Saúde e Bem-Estar

Como fazer o exame de fertilidade

Amanda Milléo
25/07/2015 00:01
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(Foto: Bigstock)

Na corrida pela gravidez, mulher e homem disparam juntos. Depois de um ano tentando sem sucesso, elas são as primeiras a buscar ajuda médica, embora eles não desejem ficar para trás. Enquanto os homens começam a investigação com um simples teste para descobrir se há espermatozoides suficientes e mobilizados, as mulheres são reviradas para checar se cada aspecto, da concepção ao desenvolvimento do bebê, está no caminho certo.
Os primeiros exames de fertilidade são sempre os menos invasivos, e a sequência segue a própria lógica da concepção, segundo o ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana da Maternidade Curitiba, Ricardo Beck. “Começamos pelos espermatozoides e óvulos. Pelo espermograma se descobre a quantidade de gametas masculinos, qual a mobilidade e a forma deles. Os exames hormonais nos dão a reserva ovariana, e a ecografia seriada nos mostra quando a mulher ovula”, diz.
Confirmada a presença dos atores principais, avalia-se as condições do caminho que precisam percorrer: vagina, útero e trompas. “Chegando nas trompas, a investigação começa a ser mais invasiva para as mulheres, com o exame de histerossalpingografia, espécie de raio-X das trompas, que pode ser doloroso quando feito sem sedação. A seguir, se não houver um diagnóstico, é o momento da videolaparoscopia, onde se procura por endometriose na cavidade abdominal”, afirma Beck.
Dentro deles
A invasão no interior masculino também acontece, principalmente quando o espermograma indicar a ausência de espermatozoides. “Neste caso é necessário saber se o homem produz os espermatozoides ou se é o caso de entupimento dos canais. Recorremos a uma biopsia testicular, que retira pedaços do testículo para saber se há uma produção normal. É uma pequena cirurgia”, explica o coordenador geral do departamento de Reprodução Humana da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), Reginaldo Martello.
Se o casal estiver passando por abortamentos espontâneos de repetição ou pelo nascimento de um bebê com malformação também é aconselhada pelos médicos uma investigação mais aprofundada nos homens.
“A histerossalpingografia com sedação tornou-se mais factível, pois antes a dor era insuportável. A ecografia endovaginal em 3D nos dá uma imagem muito boa da cavidade uterina, local em que o embrião se implanta, e associada ao doopler podemos ter uma noção melhor dos focos de endometriose.” – Ricardo Beck, ginecologista.
Entrevistas no consultório
Antes de partir para os exames, uma simples conversa com o médico dá indícios das causas da ausência de bebê. O ciclo menstrual completamente irregular, de acordo com a professora medicina da PUCRS e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Mariangela Badalotti, pode ser sinal de falta de ovulação. “Sem ovular, ninguém engravida”, explica.
Mulheres que tiveram doenças sexualmente transmissíveis (DST) sem sintomas, como clamídia, podem sofrer alterações na aderência ou obstrução das trompas. No centro de pesquisa do Hospital das Clínicas da UFPR, uma dissertação de mestrado mostrou que 11% das meninas, entre 16 e 20 anos, tinham clamídia e não sabiam, segundo o chefe do serviço de reprodução humana do HC/UFPR, Rosires Pereira de Andrade.
Entre os homens, a criptorquidia, quando o menino nasce com os testículos fora da bolsa escrotal, é uma condição comum na alteração da fertilidade. “Ter um histórico de varicocele, que são as varizes na região da bolsa escrotal, ou se fez algum tratamento contra câncer com radio ou quimioterapia também pode influenciar”, explica Reginaldo Martello, coordenador geral do Departamento de Reprodução Humana da SBU. Quem fez alguma cirurgia na área genital, ou teve infecções graves como a caxumba, faz uso frequente de álcool, cigarro e drogas também pode sofrer com a dificuldade de engravidar.
Quadripé da gravidez
A sequência de exames para investigar uma possível infertilidade respeita as histórias do exame físico do casal. Se não houver nenhuma alteração, a avaliação começa pelo quadripé básico para gestação: 1) presença de espermatozoides em número e qualidade, através do espermograma; 2) presença de ovulação, através da dosagem hormonal no sangue; 3) se óvulo e espermatozoide conseguem se encontrar, através da avaliação das trompas (histerossalpingografia); 4) se o útero está de acordo para receber o bebê (ultrassom).
(Foto: Bigstock)
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Parâmetros do espermograma
Para que os resultados do exame sejam positivos, o volume de esperma deve estar acima de 1,5 mL; a concentração de espermatozoides deve ser acima de 15 milhões por mL, valor mínimo; e a motilidade de pelo menos 35% dos espermatozoides deve ser considerada progressiva – aqueles que nadam para frente. Na morfologia, a maioria precisa ter a cabeça oval e a cauda com boa mobilidade.
Apoio da família pode parecer cobrança
Cadê o bebê? A pergunta não é ofensiva, mas depois de um ano de tentativas sem resposta, ela se torna o pior questionamento que o casal pode ouvir de amigos e familiares. “A sensação do casal que não engravida é de incapacidade, de falha e culpa por, muitas vezes, ter demorado a tentar. Como não podemos mudar o comportamento das pessoas ao redor, precisamos ensinar aos casais como lidar com a situação”, afirma o ginecologista Ricardo Beck.
A primeira e principal dica aos conhecidos do casal que quer aumentar a família, segundo a ex-presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, Mariangela Badalotti, é tirar o assunto da roda. “Este não pode ser um tema que esteja sempre presente nas discussões. Deve ser discutido apenas quando o casal decidir abordá-lo”, diz. O apoio vem mesmo sem o questionamento, que acaba soando às vezes como uma cobrança ou intromissão.