Comportamento

Talita Boros Voitch

Paranaense com descendência italiana é especialista em tradições japonesas

Talita Boros Voitch
15/08/2017 12:00
Thumbnail

Apesar da descendência italiana, Vinicius se identificou com a cultura japonesa (Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo) | Gazeta do Povo

A relação do paranaense Vinícius Monfernatti, de 31 anos, com o Japão vem de longe. Nascido em Cornélio Procópio, no Norte, região com forte presença de imigrantes japoneses, Vinícius conviveu desde pequeno com vizinhos, amigos e colegas da escola de origem oriental. A relação mais próxima da mãe com uma vizinha japonesa lhe rendia inclusive cantigas infantis cantadas em japonês durante a hora do mamá nos primeiros anos de vida.
“A que eu me lembro era sobre duas crianças, que davam as mãos caminhando pela floresta, onde encontravam coelhos”, conta. Sem saber, a mãe cantarolando em japonês contribuiu para o misto de amor e admiração que Vinícius, — descendente de italianos, espanhóis e russos — sente pelas tradições da Terra do Sol Nascente.
Sua identificação com os japoneses vai muito além do gosto pessoal. Embora rejeite o título, Vinícius é mestre na milenar Cerimônia do Chá, ritual japonês com influência do Taoismo e Zen Budismo, onde o chá em pó é preparado cerimonialmente e servido a convidados. A iniciação à arte tradicional aconteceu quando já morava em Curitiba, pelas mãos da professora Teruko Beltrão, pouco antes da sua morte, em 2006.
(Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)
(Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo)
“Ela me recepcionou muito bem. Me senti muito acolhido ali. A professora Teruko era um doce, uma pessoa muito querida mesmo. Eu fiquei encantado com aquele espaço e com a cerimônia. Tinha uma senhora de uns 90 anos que participava das aulas e eu achei aquilo muito encantador”, lembra. O local em questão era a Escola Urasenke, na Praça do Japão. Mulher a frente do seu tempo, Teruko foi um dos principais nomes da comunidade japonesa de Curitiba.
Antes do primeiro contato com a Cerimônia do Chá, Vinícius já praticava meditação e havia passado cinco anos aprendendo japonês no Curso Bunkyô de Língua Japonesa, no Cristo Rei. Estudo que lhe deu base para, em 2012, passar um ano como bolsista em um intercâmbio linguístico-cultural na Universidade de Estudos Estrangeiros de Tóquio.
Além do idioma, Vinícius aproveitou a experiência para aprender mais sobre a cerimônia e também sobre música tradicional japonesa. “Eu estudava música erudita antiga, que nem os japoneses escutam mais”, conta aos risos.
(Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)
(Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)
É justamente essa paixão de Vinícius pelas tradições do Japão que intriga quem o ouve falar. Quem não conhece alguém que gosta de mangá, anime ou J-pop? Mas alguém que toque taiko (espécie de tambor tradicional) sem ser descendente? Ou que passava 12 horas por dia estudando os ensinamentos da Cerimônia do Chá? Esta pessoa é Vinícius. “Acho fascinante como os japoneses conseguem manter vivas e autênticas as tradições”, diz, com simplicidade.
Esse fascínio não tão comum já preocupou os pais, em determinado momento. “Meu pai mandava eu estudar matemática ao invés dos japoneses”, lembra. Os pais acalmaram o coração depois que Vinícius começou a colher os frutos de sua dedicação à cultura e às tradições japonesas.
Hoje, além de dar aulas de inglês e japonês para curitibanos e de português para estrangeiros, Vinícius criou A Sala de Chá e organiza roteiros de experiência para quem quer conhecer de perto a Cerimônia do Chá. Duas vezes por mês ele recebe três grupos de 4 pessoas, em horários diferentes, para a Cerimônia na Praça do Japão.
“A cerimônia me aproxima da tradição, que eu gosto tanto, e ao mesmo tempo me traz muita tranquilidade. Tanto para a mente quanto para o dia a dia. E com os encontros eu consigo compartilhar a cerimônia da forma que ela foi pensada originalmente. Para viver esse momento único com outras pessoas”, diz.
(Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)
(Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)