Comportamento

Amanda Milléo

Cuidados redobrados e separação: a difícil rotina de famílias com prematuros

Amanda Milléo
21/11/2017 06:00
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Lorenzo com os pais Daniele e Vinicius: bebê nasceu prematuro e ficou 21 dias no hospital. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

A insegurança e o não saber muito bem como cuidar de um bebê recém-nascido é algo que permeia a rotina das mães — sentimentos que crescem quando o bebê nasce prematuramente. E os casos não são poucos: de acordo com a Fundação Europeia para o Cuidado do Bebê Prematuro, eles são 14,9 milhões no planeta todos os anos.
A condição delicada de saúde requer dedicação extra dos pais nos primeiros meses, em uma rotina “bem complicadinha”, como define Daniele Almeida Ribeiro, de 37 anos, mãe de Lorenzo, que nasceu no começo de maio de forma prematura e ficou 21 dias  no hospital, boa parte na Unidade de Terapia Intensiva (UTI neonatal).
“Ele nasceu na quinta, dia 11 de maio, pela manhã e eu só pude vê-lo às 20 horas. No domingo, que era Dia das Mães, foi o primeiro dia que eu pude segurá-lo no colo. Foi a melhor coisa do mundo, mas dali em diante, por um mês, a rotina foi bem corrida”, relata Daniele, que é formada em Relações Internacionais.
Do Dia das Mães até o começo de junho, Daniele e o pai de Lorenzo, Vinicius Ribeiro, iam ao hospital, três vezes ao dia: chegavam pouco antes das 8 horas, primeiro horário de abertura da UTI, e intercalavam as entradas ao local entre os horários de visita com os da amamentação, até às 22 horas.
“Como os horários de entrada e amamentação eram bem próximos, não dava tempo de sair do hospital. E eu nem queria! Era terrível sair, não tinha nenhuma vontade de ficar longe dele”, diz Daniele, que desenvolveu, inclusive, algumas técnicas para driblar as enfermeiras e equipe de plantão para ficar sempre um pouquinho a mais com o filho: “Quando ele passou a amamentar no peito, eu virava para ficarmos só os dois, longe do olhar das enfermeiras. Mesmo se ele já tivesse mamado, eu trocava de peito, tudo para passar mais um tempinho com ele no colo. Até que alguém vinha e falava: ‘Dani, agora você precisa ir’. Eu tinha que ser ‘expulsa’ sempre de lá”, ri a mãe enquanto relembra as histórias.
No início, o pai Vinicius, consultor de TI, conseguiu segurar as pontas no trabalho — embora a cabeça não estivesse nem perto das tarefas. Todo minuto do dia, ele ansiava para sair correndo e encontrar a esposa e o filho no hospital, e a espera antes de entrar na UTI era sempre uma mistura de emoções. “Tinham várias famílias ali, algumas com os filhos em uma situação melhor, outros nem tanto. Alguns que tinham que passar por cirurgias grandes, e eram só bebês! A gente acaba se emocionando junto, ajudando quem está lá. Por sorte, o Lorenzo estava se desenvolvendo muito bem”, disse o pai, de 36 anos.
A hora de ir embora era sempre um tormento. Daniele e Vinicius não seguravam as lágrimas e era impossível relaxar em casa sem o Lorenzo. “O tempo todo que estava em casa, passava pensando nele. Como ele estaria, como seria a noite, como iríamos recebê-lo em casa, os primeiros cuidados. O pessoal do hospital sempre me acalmava, diziam que era para eu ir tranquila, que eles cuidariam bem, e eu sabia disso. Mas só conseguíamos dormir no cansaço mesmo. Dormia depois da meia noite e antes das 7 horas já estava em pé para ir ao hospital”, conta a mãe.
Em casa: máscara e álcool em gel
Lorenzo nasceu com 1,795 kg e 41 centímetros, na 35ª semana de gestação. A alimentação foi evoluindo devagar e ele não tinha peso suficiente para tomar as vacinas nas datas indicadas. O sistema imunológico, portanto, não estava totalmente preparado para dar conta de qualquer virose, e os cuidados com quem fosse visitar e onde o Lorenzo iria passear foram redobrados quando finalmente pode ir para casa, no início de junho.
“Usávamos só máscara perto dele e álcool 70 o tempo todo nas mãos. Foi um pouco difícil logo quando ele chegou em casa, porque tínhamos medo que ele pegasse alguma coisa de alguém de fora. Eu não saía de casa, nunca, e ainda assim usávamos máscara. O Vinicius conseguiu tirar férias bem na época, o que facilitou muito. Para a família, abrimos para poucos no início, porque ele não podia sair e nem pegar gripe de jeito nenhum.”
Dar banho, trocar, amamentar um bebê tão pequenino deixou o casal apreensivo no começo. “No primeiro dia, eu tive muito receio de derrubar, porque ele era muito leve, muito frágil. A primeira troca de fralda eu fiz dentro da UTI, e as fraldas eram enormes, mesmo a de prematuro. O banho eu sempre acompanhei no hospital e em casa minha mãe me ajudou. Hoje é bem diferente”, relata Daniele.
Agora com seis meses, Lorenzo ainda é menor quando comparado a outros bebês, com idade gestacional cronológica diferente, mas está acompanhando o desenvolvimento. “Ele é super esperto e desenvolvido para a idade dele. Ele segurou a cabeça no tempo certo, se posicionou de bruço no tempo certo. A nossa rotina, hoje, é de um bebê que nasceu no tempo normal. Mas alguns cuidados eu mantenho: as máscaras e o álcool continuam ali. Ele vai chegar aos 18 anos e eu vou continuar assim!”, completa a mãe.
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