Comportamento

Eloá Cruz

Quando dar uma segunda chance para o amor vale a pena?

Eloá Cruz
10/06/2016 22:00
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Luís Costa e Naomi Ohashi: redescoberta do amor passou por várias etapas entre namoro, fim da relação e a formação de uma linda família. Fotos: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo

Bem dizia Cartola, o sambista dos corações partidos: “amar sem penar é bem raro, o verbo cumprir custa caro. O amor é bem fácil achar, o que eu acho mais difícil é saber amar”. Quando se fala em amor, também se fala em disposição e determinação. E não é nada fácil conviver com os desencontros e conflitos, naturais de um relacionamento a dois. Pois cada um é único, em experiências, conceitos, valores e sentimentos.
Neste domingo, dia 12 de junho, o Dia dos Namorados inspirou o Viver Bem a contar histórias que estão bem longe das propostas dos contos de fada. Até porque, relacionamentos perfeitos não existem. Dois casais decidiram dar uma segunda chance ao amor e contaram como tiveram essa atitude de coragem.
Não se nasce sabendo amar. Com o tempo, com as experiências dos relacionamentos, vai se aprendendo aos poucos o significado de cumplicidade. Segundo a psicóloga Ana Wilges, um relacionamento pode ser prejudicado por palavras ditas sem pensar, sentimentos que não foram expressados. Para ela, voltar com o ex implica em pensar e estabelecer o que pode ser realmente diferente, para que não se repitam os fatos que contaminaram a relação anterior.
Amor de adolescência
Rodrigo Rieping e Larissa Cabral: namoro, rompimento da relação e final feliz com casamento.
Rodrigo Rieping e Larissa Cabral: namoro, rompimento da relação e final feliz com casamento.
No segundo ano do Ensino Médio, o engenheiro mecânico Rodrigo Rieping, 26 anos, e a arquiteta Larissa Cabral, também 26, se conheceram ao acaso. Ele jogava basquete e ela, vôlei. Mas um empurrãozinho do cupido fez Rodrigo torcer o pé e se juntar à turma de vôlei da escola. Os dois tinham 15 anos: para ele, era a segunda namorada. Larissa namorava pela primeira vez.
Aos poucos os dois foram se conhecendo, combinavam de jogar nas horas vagas. Foram ficando, ficando… O tempo foi passando e os dois continuaram juntos. Terminaram o Ensino Médio, passaram no vestibular e entraram na faculdade. “Eu fiz Positivo e ela PUC. A gente morava perto um do outro, mas com os estudos ficava mais difícil de se ver”, conta o engenheiro mecânico.
A relação foi esfriando e Larissa decidiu terminar. “Eu pensava no futuro, em conhecer outras pessoas e também fazer com que ele tivesse mais meninas na vida dele, até para ele me valorizar. As pessoas perguntavam: ‘mas você gosta dele e vai terminar?’ Eu pensava que era melhor agora que depois”, explica ela. Larissa disse que terminou, mas sem a preocupação de que os dois poderiam voltar algum dia.
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Foi um ano de separação, os dois continuaram se falando nesse período e Rodrigo teve outro relacionamento nesse tempo. Até que passada toda a “euforia” de festas e churrascos da faculdade, os dois voltaram a sair novamente. “Ela reclamava que eu nunca tinha feito um pedido oficial de namoro.
Então num feriado do dia 7 de setembro, estávamos na praia, eu levei ela para a beira-mar, durante o pôr-do-sol, e fiz o pedido”, lembra Rodrigo.
O receio de voltar e depois não dar certo existia, pois os amigos do casal contavam experiências entre ex-namorados que não deram certo. “Se você enjoa da pessoa e volta, é mais fácil de enjoar de novo. O peso de terminar pela segunda vez ia ser bem maior”, afirma Rodrigo. Em 2010, os dois combinaram de fazer intercâmbio juntos. Foram três meses em Middletown, Rhode Island, nos Estados Unidos.
Como os sentimentos ficam aflorados no intercâmbio, Rodrigo teve a ideia de pedir Larissa em casamento durante a viagem. “A parte mais legal quando se começa um relacionamento são as primeiras coisas, o primeiro beijo, o frio na barriga. Eu tinha esse frio na barriga quando eu pedi ela em casamento”, recorda ele. Os dois se casaram no dia 25 de janeiro de 2014.
Um ano de distância
Luís Costa e Naomi Ohashi
Luís Costa e Naomi Ohashi
O músico Luís Costa e a advogada Naomi Ohashi, ambos com 31 anos, se conheceram numa festa da turma da vizinhança – os dois tinham 17 anos. Com alguns encontros, logo os dois começaram a namorar. “Ele ficou meio resistente no começo, mas aceitou”, lembra Naomi. No primeiro ano do relacionamento, os dois estudavam para se preparar para o vestibular. Ela passou em Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e acabou se mudando.
Naomi não queria se mudar, pois não queria ficar longe de Luís. “Ficamos na dúvida de terminar quando eu me mudei. Fomos levando a relação até que brigamos quando eu estava cursando a metade do curso”, explica a advogada. Mas, antes do término, ela ficou grávida e o pequeno Lucas nasceu – hoje ele tem 11 anos.
Lucas nasceu no mês de janeiro, bem no meio das férias da faculdade. “Eu pensei em desistir do curso. Vim para Curitiba e não conseguia ficar na cidade. Resolvi voltar para Londrina, com ele pequenininho mesmo, e continuar os estudos”, explica a advogada. Mesmo quase estourando em falta, a estudante conseguiu terminar o ano letivo, mas uma briga com Luís fez com que a relação terminasse.
Os dois levavam o relacionamento à distância até então e o primeiro rompimento durou quase um ano. “Minha sogra ligava sempre para saber do Lucas. Depois de um tempo, a gente começou a se falar, aí voltamos”, relembra. Naomi terminou a faculdade e ficou na expectativa de casar. E de 2007 a 2013, ela esperou uma resposta do Luís, mas ele queria investir na carreira de músico e só queria casar quando as coisas estivessem mais encaminhadas. Então, no fim de 2013, os dois terminaram. “Foi bem triste, porque dessa vez era para ser para sempre. Tivemos que explicar para o Lucas, que já entendia a situação”, lembra Naomi.
E o que era para ser definitivo, acabou durando oito meses. Luís pediu para voltar e estava determinado a casar. “Nada fazia sentido sem eles. Eu queria estar com a minha família e com o amor da minha vida”, afirma o músico. Os dois estão casados há um ano.
ENTREVISTA
Voltar com o ex vale a pena?
De acordo com a psicóloga Ana Wilges, é possível voltar a se relacionar, desde que haja disponibilidade interna das duas partes e uma relação embasada no respeito, no diálogo e na busca de equilíbrio. Confira a entrevista completa com a especialista:
É possível voltar com o ex e esquecer dos problemas do relacionamento do passado?
Para que o relacionamento possa dar certo após uma interrupção, é importante que o casal considere que eles estão apostando na continuidade da relação e, ao mesmo tempo, reiniciando uma nova etapa e se propondo a agir de modo diferente. Voltar com o ex implica pensar e estabelecer o que pode ser diferente para que não se repitam os fatos que contaminaram a relação anterior.
O casal precisa sentar e conversar para acertar as brigas anteriores?
A cada rompimento há uma cicatriz, com a qual se pode conviver e superar. Estas marcas podem servir para o amadurecimento, se soubermos olhar a situação de forma consciente. É preciso falar sobre as questões difíceis, os desentendimentos e buscar um consenso. Nessa conversa, é importante sermos humildes e pensarmos na nossa parcela, nos pontos que precisamos melhorar, no quanto estamos dispostos a mudar ou ceder – ao contrário de culpar e atacar o outro.
O retorno com o ex pode causar algum tipo de desgaste emocional?
O desgaste pode acontecer quando a pessoa não elaborou de forma adequada o rompimento. A pessoa fica aprisionada aos seus medos, com receio de ser “atacada” a qualquer momento, de repetir a situação que viveu. Para se defender, ela cria uma armadura que a impede de se sentir à vontade e de viver de forma tranquila e saudável, o que gera um grande desgaste emocional. Nesses casos, é importante o acompanhamento com o psicólogo.
Como saber se vale a pena voltar a se relacionar? Como as duas partes devem se comportar?
Para dar esse passo precisamos colocar na balança uma série de aspectos da história do casal. Retomar um relacionamento demanda esforços das duas partes, senão um acabará se anulando. E, dependendo do problema, não se resolve em um mês ou com uma promessa. Ter uma visão clara do que ocorreu não é uma conquista imediata para compreendermos as reações emocionais precisamos de tempo.
Quais são os tipos de relacionamento que não valem a pena reatar?
Quando alguém se submete ao outro para manter a relação. Nesses casos, as características individuais são cerceadas, as trocas que são tão importantes numa relação são anuladas;
– Quando não existe afinidade entre o casal, quando os objetivos de vida não são compartilhados potencializando embates;
– Quando as mágoas não foram bem resolvidas, as questões que ficaram em aberto voltam e contaminam a relação. Nesses casos, o ressentimento prevalece e o amor acaba não sendo suficiente para reatar;
– Quando o objetivo é uma conveniência e não o bem do casal. Por exemplo, uma parte quer reatar porque precisa financeiramente do outro; quer reatar para não dividir bens; quer reatar porque não sabe ficar sozinho; etc.
Existe um tempo médio para que cada pessoa saiba avaliar se o retorno ainda é saudade do passado ou um recomeço de algo novo?
Após uma separação, o período de luto pela perda do ser amado varia de pessoa para pessoa. É vital respeitar o ritmo que cada um precisa para elaborar este momento. De modo geral, o período de luto dura aproximadamente oito meses e cada pessoa reage de modo diferente, algumas querem ficar reclusas, outras querem sair para esquecer e outras querem preencher o vazio com outra pessoa. Qual a melhor saída? Depende da condição psíquica de cada um, mas considero importante reservar um tempo para ficar sozinho depois do fim da relação, para aceitar o término e se conhecer melhor.