Saúde e Bem-Estar

As marcas da puberdade precoce

Carolina Kirchner Furquim, especial para a Gazeta do Povo
19/02/2016 22:00
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Acne, pelos pubianos e o surgimento de odor nas axilas podem ser indicativos de que o desenvolvimento sexual chegou mais cedo para algumas crianças. A chamada puberdade precoce, uma condição cada vez mais comum e que requer acompanhamento de um endocrinologista pediátrico, acontece quando há o aparecimento de caracteres sexuais secundários antes dos 8 anos de idade nas meninas e dos 9 nos meninos. Além destes, outros sinais clínicos sugerem um desenvolvimento acelerado e fora do tempo.
Atente aos sinais
Aparência
Estar atento a certas mudanças físicas nas crianças é importante para diagnosticar hormônios em descompasso que podem levar à puberdade precoce. Crescimento das glândulas mamárias nas meninas e do pênis e dos testículos nos meninos, surgimento de pelos pubianos e axilares, pele oleosa, acne e odores nas axilas são sintomas diretamente ligados à ação hormonal e que não podem ser ignorados.
Causas
A puberdade precoce tem origem central ou periférica. A primeira ocorre quando o estímulo para o desenvolvimento sexual parte do hipotálamo e da glândula hipófise, sem causa definida. Já na periférica, é registrado um aumento nos níveis de estrogênio ou testosterona. Nas meninas costuma prevalecer a central, enquanto que nos meninos é mais comum a periférica. A doença também está muitas vezes associada à presença de tumores do sistema nervoso central, ovários e testículos, ou até mesmo ao uso de determinados medicamentos.
Por que tratar
O tratamento da puberdade precoce é geralmente realizado através de bloqueios hormonais e acontece, em essência, por dois motivos: evitar a baixa estatura, já que a chegada da puberdade desencadeia a maturação óssea e deixa pouca margem para a continuidade do crescimento, e para combater os possíveis prejuízos emocionais e psicossociais que acompanham as alterações físicas antecipadas. A medicação pode ser administrada mensalmente ou a cada três meses e o tratamento geralmente deve ser seguido até que o paciente atinja a idade normal para o fenômeno da puberdade. Buscar o apoio do endocrinologista pediátrico assim que forem notados os primeiros sinais é fundamental para o sucesso do tratamento. No caso das meninas, a ajuda médica deve anteceder a primeira menstruação.
Acne antecipada
Um recente documento da Associação Americana de Pediatria afirma que a acne, antes restrita aos adolescentes, vem surgindo cada vez mais cedo. Se for esse o caso de seu filho, uma consulta dermatológica poderá avaliar o tipo de acne e o melhor tratamento. Entre as opções disponíveis estão sabonetes antissépticos, loções, cremes à base de peróxido de benzoíla, antibióticos tópicos e retinoides. Dependendo da severidade da acne, há ainda tratamentos sistêmicos, com medicamentos via oral, tais como a isotretinoína. O tratamento minimiza marcas e cicatrizes na pele, além de evitar a piora do problema.
E se não for?
Se o endocrinologista entender que o desenvolvimento sexual está dentro do esperado, ou seja, que não há puberdade precoce, isso quer dizer que certos sinais podem ter outras origens e tratamentos.
O cheiro nas axilas, conhecido como bromidrose, embora não seja comum, já que as glândulas sudoríparas ainda não são muito bem desenvolvidas em crianças, é indicador da presença de bactérias e pode estar relacionado a problemas de higiene, hiperidrose (quando as glândulas que produzem o suor são hiperativas), efeitos colaterais de remédios ou até mesmo casos mais graves, como diabetes e fenilcetonúria, que devem ser investigados.
Uma das indicações tópicas mais eficazes é associação de cloridroxo de alumínio com antibiótico, sempre com base no tipo de pele e na extensão do problema. Cuidar da higiene, usar desodorantes hipoalergênicos sem álcool e sem cheiro, sabonetes antibacterianos, preferir roupas soltas e tecidos naturais como o algodão e ter uma dieta balanceada são medidas simples, mas que ajudam a controlar o odor nas axilas. Todo e qualquer tratamento deve ser indicado e acompanhado pelo dermatologista, que avalia individualmente cada caso.
Pelos demais
Em excesso (hipertricose), os pelos nos braços, pernas, bochechas ou buço podem se tornar um problema para a autoestima. Se eles estiverem ligados a heranças familiares ou características raciais, o dermatologista pode indicar formas de depilação ou descoloração, sempre levando em conta a idade do paciente, o tipo de pele e o tipo de pelo. Entretanto, qualquer recomendação só acontece após a exclusão categórica de causas hormonais.
Fontes: Gabriela de Carvalho Kraemer, endocrinologista pediátrica dos Hospitais Pequeno Príncipe e Hospital de Clínicas e Camila Makino Rezende, dermatologista do Hospital Pequeno Príncipe.