Comportamento

Júlia Ledur, especial para a Gazeta do Povo

“Mas já é dezembro?” Por que temos a sensação de que o tempo voa?

Júlia Ledur, especial para a Gazeta do Povo
03/12/2016 18:54
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Estamos a 28 dias de 2017. Todo ano, nas rodas de conversa, é recorrente o clichê de que os meses “voaram”, já é dezembro e “parece que foi ontem” a despedida do ano anterior. Neste ano não seria diferente. “Eu ainda não estou no clima de Natal, porque o ano passou tão rápido”, afirma a médica Giovana Panko. Mas a sensação do tempo veloz é potencializada por alguns fatores: o tempo frio, nebuloso e com muita chuva em Curitiba é um deles. “O clima influencia também, com toda essa chuva. Uma hora está frio, outra hora está quente. Não dá para entender. Não parece que é dezembro”, diz a vendedora autônoma Elenita Cunha Zanella, que aproveitou o dia nublado para passear no Shopping Curitiba.
Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
Natal. Ano Novo. Dezembro. Aqui no Brasil, essas palavras normalmente remetem ao calor, às festas e celebrações. Mas o tempo fechado traz, junto com a necessidade de usar os casacos mais grossos, uma sensação confusa, de que ainda tem muito 2016 pela frente.
De fato, fatores externos do ambiente influenciam na percepção das pessoas com relação à época vivida. “Somos eminentemente animais mamíferos e o nosso cérebro é regulado pelo clima, pelo tempo”, explica cientificamente a psicóloga Semiramis Vedovatto. “A presença do sol, do calor e do frio vai norteando o nosso organismo, biologicamente, como estratégia de sobrevivência. Essa modulação do nosso comportamento pelo clima é inconsciente”, completa.
Além do tempo, outro fator que determina a mudança de perspectiva sobre o final do ano é a crise econômica que o país enfrenta. A recessão causa estranheza com relação ao período – característico de muitas compras – se comparado a anos anteriores. “O Natal sempre é bom pra todo mundo, mas com esse sistema que nós estamos vivendo na parte política, com tudo aumentando [de preço] e o salário não aumenta, existe uma incerteza sobre o futuro, sobre os próximos dois anos, que a gente sabe que serão de crise grande. A gente fica receoso”, ressalta o médico Julio Nahas. “Estou sentindo esse ano diferente dos outros, por causa da crise que está atingindo todo mundo. A euforia do clima natalino está diferente”, concorda Elenita.
A percepção menos entusiasmada sobre a época também está relacionada a um acontecimento recente que abalou o país: o acidente de avião em Medellín, que vitimou 71 pessoas, entre integrantes da delegação da Chapecoense, profissionais da imprensa e tripulantes. “Infelizmente, devido às notícias desse acidente de avião, parece que a gente ainda nem pensou no Natal direito, nesse sentimento de nascimento, de amor. E a gente tem estado muito triste”, lamenta a pedagoga Fabiana Silva.
A pedagoga Fabiana Silva foi ao shopping com a família para fazer compras. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
A pedagoga Fabiana Silva foi ao shopping com a família para fazer compras. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo
De acordo com Semiramis, a conclusão do ano motiva as pessoas a refletirem sobre o passado e o futuro e também sobre os significados das celebrações. “Na festividade cristã, o nascimento é sempre uma felicidade, um acontecimento, uma esperança. Acho que as pessoas entram muito no campo dessa perspectiva que vai se abrindo para elas“, opina a psicóloga. “Por outro lado, olham para trás e pensam no que elas fizeram durante o ano, refletem”.
No geral, apesar das notícias de 2016 não terem sido as melhores, o balanço do sentimento de fim de ano é positivo. “Agora vendo essa decoração, passeando, o sentimento natalino está começando a acender nos nossos corações. O ano está acabando e vamos comemorar ainda mais a vida junto à família, depois de tudo isso que aconteceu”, afirma Fabiana, que passeava com a família no Shopping Curitiba. O marido dela, Ronaldo Silva, concorda. “A vida continua, a esperança de um Brasil melhor continua”, diz.
O significado esperançoso do Natal e do Ano Novo, apesar de mais discreto, permanece. “O final de ano, por si só, já traz esse conforto, essa alegria de viver”, destaca Julio Nahas, com um sorriso no rosto.
Os médicos Julio Nahas e Giovana Panko com a filha Beatriz de 2 anos, em passeio pelo Shopping Curitiba. Foto: André Rodrigues.
Os médicos Julio Nahas e Giovana Panko com a filha Beatriz de 2 anos, em passeio pelo Shopping Curitiba. Foto: André Rodrigues.
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