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"Este é um projeto de vida pessoal", disse o cartunista Mauricio de Sousa em entrevista coletiva do lançamento da coleção, em São Paulo. Foto: Marina Mori
"Este é um projeto de vida pessoal", disse o cartunista Mauricio de Sousa em entrevista coletiva do lançamento da coleção, em São Paulo. Foto: Marina Mori| Foto:

Você pode até tentar dizer a uma criança que dinheiro não dá em árvore. Mas, em uma era onde o aprendizado acontece num deslizar de dedinhos sobre celulares e tablets, é bem provável que a história “não cole”. As metáforas infantis do século 21 são outras.

É preciso explicar, por exemplo, que as notas de papel coloridas que compõem a mesada não saem magicamente depois que um cartão de plástico é inserido em uma máquina cheia de botões. De onde vem o dinheiro, afinal?

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A resposta pode ser simples e divertida, como quem lê um gibi. Literalmente. E ninguém melhor para explicar um tema árido como a educação financeira como a Turma da Mônica. A partir deste mês, os personagens mais simpáticos das histórias em quadrinhos do país passam a conversar sobre dinheiro em uma coleção inédita.

O projeto é fruto de uma parceria entre a maior empresa de gibis do Brasil, a Mauricio de Sousa Produções, e a instituição financeira cooperativa Sicredi. Os seis exemplares que compõem a coleção são versões adaptadas do Caderno de Educação Financeira – Gestão de Finanças Pessoais produzido pelo Banco Central do Brasil, o Bacen.

Foto: Rogerio Albuquerque / Divulgação
Foto: Rogerio Albuquerque / Divulgação| Rogério Albuquerque

Os pais ensinam aos filhos… Ou seria o contrário?

Para Mauricio de Sousa, os quadrinhos são instrumentos poderosos para a educação como um todo. “As crianças são mensageiras maravilhosas. Se você pensar que a revistinha passa por, no mínimo, quatro pessoas, imagine o impacto disso”, disse o cartunista em entrevista coletiva para o lançamento da primeira edição este mês, em São Paulo.

Dos 10 milhões de exemplares a serem distribuídos gratuitamente ao longo destes dois anos (com lançamentos periódicos em maio, junho e outubro), a expectativa é que o conteúdo chegue a mais de 40 milhões de brasileiros.

Os números mostram a necessidade de formar uma sociedade que saiba lidar com o dinheiro: 56% da população não fala sobre o assunto com os membros da família. Não só. Seis em cada dez brasileiros não gostam de dedicar tempo para cuidar das próprias finanças, de acordo com levantamento feito em abril deste ano pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).

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“Isso é algo que nós, enquanto adultos, podemos aprender com as crianças”, completou Manfred Dasenbrock, presidente nacional do Sicredi. É aí que entra a importância da educação infantil para o exercício de uma nova consciência.

É incrível como a criança educa os pais, desde assuntos como segurança no trânsito à comida saudável. Ela lê o gibi dez, 20 vezes”, comenta Eloy Zanetti. O publicitário, que consolidou sua carreira após criar o icônico slogan do antigo banco Bamerindus (quem sabe, canta: “o tempo passa, o tempo voa…”), foi um dos responsáveis pela tradução do “economiquês” do Bacen para o gibiquês da Turma da Mônica.

Como explicar

Orçamento familiar, poupança, salário. Parece um desafio traduzir estes conceitos em balõezinhos com menos de duas frases e de modo atrativo para uma criança. Mas, ao longo de 26 páginas, Mônica, Cebolinha e Cascão transformam a educação financeira em um episódio cheio de aventuras e humor.

A leitura do gibi é uma das mais interessantes para o público infantil, segundo a psicanalista Juliane Kravetz. “As imagens coloridas e a forma com que o diálogo é feito, de crianças falando para crianças, ajudam muito na identificação com o produto”, explica.

Mas a educação financeira deve ser feita, também, na prática. “Lidar com o dinheiro envolve aprender a trabalhar com limites, consequências e erros. E estas são questões que precisam ser trabalhadas sempre”, opina a psicanalista.

Foto: Rogerio Albuquerque / Divulgação
Foto: Rogerio Albuquerque / Divulgação| Rogério Albuquerque

Existe idade certa para a mesada?

Sim. A recomendação é que o hábito se crie a partir do momento em que a criança aprenda noções básicas de matemática, o que ocorre por volta dos sete anos. “Antes disso ela nem tem ideia do que é o dinheiro, ela só quer brincar”, explica Kravetz.

A quantidade depende do orçamento de cada família, mas nunca deve ser alta demais. “A criança não pode comprar o que quiser com o valor. Ela precisa entender que deve cuidar para não gastar tudo de uma vez”, sugere.

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No gibi, os três amigos aprendem que, se guardarem sempre uma parte de suas mesadas, podem usar a quantia para realizar alguns sonhos. Mônica se imagina visitando Paris, Cebolinha idealiza uma motocicleta veloz e, Cascão, pensa na loja de coleções que pode abrir quando crescer.

Mas é importante que vez ou outra a criança “escorregue” na tentação de gastar demais, seja com sorvetes, seja com figurinhas do álbum da Copa do Mundo. “Aprender com os erros desperta responsabilidade. A educação não acontece de uma hora para a outra, ela tem que ser um hábito”, diz a psicanalista.

O pai da Turma da Mônica concorda. “Minha avó insistia para que a gente pensasse no futuro, então eu cresci com essas ideias. Economizava minhas moedinhas e comprava gibis para treinar, treinar e treinar”. O cartunista fez questão de transmitir a mensagem aos 10 filhos. Hoje, aos 82 anos, amplia os ensinamentos através dos personagens que conquistam o Brasil há mais de seis décadas. “Você precisa ter ordem, disciplina e ficar feliz com o que tem. E se tiver um objetivo na vida, inventar condições criativas para ganhar dinheiro. É o que eu faço”.

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