Saúde e Bem-Estar

Os perigos da exposição dos seus filhos na internet

Camille Bropp Cardoso
11/04/2015 15:30
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A internet é perfeita para anunciar aos quatro ventos (em fotos e vídeos) como o sorriso do bebê é lindo ou o quanto o seu filho é engraçado. Difícil resistir à tentação de usar a rede para compartilhar o dia a dia dos pequenos, especialmente quando ele é também grande parte da rotina da família. Mas há pais que ignoram consequências da exposição virtual, que pede mais discrição do que os brasileiros vêm tendo. Os riscos são sujeitar as crianças a constrangimentos entre os amigos, seja agora ou futuramente, ou mesmo dar de bandeja informações sobre a rotina do seu filho a pessoas mal-intencionadas.
Estatísticas mostram que os pais brasileiros amam a internet. Segundo pesquisa de 2014 da AVG, empresa de segurança virtual, 81% dos pais ouvidos em dez países publicaram fotos dos filhos na internet. No Brasil, o porcentual sobe para 94%. Mais provas da empolgação: 14% dos brasileiros disseram ter conta de e-mail para seus bebês (a média foi 8%) e 12% das mães admitiram ter criado perfis em redes sociais para seus rebentos, percentual acima da média de 6%.
“Somos um país jovem que está se acostumando com a internet. Não temos discussões profundas sobre esse comportamento, até porque nossa banda de internet é limitada”, avalia a psicóloga Andrea Jotta, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia e Informática (NPPI) da PUCSP, que orienta famílias sobre o uso da web. “Mas os riscos existem e o problema acaba sendo a inocência dos pais, principalmente em classes sociais em que faz falta uma educação virtual que permita entender a amplitude das atitudes na internet.”
Isso explica o porquê de pais postarem fotos em situações em que não exporiam a criança na rua – sem roupas ou doentes, por exemplo. Uma regra é nunca publicar conteúdo que você não gostaria que saísse do seu controle – que seja compartilhado por desconhecidos ou sirva de base para uma piadinha mundial. Quem não se lembra do bebê que, flagrado em uma foto arqueando a sobrancelha, se tornou protagonista de montagens internet afora como o “bebê desconfiado”?
Outra dica é filtrar as publicações para o menor público possível. Isso evita situações como a de uma mãe de duas crianças em Curitiba (que preferiu não se identificar). Mesmo preocupada com a privacidade dos filhos, ela teve que lidar com um parente que publicou uma foto sem autorização dela. “Fiquei muito brava porque a foto foi copiada. Postava pouca coisa e não me incomodava, mas vou parar depois de ver a fragilidade da privacidade na internet”, diz ela. “Temo sequestro, pedofilia, piadinhas. Não me sinto confortável em tantas pessoas vendo esses conteúdos como se fosse uma ‘divulgação’”, diz.
Constrangimento
Mas o risco mais corriqueiro é o de cyberbullying. Foi o que ocorreu com o rapaz de São Paulo que teve um vídeo produzido para o seu Bar Mitzvah (celebração dos 14 anos de meninos segundo a tradição judaica) compartilhado pelos pais. O que era para ser uma piada em família se tornou uma enxurrada de comentários maldosos – o vídeo falava do dia a dia do jovem usando efeitos especiais amadores. A repercussão levou a família a processar empresas de internet para que tirassem o vídeo do ar. Em julho, a Justiça decidiu que o cuidado deveria ter partido de quem postou o vídeo.
Coordenador de tecnologia do Grupo Dom Bosco, Raphael Fernandes Correa conta que a preocupação dos pais parece centrada em limitar o que os filhos fazem na internet. Perguntas sobre o que postar ou não sobre os pequenos são inexistentes, diz o professor. “A partir do momento em que o pai coloca um vídeo na internet, deixa de ter controle sobre a situação”, diz. “Ele tem que ver o meio em que o filho vive e pensar se vai gerar uma brincadeira além do âmbito da família. Crianças não têm discernimento sobre quando parar e isso basta para perseguir um coleguinha.”
Fique atento
O advogado Eduardo Otero e a psicóloga Andrea Jotta orientam sobre o que postar ou não sobre os filhos na internet:
  • A privacidade das crianças é protegida no Brasil por lei, lembra Otero. “É preciso cuidado para evitar exposição desnecessária.” Ou seja, menores têm, sim, direito a momentos privados.
  • Não divulgue imagens em que seu filho aparece com outras crianças. A imagem delas é responsabilidade dos pais, o que pede autorização prévia.
  • Nunca publique fotos do seu filho nu, mesmo bebê. “Existe preocupação em as crianças acessarem pornografia ou serem assediadas por pedófilos, mas ninguém pensa que elas podem ser expostas em sites assim”, diz Andrea.
  • Vete fotos da casa, da escola, da criança com uniforme escolar e com dados de localização embutidos no arquivo.
  • Caso um conteúdo do seu filho esteja sendo usado por outras pessoas, entre em contato com elas e peça que parem, orienta Otero. Se não der certo, busque a empresa que armazena o conteúdo. “A maioria aceita excluir material roubado.”
  • Tenha em mente que tudo que cai na internet pode ser degenerado. Por isso fotos de crianças doentes, por exemplo, se tornam hoax (boatos virtuais), até com pedidos de doação para terceiros.
  • De maneira alguma publique conteúdo que possa gerar rótulos desagradáveis para a criança, como “burra”. ?gorda? ou “inescrupulosa”.
  • Saiba que uma postagem pode ser a gota d’água para o relacionamento de pai e filho. Cenas repetidas de negligência transformadas em piadas, por exemplo, podem gerar ressentimentos duradouros.