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Mitie Taketani está quase 30 anos à frente de uma das principais lojas de quadrinhos de Curitiba. Foto: Gosmma.
Mitie Taketani está quase 30 anos à frente de uma das principais lojas de quadrinhos de Curitiba. Foto: Gosmma. | Foto:

Ela veio de São Paulo na década de 1980, quando o cenário underground fervia no trecho entra a capital paulista e Curitiba. Apesar do frio, foi em território curitibano que Mitie Taketami e o marido Francisco Utrabo, decidiram montar a Itiban Comics Shop, que há 28 anos acolhe e impulsiona artistas de quadrinhos de todo o mundo, com um incontável acervo que tem, até hoje, curadoria minuciosa de Mitie.

Antes da Itiban, porém, ela já circulava entre amigos que apostavam numa ideologia voltada à cultura de todos os gêneros. Foi em São Paulo que ela conheceu o curitibano Utrabo, na icônica e já extinta boate paulista Madame Satã. Ele músico, ela dançarina. Juntos decidiram investir numa pequena loja de quadrinhos na Visconde do Rio Branco, já em Curitiba. Apesar de achar a cidade “gelada” foi aqui que resolveu desenhar os próprios traços.

Francisco Utrabo e Mitie Taketani; Foto: divulgação.
Francisco Utrabo e Mitie Taketani; Foto: divulgação.

Na pequena loja, recebiam amigos para lançamentos e shows, incluindo o hoje consagrado Lourenço Mutarelli. “O Mutarelli faz parte da história da loja e até hoje o recebemos, mesmo que ele esteja mais voltado para literatura”, diz.

Enquanto elaborava um dos acervos de quadrinhos mais importantes da cidade, Mitie começou a criar seu próprio círculo de amizades por aqui. Da dança ao teatro, subiu aos palcos curitibanos. Fez um teste para um musical com Letícia Sabatella e Katia Drummond e integrou o elenco de peças infantis com Regina Vogue, além de trabalhar com a União dos Artistas Independentes Contemporâneos de Curitiba.

Foi no meio desse cenário que as filhas, Yasmin e Tami, hoje com 26 e 21 anos, respectivamente nasceram. “Então passei a me dedicar a elas e à loja”, conta. Nesse meio tempo, a Itiban Comics Shop passou ainda por outro endereço, na Marechal Deodoro, antes se estabelecer na Silva Jardim, um endereço frequentado por estudantes, jornalistas, publicitários e profissionais e todas as áreas que tem em comum o amor pelos quadrinhos. Nos três endereços centenas eventos já foram realizados nos últimos 30 anos.

Lourenço Mutarelli durante evento na Itiban, em 2015. Foto: divulgação
Lourenço Mutarelli durante evento na Itiban, em 2015. Foto: divulgação

“É muito legal ver que quem vinha aqui muito jovem já está trazendo os filhos”, conta. O público que frequenta o local desde que a loja surgiu também ajudou a montar o acervo. Grande agregadora cultural, a loja é um espaço de troca de experiências. E é a partir dos intensos bate-papos que acontecem ali que ela escolhe o que vai vender.

As recomendações mudam com o tempo. Atualmente, ela indica: Modelo Vivo, de Laerte; Holandeses, uma volta ao quadrinhos do antropólogo, historiador e artista plástico André Toral e a graphic novel israelense A Propriedade, de Rutu Modan, para citar alguns.

Mas quem quiser mais indicações, fique à vontade para conversar com Mitie. Acessível, é ela quem está atrás do balcão todos os dias, com atendimento personalizado para cada cliente. “Eu sempre pergunto o que a pessoa gosta de ler, de assistir, de ver. De alguma forma eu me sinto responsável pela formação do público, na descoberta de novos autores e de uma nova forma de ver a vida”, diz.

E o futuro? O futuro é resistência, quase um retorno aos anos áureos dos quadrinhos de 30 anos atrás, mas em um cenário completamente distinto. Se por um lado o acesso à informação e aos autores é muito mais amplo, por outro os consumidores ávidos por novas obras têm às mãos um mercado virtual quase infinito, além das grandes redes de livrarias que reservam espaço (pequenos que sejam) para quadrinhos com promoções tentadoras.

Sobreviver nesse cenário é uma tarefa árdua, mas aos 51 anos, Mitie assume como se atendesse a mais um cliente exigente. “Essa é a minha vida. Pelo Chico Utrabo nós já tínhamos vendido a loja, mas essa é a forma que tenho de me expressar”, salienta. São os riscos que atraem.

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