Saúde e Bem-Estar

Os dilemas de quem não consegue engravidar

Amanda Milléo
25/05/2015 18:54
Thumbnail
Decidir o melhor momento para ser mãe e pai, às vezes, não cabe ao casal. O atraso na chegada do rebento faz com que a ansiedade e estresse tomem conta, empurrando para cada vez mais longe a maternidade. A aflição acomete principalmente as mulheres, de acordo com a psicóloga Liliana Seger, que lançou recentemente o livro “Cadê você, bebê?” (Segmento Farma, R$ 49), com relatos de homens e mulheres que passaram por essa situação. De acordo com a colaboradora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, a ideia do livro é servir de alívio a quem quer dividir as angústias e frustrações da fase pré-bebê. Confira a entrevista:
Quais as principais situações relatadas pelas mulheres e homens que não conseguiam engravidar?
Elas relatam uma sensação de castigo. Como se ela tivesse feito algo errado e estaria sendo punida. Tentam achar causas e culpados. Elas sempre pensam que o problema parte delas. Os maiores momentos de angústia são os aniversários, festas infantis, dia das mães. Elas pensam: “só eu não engravido, o mundo todo é fértil!”. Traz uma sensação de solidão e o livro tenta ajudá-las nisso, mostrando histórias semelhantes.
Como elas compartilhavam essas angústias?
Elas não compartilhavam. Quando havia uma perda, um aborto espontâneo, elas não contavam para ninguém, porque dói muito. A mulher se sente muito sozinha, porque ela sente uma cobrança a vida toda: namorou, casou e cadê os filhos? É uma cobrança que vem da família, dos amigos, da sociedade, dela mesma e, às vezes, ela tenta achar outras desculpas: “preciso acabar a pós-graduação, quero viajar ainda, quero fazer outras coisas antes de ser mãe”.
Muitos casais não conseguem engravidar em um período de um ano e logo buscam outros métodos, como inseminação artificial e in vitro. Poderia haver menos procedimentos assim se a ansiedade para engravidar fosse menor?
As pessoas acreditam que vão engravidar no momento que elas decidirem engravidar e, embora para alguns aconteça por sorte, a chance de acontecer em um mês, sem problema algum, é de apenas 18%. Além disso, as mulheres estão engravidando depois de certa idade, com os óvulos mais velhos e isso também influencia na taxa de fertilização. Por isso que a orientação é que se espere pelo menos um ano nessa tentativa de engravidar.
De que forma o emocional influencia na hora de engravidar?
Depois que o casal decide ter o filho e está com a predisposição emocional para isso, passa um mês e nada, dois meses, nada. Começam a ficar aflitos, ansiosos. A ansiedade e o estresse faz com que ocorram alterações hormonais, que vão dificultar, mas não impedir a gravidez. Hoje temos 40% dos problemas femininos, 40% masculinos e 20% mistos. Mas os homens são investigados (através de um espermograma, que é um exame muito simples) somente depois que a mulher foi virada do avesso em exames invasivos.
Como são vistos os conselhos para casais nesse dilema?
Tem gente que aconselha até a adotar outra criança. Adoção não é vale-brinde. Falam que comprar um cachorro ou adotar uma criança os fará receber o seu de “verdade”. Como se a criança que você adotou não fosse sua de verdade! Quem aconselha assim acha que é só você mudar o foco que vai engravidar, mas se você está há um ano tentando, você não vai mudar o foco e pronto. Não é todo mundo que, ao desencanar, consegue engravidar. Fora que, para a mulher que escuta esse conselho, ela passa entender que é a cabeça dela que não a deixa engravidar, piorando os sentimentos de culpa.