Comportamento

Amanda Milléo

“Trocar fraldas é a parte mais fácil da paternidade”, diz Papai Comédia

Amanda Milléo
10/08/2017 18:00
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(Foto: Fabio Augusto / Divulgação) | Foto Fábio Augusto

O sentimento de paternidade veio em forma de estalos no coração, na vida de Fernando Strombeck. Engenheiro, comediante e autor do livro “Papai Comédia“, lançado neste ano pela editora Belas Letras, Fernando não sabia o que seria se transformar em um pai e, mesmo agora, com a filha completando 1 ano de vida, ainda não sabe se a paternidade chegou por completo. “A paternidade é algo ainda sendo construído em mim. Cada dia eu descubro algo e me apaixono mais pela minha filha”, diz o autor.
Ao descobrir a gestação da esposa, e curioso para entender o que viria dali para frente, Fernando procurou sites, blogs, livros e páginas que tratassem da gestação sob a perspectiva dos pais – e não encontrou muita coisa. Basicamente, as mães dominavam o assunto, por motivos óbvios. Mas, em uma sociedade em que, cada vez mais, se discute o papel dos pais na criação dos filhos – uma paternidade mais participativa – ter a versão do pai nesse momento é fundamental. E foi isso que ele fez no livro “Papai Comédia“, onde relata todas as experiências – desde quando a esposa tentou cortar a fila do ultrassom porque estava grávida (ao lado de outras sete gestantes), até quando as tias-avós e senhorinhas vizinhas tentaram adivinhar o sexo do bebê e afirmaram: “Eu nunca errei!”
O Viver Bem conversou com exclusividade com o Papai Comédia, ou Fernando, sobre as dificuldades, delícias e medos da paternidade, em um especial para o Dia dos Pais. Confira!
Foto: Divulgação)
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Você diz que não esperou sua filha crescer para começar a viver a paternidade e que a sua visão é daquele pai que não só ajuda, mas cria junto. Você acha que essa visão da paternidade é algo que tende a crescer?
Eu, como pai e influenciador, tenho compartilhado minhas histórias e tentado mostrar um outro lado da paternidade. Existia a paternidade de antigamente, que dava o sustento da casa, enquanto a esposa ficava cuidando de tudo que envolvia os filhos, mas existe uma nova paternidade, com a divisão de tarefas, com o pai mais participativo e envolvido na vida do filho. Eu tento mostrar o quanto é importante essa nova visão, tanto para tirar o turbilhão de responsabilidades das costas da mãe, mas também para estar mais próximo do filho. As pessoas estão mudando, há uma desconstrução daquela família de antigamente e acho que agora vamos discutir, talvez, até um pouco menos essa paternidade ativa, porque será algo natural.
Como foi descobrir que seria pai? Você sentiu a ‘paternidade’ chegar nesse momento?
Tivemos uma gestação planejada e, mesmo assim, a gente não consegue planejar o que vai sentir. Eu fiquei bem em choque no começo. Fiquei sério por algumas horas. Depois chorei, fiquei alegre. Em um dia senti todos os sentimentos possíveis. Mas a paternidade eu descobri com o tempo, quando você escuta o coração dela pela primeira vez, você tem um estalo. Quando você sente o chute dentro da barriga, é outro estalo. É uma crescente de amor, de envolvimento com o filho, e a paternidade é algo ainda sendo construído dentro de mim. Cada dia eu descubro e me apaixono mais pela minha filha.
O que faz de você um pai? Quais características você reconhece como sendo de pai?
Para minha filha eu sempre vou ser um pai único. Ela não sabe o que é outro pai, eu sou a única referência de homem que ela tem, desde que nasceu. Eu fui o primeiro a pegá-la no colo, a beijá-la, a fazer carinho. Isso torna a relação de pai e filho algo tão próximo. Eu acho que ser pai é meio que nascer de novo. Você revê vários conceitos e aprende a cuidar de outro ser. Aprende a cuidar de você, da sua esposa. Aprende a se importar mais com a família e com tudo que está em volta. Eu acho que a paternidade me trouxe um pouco disso: de respirar e olhar o mundo de outra forma.
Foto: Divulgação)
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Quando você decidiu que seria um pai participativo?
Veio naturalmente, na verdade, embora eu ache que tenha um pouco de influência da minha criação. Morei com a minha mãe até os 13 anos e depois fui morar com meu pai no interior de São Paulo. Eu senti essa ausência do meu pai nessa primeira parte da minha vida e isso me inspirou a ser um pai mais presente hoje, para viver esse momento, mesmo que de outro ponto de vista.
“Quando mais você se envolve na vida do filho, mais se apaixona, mais quer ver aquele ser crescendo e se desenvolvendo. Isso acaba sendo muito bom para a criança, mas também para o pai, porque você cresce junto”
Você participou de decisões durante a gestação, desde como seria o parto ou quem seria o pediatra?
Sim, participei de quase tudo. Acho que participei bastante também pela abertura que minha esposa me deu. O homem não está habituado a cuidar de outro ser, embora seja também tudo muito novo para a mulher. Acho que cabe ao homem respeitar o que é da mulher, mas estar ali disponível, atencioso e prestativo nesse momento. Homem pode e deve ir a uma consulta de ultrassom, ir ao pré-natal, discutir coisas do parto, ouvir o coração do bebê. A mulher tem o bebê dentro dela, enquanto o homem não tem uma relação tão direta. Mas, essas pequenas coisas, como colocar a mão na barriga, sentir o bebê chutar, conversar com ele, ouvir o coração – que bate muito rápido, só perdendo para o meu na hora – são momentos importantes para irmos nos preparando, criando um vínculo.
Desde quando descobriu que seria pai de uma menina, você ouviu piadas machistas?
Escutei muito pouco, até porque o machismo está bem em evidência e as pessoas têm discutido mais e pensado mais antes de falar. Mas, antes, era realmente mais comum ouvir que agora passou de consumidor para fornecedor, essas coisas. Talvez eu escute mais quando minha filha crescer, se tornar adolescente, vier com o primeiro namorado. Mas espero mesmo que isso mude com o tempo e que essa visão acabe.
Qual foi o momento mais difícil na sua vida de pai? E o mais fácil?
Mais fácil, claro, foi trocar fralda, dar banho. Isso tudo é muito simples, coisa que qualquer um pode aprender a fazer. O mais difícil foi quando minha filha ficou doente. Ela virou a madrugada com febre, corremos para o hospital e isso destrói os pais. Fisicamente, psicologicamente, porque achamos que algo ruim vai acontecer e ficamos desesperados. Eu lembro que, no carro, indo para o hospital, minha filha começou a tossir bastante e minha esposa se assustou. Faltou ar até para mim. Mas esses momentos de crise e desespero fazem com que os momentos alegres sejam tão bons.
“Independentemente do que o homem fizer na gravidez, ou da abertura que a mulher der, tudo que ele puder fazer para participar e estar disponível como parceiro é importante. Falar: estou aqui, estamos juntos, conte comigo e vamos embora.”
(Foto: Fabio Augusto / Divulgação)
(Foto: Fabio Augusto / Divulgação)