Fi, quatro amigos – todos na faixa dos 30 e poucos anos – divertem-se. Sentados à mesa no canto do salão, o grupo ri alto, conversa. Ouve-se uma comemoração. Não, eles não estão em um bar, no happy hour do escritório ou assistindo algum esporte na televisão. Olhando para um tabuleiro com dezenas de soldados, eles estão no meio da partida de um jogo de guerra, em uma das casas especializadas em jogos de tabuleiro em Curitiba.
Isso mesmo. Os tradicionais jogos de tabuleiro arrastam dezenas de pessoas diariamente para esses locais onde é possível alugar títulos e jogar à vontade. E apesar de remeterem à infância, os jogos de tabuleiro de hoje não são nada antiquados. Com foco militar ou mais voltados a capacidades administrativas, a maioria tem regras e objetivos bastante elaborados e alguns podem levar até 12 horas para ter uma partida finalizada. Outros levam menos de 10 minutos, mas não são necessariamente menos estimulantes.
Himsky Massaoka, dono da Funbox, no Centro da cidade, explica que a casa fica cheia em dias chuvosos ou mais frios, principalmente aos sábados. Ao todo são mais ou menos 1.000 jogos disponíveis no acervo, desde os mais simples, como o xadrez, até os lançamentos internacionais mais recentes. Quem opta por jogar lá não paga nada para usá-los, mas caso queira levar o jogo para casa é cobrado um aluguel que vai de R$ 7 a R$ 50 por semana. “Grande parte das pessoas que aparecem por aqui vira usuário cativo. Aqui não fazemos clientes, fazemos amigos. Essa é a ideia dos jogos de tabuleiro”, diz Massaoka.
Ele conta que o perfil médio dos jogadores de tabuleiro é de homens jovens adultos, mas também é possível ver mulheres e crianças jogando nas mesas. É o caso da dona de casa Sibele Fernandes, que trouxe o filho Arthur, de 7 anos, para jogar pela segunda vez. “É muito bom porque aqui fico mais focada no jogo, sem me distrair com as tarefas de casa. O ambiente também é bastante amistoso”, diz.
Mãe e filho disputavam uma partida de um jogo alemão de corrida de avestruzes. Massaoka explicou para a dupla as regras. O mais legal é que isso é comum. Os jogadores podem não saber como funciona determinado jogo, mas o pessoal que trabalha na loja ajuda com orientação. Então, mesmo quem não está acostumado com as regras, pode aprender a jogar na hora e se divertir. Não há restrições.
Os jogos norte-americanos são mais voltados a estratégias militares e guerras, com peões ricos em detalhes, como miniaturas perfeitas. Já os europeus têm mais foco administrativo, onde conta mais a competência e a eficiência dos jogadores em realizar determinada tarefa. Neste caso, a estética das peças utilizadas no tabuleiro é menos importante. Há também os chamados “party games”, que são jogos mais rápidos, com grande interação social e voltado para um número maior de jogadores.
Na Funbox, nos segundos sábados de cada mês a casa abre durante toda a madrugada para uma maratona de jogos de tabuleiro. O chamado “Corujão” funciona das 22h às 6h da manhã de domingo e reúne dezenas de jogadores. No evento, é cobrada entrada de R$ 20, que são revertidos em consumação de comida e bebida.
De acordo com a professora Angelina Pandita Pereira, do curso de psicologia da Universidade Anhembi-Morumbi, os jogos de tabuleiro, além de divertir, podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades como atenção, socialização e de conduta por parte dos jogadores. “Porém é importante enfatizar que o jogo em si não desenvolve habilidades. Ele é a maneira como, socialmente, será apropriado pelas pessoas que o jogam. As regras é que possibilitarão as oportunidades de desenvolvimento”, afirma.

Confira a seleção de jogos de tabuleiro feita pelo Viver Bem:

Coup (2013) / 5-6 jogadores / 20 minutos / Iniciante

Em um jogo de muito blefe e carteirada, os participantes tentam convencer os outros que são mais importantes do que realmente são para ganhar influência (e dinheiro) entre os amigos do rei. É um golpe atrás do outro.

Dixit (2008) / 4-6 jogadores / 30 minutos / Iniciante

Imagine o popular Imagem & Ação, mas começando pelos desenhos, ao invés das palavras. Os jogadores precisam ter uma boa dose de imaginação para criar histórias a partir de ilustrações psicodélicas. Ganha pontos quem consegue convencer os outros de que as suas viagens fazem sentido.

Pandemic Legacy – Season 1 (2015) – 2-4 jogadores / 1h30 / Intermediário

Considerado o melhor jogo de tabuleiro de todos os tempos no principal site sobre o hobby (BoardGameGeek), o jogo inova por ter “temporadas”, como a série de TV. Em cada partida, os jogadores trabalham cooperativamente, contra o tabuleiro, para controlar epidemias que ameaçam dizimar a população da Terra. Mas a cada jogo o “roteiro” avança, revelando surpresas não apenas na história: as regras, e até os componentes do jogo mudam ao longo das partidas, dependendo das decisões dos jogadores.

Scythe (2016) – 4-5 jogadores / 3h / Avançado

Um tabuleiro gigante, cheio de miniaturas de robôs, heroís e trabalhadores, faz referência à Rússia de 100 anos atrás. Neste mundo paralelo, os jogadores traçam estratégias para conquistar mais terreno e ter mais tropas no mapa. Mas, diferente do War, é possível ganhar sem dar um tiro ou rolar um dado, apenas investindo na indústria e agricultura para melhorar a vida da população.
*Colaborou Pedro Burgos
LEIA TAMBÉM