Comportamento

Redação, colaborou Maria Isabel Miqueletto

Há duas décadas, quadra gratuita na Arthur Bernardes reúne apaixonados por tênis

Redação, colaborou Maria Isabel Miqueletto
03/09/2017 15:21
Thumbnail

Foto: Maria Isabel Miqueletto.

Domingo de sol é dia de achar um local da cidade para fazer atividades ao ar livre. As quadras esportivas da Avenida Presidente Arthur da Silva Bernardes (ou só Arthur Bernardes para os frequentadores), no bairro Vila Izabel, são o point de jogadores de basquete e tênis há mais de 20 anos. O técnico em desenho industrial Edvaldo José Marinho, mais conhecido como Ceará, é um desses casos. “Tenho 47 anos de idade e 20 de quadra. Minhas primeiras raquetadas foram na Arthur”.
As quadras são parte do Centro de Esporte e Lazer Arthur Bernardes, que fica entre a Avenida Presidente Getúlio Vargas e a Rua Ulisses Vieira. Edvaldo começou na época em que tênis não era um esporte comum — e nem barato. Achar equipamentos em Curitiba era difícil e os tenistas mais conhecidos eram de São Paulo. Ainda assim, Ceará jogou no Clube Curitibano e na Federação Paranaense (entre 1997 e 1999). Pelas dificuldades de uma carreira incerta, decidiu focar nos estudos. “Eu não pretendia viver disso porque vi que nem quem tinha dinheiro conseguia, então imagina eu”, comenta. Hoje, joga todas as manhãs de sábado e domingo na quadra da Arthur Bernardes.
O Ceará é integrante assíduo do ATAB — Amigos Tenistas da Arthur Bernardes, um grupo criado pelos praticantes de tênis que frequentam a quadra pública. O ATAB é coisa séria: os integrantes organizam torneios, fazem a limpeza e cuidam da quadra. Há dois anos, o grupo reuniu cerca de R$ 4 mil para pintar a quadra. Há menos de três meses pintaram novamente, mas as pichações já comprometeram o trabalho. O ATAB também já se reuniu para trocar as redes.
A quadra de tênis faz parte das lembranças de infância do professor Ernesto Sobocinski Marczal, 31. Começou a frequentar o local com seu pai há cerca de 20 anos, quando tinha 10, para treinar. “Aqui é um ponto de referência para os praticantes de tênis”, ressalta. Fato que é comprovado pela quantidade de frequentadores — giram em torno de 200 pessoas, segundo o médico e praticante de tênis Francisco Ottmann — e tempo de espera para jogar na quadra; de acordo com o grupo, pode chegar a 1h em horários concorridos.
O torneio organizado pelo ATAB, chamado de “Barragem”, também é concorrido. Segundo Edvaldo, são 100 inscritos e pelo menos 50 na lista de espera. Mas o técnico logo reforça que a quadra é pública, então mesmo durante os jogos agendados pelo grupo as pessoas que chegam podem entrar na fila e usar a quadra.

Além do tênis

Além das quadras esportivas, o local conta com academia ao ar livre, parquinho para as crianças, pista de caminhada e para andar de bicicleta e skate. O professor Edney Tavares, 44, aprecia a avenida justamente pela quantidade de atividades disponíveis. “É minha segunda visita, mas pretendo vir sempre. É maravilhoso porque as pessoas podem vir com a família toda“. Sua esposa Betânia Zanetti, corretora de imóveis, 42, também frequenta o local. “Gosto daqui porque não bate sol, tem as árvores, os aparelhos para fazer exercícios. É muito tranquilo”, reforça.
O basquete também é forte. O empresário Erlon Rodrigo Silva, 40, frequenta a quadra desde 1992. Hoje, mora há 10km, mas ainda continua com o ritual de praticar o esporte na Arthur Bernardes. “Já tem uma cultura de basquete muito forte, várias gerações passaram por aqui, é um ponto de referência”, conta. Segundo Erlon, no verão o espaço fica lotado — mais de 50 pessoas se aglomeram na quadra para jogar. Nos dois grupos de Whatsapp dos praticantes, existem cerca de 400 pessoas.

Melhorias

Para parte dos frequentadores do local — unanimidade entre os entrevistados –, o que falta no local é mais cuidado por parte da Prefeitura. Na quadra de basquete, a reclamação é maior — segundo os praticantes, a cesta deveria ser reformada e as traves de futebol, retiradas (pois já existem muitas quadras do esporte).
Francisco, que frequenta a quadra há 20 anos, tem uma hipótese quanto ao descaso: a quadra é bem cuidada pelo ATAB e, por isso, é deixada de lado pela Prefeitura. “A Prefeitura vê que a gente cuida, então passa a responsabilidade para nós”, completa. O arquiteto Cleverson Tramujas reforça a importância do cuidado: “A galera usa muito essas quadras. Sempre tem gente aqui. Todo mundo frequenta”.
Para o cineasta e consultor em tecnologia Anderson Torres, 39, mais conhecido como Jazz, o número de quadras de tênis públicas está defasado. “É muito tenista para pouca quadra, então está sempre cheio, até por isso escolho vir de manhã”.
A Prefeitura de Curitiba oferece empréstimo de equipamentos para os frequentadores de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Para Edvaldo, o ideal seria que o funcionamento também acontecesse aos fins de semana, pois é quando grande parte dos frequentadores vão praticar esportes. “É importante também para termos um banheiro para usar. Se está fechado, não temos banheiro pra gente”, enfatiza.

* * *

LEIA TAMBÉM: