Moda e beleza

Camille Bropp Cardoso

Barraco em salão de beleza expõe saia justa comum no setor de serviços

Camille Bropp Cardoso
20/05/2015 13:42
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Uma confusão em um salão de beleza de Curitiba, que rendeu dois vídeos que foram parar na internet, expôs uma saia justa típica do setor de prestação de serviços: a combinação do preço. Tudo começou quando, acompanhada de uma amiga, uma cliente entrou em um salão da rede Expert Beauty Center, no ParkShoppingBarigüi, no sábado (16), e pediu diversos serviços, de unha a maquiagem e cabelo.
A conta, de cerca de R$ 4,7 mil, acabou não sendo paga. Segundo a rede informou em nota oficial, porque a cliente agiu de má-fé. Ou, conforme alega a cliente — identificada na rede social Facebook como Amanda Michele, mas cujo perfil já foi apagado –, porque o valor total dos serviços não havia sido informado anteriormente. O Viver Bem tentou contato com ela pela rede social nesta terça-feira (20), sem sucesso.
Em um vídeo, a cliente aparece desfazendo o penteado enquanto afirma que não pagaria a conta:
Serviço “desfeito”
A Expert Beauty Center diz que a conta foi alta porque os serviços pedidos foram vários: manicure, podologia, unhas de porcelana, decoração de unhas, cauterização capilar, sobrancelha de henna, maquiagem, megahair e escova. E garante que o preço fora combinado previamente. “O valor total dos serviços, repita-se, previamente orçados e autorizados, foi de R$ 4.719,50”, diz a nota.
Segundo a rede, a cliente havia informado um nome falso para o cadastro do salão e, depois, contou que a conta seria paga pelo marido dela, que estaria na praça de alimentação do shopping. Ela foi acompanhada até o local mas, de acordo com a nota, “não havia ninguém à espera”. “E todos os telefones fornecidos por ela, inclusive o do suposto marido, não atenderam”.
Antes de sair sem pagar nada, a cliente teve parte dos serviços “desfeitos” por funcionários do salão. Diz a rede, por vontade dela mesma, e depois que ela se negou a pagar pelo menos parte da conta. A amiga da cliente também teria saído sem pagar a conta (de cerca de R$ 800, segundo o salão).
A Expert garante que o vídeo não é de “sua autoria” e que avalia como poderia cobrar pelos serviços judicialmente. Já a cliente disse, em sua página na rede social, que pensa em processar a empresa pela suposta exposição indevida. “Vou entrar com danos morais contra o salão e contra a garota que filmou, que sei bem quem é”, escreveu. Antes, afirmou que a conta foi maior do que a do seu implante de silicone nos seios, negou que tenha fornecido nome falso e “agradeceu” pela repercussão, que a estaria “deixando famosa“.
Saia justa
Polêmicas (e versões bem diferentes) à parte, preço é um motivo até usual para discussão nos salões de beleza, afirma a diretora do Procon-PR, Claudia Silvano. “Não divulgar o preço ao consumidor de forma visível é, infelizmente, uma prática contumaz desse tipo de estabelecimento”, diz ela, apesar de esclarecer que, no caso citado, é difícil afirmar se houve ou não negociação prévia.
A principal reclamação, diz a diretora, é que a conta final diverge muito da inicial porque acabam sendo incluídos serviços não informados claramente antes. “O consumidor tem que ser informado sobre tudo que inclui o serviço, seja lavar, secar ou etc. Uma tabela seria o suficiente para não causar constrangimentos”.
Calote
Calotes por discordância sobre preços — ou mesmo de má-fé — são usuais no dia a dia dos salões, segundo profissionais do ramo. A situação inclusive leva os estabelecimentos a tomar medidas preventivas. “Sempre digo o preço antes, apesar de saber que seria mais fácil a própria cliente perguntar. Quando discordam, o serviço não é realizado. Mas para tudo existe negociação”, explica um beauty stylist que atua em Curitiba e não quis se identificar.
O profissional afirma que informar o custo é essencial para evitar desentendimentos, especialmente no caso de serviços caros, como é o mega-hair. “Não sei exatamente o que ocorreu, mas pelo vídeo me parece que a cliente se assustou com o valor e quis ‘devolver’ o serviço”, diz.
Segundo outro profissional, que também preferiu ficar anônimo, a situação é rotineira justamente porque poucos salões abrem os preços. “A diferença entre um e outro é muito grande, mas o problema é que muitos abusam“, palpita. No caso da situação narrada nos vídeos, a rede de salões informou, via assessoria de imprensa, que parte dos preços são fixos e parte é estipulada pelos profissionais, a maioria autônomos.
Segundo dona de salão em Curitiba, contratos deveriam se tornar mais usuais para serviços caros, como mega-hair. Imagem: Bigstock
Segundo dona de salão em Curitiba, contratos deveriam se tornar mais usuais para serviços caros, como mega-hair. Imagem: Bigstock
Alerta
A proprietária do IC Hair, Isabel Cristina, avalia que o assunto serve de alerta para que salões e clientes busquem oficializar a prestação de serviços. “Principalmente em serviços maiores, caros, um contrato seria o ideal. Com noivas, fazemos isso. Mas com mega-hair, ninguém faz. Com essa história de que o cliente tem sempre razão, em salão todos ficamos melindrados em cobrar depois e em avisar o preço antes. Há clientes que ficam, sim, ofendidos”.
Isabel disse já ter levado calotes em duas situações diferentes — em uma, a cliente disse ter esquecido a carteira, e depois afirmou que o pai pagaria a conta; a outra disse que buscaria o cartão em casa, mas não voltou. Em ambos os casos, a empresária afirmou ter deixado o assunto assim mesmo, para evitar desgastar a imagem do salão. “Se é sábado à tarde, o salão cheio, você não vai querer chamar a atenção”, avalia.