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Será que meu avô está adaptado ao aparelho auditivo?
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Convencido o idoso de que o aparelho auditivo vai melhorar a qualidade de vida, a família deve prestar atenção aos sinais de que a adaptação está indo bem ou não tão bem assim. Esse processo deve levar algumas semanas, nas quais o idoso pode reclamar do som muito alto, dos zumbidos e mesmo da falta de compreensão nas conversas – sinais de que o aparelho amplificador de som ou o ouvido precisam ser revistos.

Durante esse processo de adaptação, os familiares precisam ser compreensivos e lembrar que voltar a ouvir é tão complicado quanto ligar a luz depois de horas no escuro. Entre o diagnóstico da perda auditiva e a aceitação do uso do aparelho pelo idoso se passam, em média, sete anos e o cérebro “desaprende” a ouvir certos tons, começando pelos mais agudos. Alguns idosos precisam, inclusive, mesclar as consultas no otorrinolaringologista com visitas ao fonoaudiólogo, para reaprenderem a identificar as fontes sonoras e até mesmo a falar certas palavras.

Quando o idoso tenta se enganar de que não está “tão surdo assim”, algumas situações são comuns e são as mesmas de quando o aparelho não está bem adaptado. Em reuniões com muitas pessoas, ele fica isolado ou culpa os outros por não compreender o assunto da conversa; em casa, tenta aumentar o volume da tevê, do rádio; reclama ou retira constantemente o aparelho e não percebe os benefícios do amplificador.

Mesmo entre aqueles muito bem adaptados ao aparelho, a família precisa tomar certos cuidados. O custo do aparelho varia de R$ 2 mil a R$ 14 mil, e qualquer estrago não tem conserto. Por isso, atenção redobrada nos momentos do banho ou da piscina, quando o idoso esquece que está com o amplificador no ouvido e pode umedecer a peça.

Muita cera

Quem tem muitos pelos no ouvido pode ter mais dificuldade em se adaptar ao amplificador. Isso porque os pelos agem como bloqueadores do som, prejudicando a percepção do idoso. O mesmo acontece com o excesso de cera de ouvido. Para tanto, uma visita mensal ao médico é de grande ajuda.

Até que o período de adaptação passe, e mesmo depois, a indicação dos especialistas é visitar o médico otorrinolaringologista pelo menos duas vezes ao ano.

Exames certos

Não basta que os familiares percebam os sinais claros de uma perda auditiva no idoso e que busquem um aparelho amplificador de som. A consulta ao médico otorrinolaringologista, de preferência especialista em geriatria, é indispensável para descartar outras doenças e condições que também causam perda de audição.

Hipertensos e diabéticos podem ter uma perda auditiva quando as doenças não estão controladas. A doença do labirinto, quando a pessoa apresenta uma pressão alta dentro do labirinto, também afeta a audição, mas é controlada por medicamentos. Algumas doenças autoimunes, relacionadas a distúrbios reumáticos, como artrite reumatoide e lúpus, além de tratamentos de quimio e radioterapia contra o câncer também podem atrapalhar a audição.

Para excluir esses fatores, os pacientes passam por diferentes exames, além da audiometria – que determina o grau da perda auditiva. O exame do tímpano determina se a película mantém a mobilidade que permite a vibração sonora; enquanto o exame da cóclea vê como está a condição dessa parte do ouvido. O idoso também precisa fazer tomografias e ressonância magnética para descartar outras doenças.

Preciso de um fonoaudiólogo?

Se o idoso ficou muito tempo sem receber o diagnóstico da perda auditiva, em alguns casos pode precisar da ajuda de um fonoaudiólogo para recuperar a qualidade sonora, junto com o aparelho. Alguns exercícios de fala, de localização e detecção dos sons, feitos tanto no consultório médico quanto em casa, podem ajudar.

O tempo de cada paciente varia bastante, mas a média é de uma sessão por semana, durante pelo menos três meses. O idoso que normalmente busca a ajuda do médico fonoaudiólogo é aquele que tentou usar o aparelho em outros momentos e não conseguiu uma adaptação completa.

Voz afetada – Quando a perda auditiva é muito acentuada, é possível acabar afetando até mesmo a fala da pessoa. Imagine não conseguir ouvir a própria voz, sem saber exatamente quais palavras você está dizendo. Por isso, o idoso tende a falar mais alto, com falhas de dicção, diminuem o timbre sonoro e falam até mesmo palavras pela metade.

100% é a taxa de adaptação dos idosos com perda auditiva e que buscam o aparelho ainda no primeiro ano do diagnóstico. Quanto mais tempo leva para usar o aparelho, menor é o índice de reconhecimento das palavras. Com três anos de diagnóstico, sem nenhum tratamento para melhorar a audição, o reconhecimento das palavras cai para 88%. Se no ano seguinte o idoso continuar sem o aparelho, o índice reduz para 76%, e no quinto ano, o reconhecimento é de apenas 64%. Essa audição não é recuperada pelo aparelho, que somente amplifica o som.

Fontes: Andrea Abrahão, fonoaudióloga e diretora técnica da empresa Direito de Ouvir; Ricardo Testa, presidente da Sociedade Brasileira de Otologia e Rodrigo Hamerschmidt, otorrinolaringologista geral do Instituto Paranaense de Otorrinolaringologia e professor de otorrinolaringologia da UFPR.

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