Histórico

Algodão: ele pode virar

Michele Bravos, especial para a Gazeta do Povo - micheleb@gazetadopovo.com.br
09/01/2011 02:10
Neste ano, o preço do algodão esteve em alta, devido a uma demanda grande pelo produto, justamente quando os seus maiores produtores – China e Índia – estavam sofrendo com inundações, o que impediram o ritmo de produção habitual.
Se produzir algodão é caro e, da forma convencional, danoso, é natural que outros tecidos passem a concorrer com esta trama que deve se tornar cada vez mais um artigo de luxo. Com mais informação, começam a fazer parte do guarda-roupa de muita gente os “sintéticos verdes”, tramas feitas a partir do reaproveitamento de garrafas PET e sacolas plásticas.
Outra via possível para consumidores conscientes é o algodão orgânico, cuja produção traz menos danos ambientais. Mas, segundo o estilista Rodrigo Ribeiro, mestre em tecnologia pela UTFPR, o Brasil ainda está atrás de outros países na substituição da produção de algodão convencional pela forma orgânica. É aí que os sintéticos verdes e as fibras naturais podem ganhar mais representatividade entre os brasileiros, por serem ecologicamente corretos e comercializados a preços acessíveis, colocando as roupas de algodão na lista dos trajes especiais. “Dependerá de como o mercado enxergará os tecidos novos. Acredito que o algodão se tornará um artigo diferenciado, mesmo que não de luxo”, afirma Ribeiro.
A marca paranaense Joyful Moda Sustentável tem criado roupas a partir do algodão orgânico e de outras matérias-primas ambientalmente adequadas. A gerente da loja da marca, Christiane Buss, considera que dificilmente as pessoas preferirão a roupa de malha PET às de algodão orgânico. “O caimento é diferente e o algodão orgânico confere à roupa uma sensação de aveludado.”
Deste solo
O algodão orgânico ainda é um alto investimento para o agricultor e, consequentemente, tem valor elevado para o comércio. Segundo a designer de moda Priscila Kovalski, da Econtexto Ideias Ecológicas, o produto orgânico chega a valer 30% mais que o comum. O estilista Rodrigo Ribeiro explica que a produção orgânica exige várias condicionantes, como plantio e cuidado do solo de forma manual; propriedades menores, que por sua vez dão origem às cooperativas, favorecendo os agricultores; e uso de adubo orgânico juntamente com barreiras naturais para eliminar o uso de pesticidas.
O Paraná tem ações importantes no cultivo de algodão orgânico, com o apoio de instituições como Emater, Sebrae/PR e Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Um pouco de história
Nos anos 60,quando as saíram em busca de seus direitos, a roupa não representava só mais um item de desejo feminino, mas tinha ligação com assuntos de política, economia e ciência. O surgimento de tramas sintéticas derivadas do petróleo – como náilon e poliéster – estimularam a moda de massa. De certa forma, esses tecidos simbolizaram a alforria feminina do domicílio, a libertação da tábua de passar (já que saem do varal para a gaveta), a modernidade e o consumo acessível.
Décadas mais tarde, os tecidos sintéticos perderam a influência e as roupas ganharam etiquetas indicando as misturas – 50% algodão e 50% poliamida. Quem pode negar que uma roupa de algodão é infinitamente mais confortável?
Mas, para Rodrigo Ribeiro, os sintéticos não são os vilões e se a indústria for inteligente, pode fazer deles parte da solução. Os sintéticos verdes parecem fazer parte do futuro. “O tecido sintético pode ser feito do reaproveitamento de PET ou de sacola plástica. Existe realidade para isso.”
Serviço:
– Joyful Moda Sustentável, site www.joyfulsustentavel.com.br
– Econtexto Ideias Ecológicas, site
www.econtexto.com