Comportamento

Amanda Milléo

Brincadeiras arriscadas trazem benefícios às crianças

Amanda Milléo
29/12/2015 09:00
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(Foto: Bigstock)

Deixar a criança livre para pular, escalar, correr e até se perder não é tão perigoso quanto os pais acreditam ser. Um estudo publicado em junho deste ano no International Journal of Environmental Research and Public Health mostra que as brincadeiras mais arriscadas melhoram a autoestima, resiliência e senso de responsabilidade da criança, além de reduzir as chances de doenças crônicas na idade adulta. Mariana Brussoni, professora associada do departamento de pediatria da faculdade de medicina da University of British Columbia e uma das autoras do estudo, puxa a orelha dos pais: “Tome decisões com base na capacidade da criança, e não nos seus próprios medos e ansiedades.”
Há pais que são superprotetores e há os relapsos. Como ficar entre os extremos, mas deixar os filhos mais livres?
Deixar as crianças mais livres não significa que o filho que completou oito ou nove anos, de repente, saberá cruzar uma rua movimentada. As crianças precisam receber, aos poucos, oportunidades de desenvolverem habilidades, e os pais não podem deixar a ansiedade ou o receio acima da capacidade da criança. Também é preciso ver o contexto. Deixar a criança ir sozinha para o colégio vai depender da competência em atravessar a rua sozinha, mas também da vizinhança. Se são ruas movimentadas, violentas, ou se é um bairro tranquilo.
Quais os principais benefícios que as crianças ganham quando fazem atividades sozinhas, longe da vista dos pais?
Atividades de risco ajudam as crianças a desenvolverem seus próprios planos de ação e prever as consequências de seus atos. Dá a elas um senso de domínio e controle, além de promover o senso de responsabilidade, habilidades sociais, cognitivas, resiliência e funções motoras. A conexão com a natureza e com a comunidade também ajuda no senso de pertencimento. A autoregulação dará ainda habilidade para lidar com o estresse na vida adulta.
Mas, e os riscos quando as crianças estão sozinhas?
É importante separar o conceito de “risco” de “perigo/azar”. Uma situação de risco, como subir em uma árvore, a criança consegue reconhecer. Uma situação de perigo, ou azar, a criança pode não conseguir reconhecer ou não ter as capacidades para resolver o problema, como uma mudança na corrente do rio, enquanto ela está nadando. É possível identificar e minimizar o perigo/azar pelas crianças, mas ainda mantê-las nos riscos.
Qual seria a explicação para os pais de hoje serem superprotetores dos filhos?
É uma tendência social que começou por volta de 1980 na América do Norte. A estrutura política neoliberal coloca nos pais a responsabilidade de criar crianças que atinjam todo o seu potencial. Esses pais seguiram mantendo o controle da vida dos filhos o máximo possível para que isso acontecesse. Ao mesmo tempo, cresceu a expectativa que seria possível e imperativo o controle de riscos na vida das crianças.
Sem riscos
Estatísticas de ferimentos sérios em crianças no Canadá indicam que as taxas são baixas, particularmente quando se pensa no tempo em que as crianças passam brincando. Uma recente revisão de Nauta et al. indica que a taxa de ferimento durante as brincadeiras era 0,15 para cada mil horas. Isso significa ter de brincar três horas por dia durante mais de 10 anos para cada ocorrência de ferimento. Por outro lado, taxas de obesidade e sedentarismo só crescem.
Benefícios
Entre o que se desenvolve em crianças que encaram atividades de risco estão estimulá-las a fazer seus próprios planos de ação e prever as consequências de seus atos. Elas também ganham um senso de domínio e controle e de responsabilidade, habilidades sociais, cognitivas, resiliência e funções motoras. A conexão com a natureza e com a comunidade também ajuda no senso de pertencimento. A autoregulação dá ainda habilidade para lidar com o estresse na vida adulta.
Dicas da “pior mãe do mundo”
A jornalista norte-americana Lenore Skenazy criou o movimento Free Range Kids (crianças criadas soltas, em tradução livre), em que prega a confiança na capacidade delas de se virarem sozinhas. O Viver Bem Filhos conversou por telefone com ela e trouxe dicas:
Padaria
Pense no que você podia fazer na infância e no que seu filho não tem a permissão de fazer, e o libere pelo menos uma vez. Deixe-o ir de bicicleta à padaria, mercado ou escola, e peça que volte logo. Depois disso, você se sentirá mais confiante.
Escola
Há pais que atrapalham algumas atividades de escola e do dia a dia. Cortar o cabelo, por exemplo, não precisa da fiscalização paterna. Fazer as tarefas também não é algo que exija a presença dos pais.