Comportamento

Katia Michelle

Foi demitido ou está insatisfeito? Histórias de quem se reinventou no trabalho

Katia Michelle
29/04/2016 22:00
Thumbnail

Fabiane Ormerod (esq.), Tatiana Girardi e Rafael Albino: exemplos de que é possível recomeçar a vida profissional.

O questionamento é intrínseco ao ser humano. E quando trata-se da carreira, todo momento é certo para pensar sobre o tema. Foi demitido? Está infeliz com suas atribuições? O pensamento de mudar de área é frequente? Que tal aproveitar essas situações para dar uma reviravolta na profissão e ter motivos de sobra para comemorar o Dia do Trabalho, nem que seja, no próximo ano?
“Quando começamos a nos questionar muito, a hora de mudar chegou”, diz a coaching Tatiana Girardi, 39 anos, também um exemplo de quem soube se reinventar. Há oito anos, depois de muito planejamento, ela deixou a área em que trabalhava há mais de uma década para investir no Espaço do Bem Estar e ajudar outras pessoas a buscarem o autoconhecimento e darem os próprios passos rumo à mudança.
LEIA TAMBÉM 
Sim, porque mudar é preciso, mas o ideal é não ser atropelado pela mudança. Quando se trata de carreira, planejamento é fundamental. E Tatiana ressalta que não dá para esperar uma demissão surpresa ou uma situação limite para resolver mudar. “O trabalho é um propósito e vejo que cada vez mais as pessoas compartilham essa ideia, refletindo sobre como estão investindo seu tempo. Não basta apenas trabalhar para pagar as contas. É preciso, também, buscar maneiras de se realizar”, diz.
A coaching Tatiana Girardi: mudança de área após muito planejamento.
A coaching Tatiana Girardi: mudança de área após muito planejamento.
É claro que essa reflexão nem sempre leva a uma mudança instantânea. Há cuidados que precisam ser tomados. Se o caso for infelicidade no trabalho atual, por exemplo, é preciso aproveitar o questionamento e correr no paralelo para buscar uma solução. Foi o que fez Tatiana, formada em Administração de Empresas, com habilitação em Gestão de Negócios. Ela trabalhou durante anos na área de Publicidade e Marketing antes de dar o que ela chama de “virada”. Foram três anos planejando a mudança e se preparando, inclusive financeiramente, para montar o próprio negócio.
“É preciso se preparar para que a mudança não vire um tormento ainda maior”, enfatiza. Isso para quem ainda pode fazer um planejamento antes de ser pego de surpresa. Com a crise, é cada vez maior o número de pessoas que subitamente perdem o emprego e aproveitam a situação para também dar uma verdadeira virada na carreira.
Equilíbrio
Foi o que fez a farmacêutica bioquímica Fabiane Ormerod, 41 anos. Depois de construir uma sólida carreira em uma multinacional, ela decidiu colocar na balança os pós e contras da vida de executiva. “Chegou uma época que eu viajava quase metade do ano. Comecei a perceber que minha balança estava desequilibrada”, conta. Na empresa, ela tinha tanta responsabilidade que não conseguiu nem aproveitar quando o sonho de ser mãe virou realidade.
Felicidade em dobro: Fabiane Ormerod trocou a carreira em uma multinacional para conciliar  a direção de uma loja virtual e o trabalho de consultoria de moda. Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo
Felicidade em dobro: Fabiane Ormerod trocou a carreira em uma multinacional para conciliar a direção de uma loja virtual e o trabalho de consultoria de moda. Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo
“Eu não pude curtir os primeiros anos do meu filho. Fui percebendo que não havia dinheiro no mundo que pagasse o que estava acontecendo comigo. Eu engordei 12 quilos e não tinha tempo para nada. Foi quando vi que era hora de mudar”, lembra. Com tanto tempo de empresa, ela pediu para ser desligada, mas a resistência foi grande antes de ganhar a demissão e conseguir o capital que precisava para montar o próprio negócio.
“Eu me planejei para fazer o que gostava. Procurei suporte psicológico e fiz um plano de negócios. Não é fácil sair de um salário de executiva de multinacional para empreender”, diz. Porém, antes de montar uma loja voltada para o scrapbook, além de uma consultoria de estilo, Fabiane não contava com a alta excessiva do dólar, o que a fez repensar algumas questões durante sua trajetória de mudança.
“Minha loja é só on-line, o que diminui o custo com espaço físico. Também reduzi o estoque e comecei a fazer outras coisas, como dar palestras e consultorias”, diz, reforçando que os percalços são grandes, mas que a felicidade de estar fazendo o que gosta e acredita supera todos os obstáculos. “Eu não me arrependo de nada. Hoje minha saúde é melhor, minha convivência com a família também e percebi que a gente pode ter sucesso mesmo diante da crise. O segredo é ter resiliência”, ensina, já com o peso e a saúde recuperados.
Tente sempre
De acordo com as definições da psicologia, a resiliência é a capacidade que o ser humano tem de superar obstáculos e retornar ao seu estado natural, ou seja, sem “surtos”. Foi o que fez Rafael Albino, 32 anos. Formado em Marketing, ele construiu a carreira no mundo corporativo, onde trabalhou em grandes empresas na área de alimentos e depois de cosméticos – sempre dentro da área em que se formou.
Rafael Albino: depois da demissão, uma primeira tentativa sem sucesso, até se realizar profissionalmente com uma de suas paixões, cozinhar. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Rafael Albino: depois da demissão, uma primeira tentativa sem sucesso, até se realizar profissionalmente com uma de suas paixões, cozinhar. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Em 2014, depois de ser desligado da companhia em que trabalhava, resolveu colocar um antigo projeto em ação: uma empresa de serviços de limpeza. Fez tudo como manda o figurino: planejamento, plano de negócios, investimento. Só não contava com a dificuldade de encontrar mão de obra especializada. Essa dificuldade foi inviabilizando o projeto e, depois de dois anos, resolveu fechar o empreendimento.
O que fazer nessa situação? Voltar para o mundo corporativo e trabalhar como funcionário novamente não estava nos planos de Rafael. De olho em um novo sonho, no entanto, ele aceitou um trabalho temporário para não se descapitalizar . Enquanto isso, planejava uma nova virada.
“Cozinhar sempre foi uma válvula de escape para mim. Sempre gostei. E apostei no meu sonho como um novo negócio”, diz. Ele, no entanto, pesquisou bastante antes de ingressar no mercado. “Eu tinha que me diferenciar. Então decidi fazer hambúrguer gourmet para entrega. O meu cardápio muda diariamente e no começo as entregas eram limitadas, mas o negócio está crescendo e já estou ampliando as regiões e as opções de sanduíches”, comemora.
O “boca a boca” nas redes sociais tem ajudado na empreitada do Black Gourmet Burger, que já completa seis meses de criação, e hoje Rafael é só sorrisos. Conselho para quem quer fazer o mesmo? “Planejar-se muito bem e não se render aos obstáculos”, enfatiza o empresário. E se não deu certo da primeira vez, nada de se deixar abater.
FAÇA O TESTE
Em época de crise, ser pego de surpresa com uma demissão não é nada positivo. Em qualquer fase da vida profissional, porém, é preciso fazer uma avaliação pontual da trajetória em que se está na carreira. Saber o caminho que se quer seguir é fundamental para buscar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e evitar a insatisfação recorrente. A life coach e terapeuta holística Tatiana Girardi levanta cinco perguntas que devem ser feitas pelo trabalhador periodicamente para fazer uma autoavaliação do momento da carreira. Se você responder negativamente a mais de três, está na hora de rever seus conceitos e – quem sabe – planejar uma mudança começando já. E se o motivo da saída for uma demissão inesperada aproveite para incluir no teste uma pergunta subjetiva e repensar o seu futuro: “aproveitando esse momento, o que eu me vejo fazendo que me deixaria feliz?”. Responda com sinceridade e corra atrás dos seus sonhos. A hora é agora:
  1. O trabalho que eu estou hoje está de acordo com os meus valores pessoais?
  2. A minha melhor versão vem à tona quando estou desenvolvendo esse trabalho?
  3. O ambiente de trabalho me faz bem?
  4. Gosto de mim quando estou realizando as minhas atividades?
  5. O meu atual trabalho atende às minhas reais necessidades?