Moda e beleza
Camille Bropp Cardoso
Barraco em salão de beleza expõe saia justa comum no setor de serviços
Uma confusão em um salão de beleza de Curitiba, que rendeu dois vídeos que foram parar na internet, expôs uma saia justa típica do setor de prestação de serviços: a combinação do preço. Tudo começou quando, acompanhada de uma amiga, uma cliente entrou em um salão da rede Expert Beauty Center, no ParkShoppingBarigüi, no sábado (16), e pediu diversos serviços, de unha a maquiagem e cabelo.
A conta, de cerca de R$ 4,7 mil, acabou não sendo paga. Segundo a rede informou em nota oficial, porque a cliente agiu de má-fé. Ou, conforme alega a cliente — identificada na rede social Facebook como Amanda Michele, mas cujo perfil já foi apagado –, porque o valor total dos serviços não havia sido informado anteriormente. O Viver Bem tentou contato com ela pela rede social nesta terça-feira (20), sem sucesso.
Em um vídeo, a cliente aparece desfazendo o penteado enquanto afirma que não pagaria a conta:
Serviço “desfeito”
A Expert Beauty Center diz que a conta foi alta porque os serviços pedidos foram vários: manicure, podologia, unhas de porcelana, decoração de unhas, cauterização capilar, sobrancelha de henna, maquiagem, megahair e escova. E garante que o preço fora combinado previamente. “O valor total dos serviços, repita-se, previamente orçados e autorizados, foi de R$ 4.719,50”, diz a nota.
Segundo a rede, a cliente havia informado um nome falso para o cadastro do salão e, depois, contou que a conta seria paga pelo marido dela, que estaria na praça de alimentação do shopping. Ela foi acompanhada até o local mas, de acordo com a nota, “não havia ninguém à espera”. “E todos os telefones fornecidos por ela, inclusive o do suposto marido, não atenderam”.
Antes de sair sem pagar nada, a cliente teve parte dos serviços “desfeitos” por funcionários do salão. Diz a rede, por vontade dela mesma, e depois que ela se negou a pagar pelo menos parte da conta. A amiga da cliente também teria saído sem pagar a conta (de cerca de R$ 800, segundo o salão).
A Expert garante que o vídeo não é de “sua autoria” e que avalia como poderia cobrar pelos serviços judicialmente. Já a cliente disse, em sua página na rede social, que pensa em processar a empresa pela suposta exposição indevida. “Vou entrar com danos morais contra o salão e contra a garota que filmou, que sei bem quem é”, escreveu. Antes, afirmou que a conta foi maior do que a do seu implante de silicone nos seios, negou que tenha fornecido nome falso e “agradeceu” pela repercussão, que a estaria “deixando famosa“.
Saia justa
Polêmicas (e versões bem diferentes) à parte, preço é um motivo até usual para discussão nos salões de beleza, afirma a diretora do Procon-PR, Claudia Silvano. “Não divulgar o preço ao consumidor de forma visível é, infelizmente, uma prática contumaz desse tipo de estabelecimento”, diz ela, apesar de esclarecer que, no caso citado, é difícil afirmar se houve ou não negociação prévia.
A principal reclamação, diz a diretora, é que a conta final diverge muito da inicial porque acabam sendo incluídos serviços não informados claramente antes. “O consumidor tem que ser informado sobre tudo que inclui o serviço, seja lavar, secar ou etc. Uma tabela seria o suficiente para não causar constrangimentos”.
Calote
Calotes por discordância sobre preços — ou mesmo de má-fé — são usuais no dia a dia dos salões, segundo profissionais do ramo. A situação inclusive leva os estabelecimentos a tomar medidas preventivas. “Sempre digo o preço antes, apesar de saber que seria mais fácil a própria cliente perguntar. Quando discordam, o serviço não é realizado. Mas para tudo existe negociação”, explica um beauty stylist que atua em Curitiba e não quis se identificar.
O profissional afirma que informar o custo é essencial para evitar desentendimentos, especialmente no caso de serviços caros, como é o mega-hair. “Não sei exatamente o que ocorreu, mas pelo vídeo me parece que a cliente se assustou com o valor e quis ‘devolver’ o serviço”, diz.
Segundo outro profissional, que também preferiu ficar anônimo, a situação é rotineira justamente porque poucos salões abrem os preços. “A diferença entre um e outro é muito grande, mas o problema é que muitos abusam“, palpita. No caso da situação narrada nos vídeos, a rede de salões informou, via assessoria de imprensa, que parte dos preços são fixos e parte é estipulada pelos profissionais, a maioria autônomos.
Alerta
A proprietária do IC Hair, Isabel Cristina, avalia que o assunto serve de alerta para que salões e clientes busquem oficializar a prestação de serviços. “Principalmente em serviços maiores, caros, um contrato seria o ideal. Com noivas, fazemos isso. Mas com mega-hair, ninguém faz. Com essa história de que o cliente tem sempre razão, em salão todos ficamos melindrados em cobrar depois e em avisar o preço antes. Há clientes que ficam, sim, ofendidos”.
Isabel disse já ter levado calotes em duas situações diferentes — em uma, a cliente disse ter esquecido a carteira, e depois afirmou que o pai pagaria a conta; a outra disse que buscaria o cartão em casa, mas não voltou. Em ambos os casos, a empresária afirmou ter deixado o assunto assim mesmo, para evitar desgastar a imagem do salão. “Se é sábado à tarde, o salão cheio, você não vai querer chamar a atenção”, avalia.