Moda e beleza

Bruna Covacci

Fause Haten diz que “o capitalismo engoliu a moda”

Bruna Covacci
25/03/2015 17:26
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Estilista desde os anos 1990, o paulistano Fause Haten participou da renovação da moda brasileira. Em 2006, resolveu se expressar por outros universos e passou a se dedicar a trabalhos ligados à arte em diferentes planos: é ator de teatro, cenógrafo, figurinista e músico. Em cartaz em Curitiba no Festival de Teatro com a peça “Post Scriptum”, em que além de atuar é cenógrafo e figurinista, aproveitou a estada na cidade e conversou sobre o futuro da moda com o Viver Bem.
“A moda como existe hoje não me interessa.”
O estilista comenta que sempre trabalhou com a vontade de procurar mudanças e que existe um público que entende isso. “O problema é que a moda foi engolida pelo capitalismo. As pessoas que têm uma veia mais artística começam a se revirar. O teatro é uma possibilidade nesse momento, mas as artes plásticas e o cinema são outras vertentes bacanas. Cada um vai procurar sua válvula de escape”, comenta. Neste momento, Haten também assina o figurino e a cenografia dos shows da Maria Rita.
“A crise da moda é clara para quem quiser ver.”
Segundo ele o mercado passou por um esgotamento. “A moda ficou na moda. Todo mundo quis ser modelo, estilista ou blogueiro. Não tem público para tudo isso”, comenta. O setor passou a ser um instrumento de consumo e muita gente que investiu seu capital nela não teve retorno. “Quando a gente se dá conta existem grandes campanhas de marketing que nos convencem a comprar a mesma camiseta preta como uma estampa nova. Não existem grandes movimentos de forma: ninguém vê mulheres usando aquilo que repudiava, como ombreiras”, explica.
“A blogueira corresponde ao fenômeno da cliente.”
Nos anos 2000 estilistas e modelos eram as celebridades. Agora a cliente assumiu este espaço, representada pelas blogueiras. “A blogueira corresponde aos desejos dos clientes. Ela é uma consumidora que conta a sua experiência, então a moda nunca foi tão comercial quanto hoje”, comenta.
“É hora dos estilistas brasileiros ficarem na coxia.”
As marcas internacionais estão vindo em peso para cá, é uma euforia. E os estilistas daqui não tem como competir com estas marcas. “O público que antes era vip na sua loja gora é vip na Dolce & Gabbana. É hora dos estilistas brasileiros ficarem na coxia”, destaca. Ele relembra que se você analisa a última edição da São Paulo Fashion Week, SPFW, os grandes destaques foram os desfiles da Versace e a da Stella McCartney; estilistas internacionais que fizeram parcerias com grandes lojas de departamento.
“Desistir de desfilar na SPFW é uma estratégia, não um demérito.”
Segundo ele, quando marcas como a Tufi Duek recuam de um desfile e preferem fazer ações pontuais estão adotando uma nova estratégia. “Eu também não desfilei a minha última coleção e agora pretendo fazer uma performance para 50 pessoas. Acho que o desfile não ocupa mais a sua função de convencer a mulher a usar uma determinada roupa”, ressalta.
“Estamos precisando viver os anos loucos.”
Quando indagado sobre a moda encontrar o seu caminho, o estilista se mostrou pessimista. Para ele vivemos uma fase de mudanças. “Sempre ouvi falar que o início de um século promove a revisitação do anterior. E a gente viu isso com muita força, só que assim: todo ano vamos falar dos anos 1970 e nos vestir de hippies? Não dá. Estamos precisando viver os anos loucos, os anos 1910 e 1920”, comenta.
“Está na hora de cada um voltar a fazer a sua própria roupa.”
Ele aposta que a indústria de confecção no Brasil vai desabar assim como a têxtil desabou nos anos 1990. “Está na hora de cada um voltar a fazer a sua própria roupa. É hora de usar a roupa como forma de expressão de verdade”, finaliza.