Moda e beleza

Bruna Covacci

Saiba como foram feitos os mais famosos figurinos das novelas

Bruna Covacci
15/08/2015 15:00
Thumbnail
Porcina (Regina Duarte) em Roque Santeiro (1985) era no estilo “embalada para presente” (Foto: Daniel Katz)
A teledramaturgia da Globo sempre desempenhou papel de destaque no imaginário coletivo dos brasileiros. E o figurino, claro, é parte importante desse processo. Com ele, é possível fazer uma leitura esmiuçada da personalidade de cada personagem, assim como a sua idade e o seu papel social.
A veterana dos figurinos Gogoia Sampaio começou a trabalhar na Globo nos anos 1990. Ela, que recentemente idealizou e participou do quadro “Como manda o figurino”, exibido pelo Fantástico, acredita que o figurino é a pele do personagem. “Eu sempre digo: o autor é a cabeça, o diretor os membros e o figurino, a pele”. Segundo ela, o cérebro humano demora, em média, 30 segundos para entender uma imagem. Nas novelas, o telespectador tem um pouco mais de tempo para compreender o personagem. “Isso faz com que tenhamos um tempo maior para apresentá-los e, nesse processo, a caracterização é essencial”, explica.
Para o paranaense Rafael Chaouiche, produtor de moda que se revelou figurinista no quadro do “Fantástico”, o tipo de tecido, o corte e a cor da roupa, a silhueta, a maneira de prender o cabelo ou a maquiagem podem dizer muito sobre um personagem. “O figurino é justamente um conjunto de sinais, em que uma peça do vestuário muitas vezes ocupa papel decisivo na ação”, diz. A categoria ainda faz coro: figurino não é moda; ele apenas inclui a moda. Ou melhor, apropria-se dela para criar os personagens. Ele não fica amarrado às tendências. “Transformar é a alma do negócio. Uma saia pode virar uma gola, e uma toalha de renda pode se tornar um vestido de noiva”, explica Chaouiche.
Embalada para presente
Coqueluche nacional, a novela Roque Santeiro (1985) de Dias Gomes — escrita também por Aguinaldo Silva — espalhou o seu estilo kitsch de Viúva Porcina (Regina Duarte): turbantes, cores berrantes e muito brilho nas cores e bijuterias. O estilo “embalada para presente” da viúva era definido pelo figurinista Marco Aurélio como uma mistura de Carmen Miranda, Madonna, somada à descontração carioca e baiana. Para a figurinista Gogoia Sampaio, os elementos retratam a alegria da personagem. Vestido André Lima (R$ 1.149) e sapato com aplicação de pérolas (R$ 1.115), os dois Bazaar Fashion, lenço Libélula Brechó (R$ 24,90), anel quadrado (R$ 249,90), anel redondo (R$ 249,90), brinco de pedras marrom (R$ 90), pulseiras de corrente douradas (R$ 269,90 cada), pulseiras de corrente bronze (R$ 269,90), todos Madame Morena.
Cheia de ‘catiguria’
A tarefa de vestir a prostituta Bebel (Camila Pitanga), da novela Paraíso Tropical (2007) de Gilberto Braga, coube às figurinistas Helena Gastal e Natália Duran. A personagem encantou o público com maiôs engana-mamãe e brincos grandes, de diversas cores e formatos. Inclusive, alguns deles foram produzidos pela designer de acessórios Maria Ignez Simões, de Curitiba. Na época, seu maiô de crochê lançou moda e foi copiado pelas areias de todos os cantos do Brasil. Na produção de Chaouiche, saia Brechó Trinca Z (R$ 65), top cropped de couro craquelado Patrícia Vieira (R$ 2.253) e jaqueta de couro (R$ 4.369), os dois Bazaar Fashion. O brinco é uma releitura feita por Maria Ignez Simões (R$ 120). Bota acervo.
A maldade elegante
Manipuladora, ela é capaz dos mais baixos golpes para alcançar seus objetivos. A malvada Odete Roitman (Beatriz Segall), da novela Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères — considerada uma das piores (ou melhores) vilãs das telenovelas —, se vestia com tailleurs de corte fino e cores sóbrias para exibir o requinte que se espera da diretora de uma importante companhia aérea. Para caracterizar o lado sedutor da personagem, a figurinista Helena Gastal encurtou as suas saias. Gogoia ainda explica que tudo foi pensado para transmitir austeridade e prepotência. Na caracterização do nosso editorial, o cabeleireiro Beto Bravo pintou o cabelo da modelo com tinta temporária, para que ele tivesse uma mecha branca igual a da personagem. Na foto, saia em couro (R$ 79,90), camisa (R$ 32,90) e blazer (R$ 127), todos Libélula Brechó. Colar (R$ 215) e os anéis (R$ 249,90, cada), ambos Madame Morena.
É tudo culpa da Rita
A personagem Carminha (Adriana Esteves) em Avenida Brasil (2012), escrita por João Emanuel Carneiro, tem como principais características a falsidade e a luxúria. Para Gogoia, isso era representado, entre outras coisas, pelos colares enormes, um com a figura de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa e outro com uma letra T, inicial do nome do marido Tufão. A personagem, que teve o figurino assinado por Marie Salles, ainda é um bom exemplo de como a caracterização pode situar a personagem. Na novela, ela viveu dois momentos: pobre, em que tinha pouco dinheiro para investir nas roupas e se vestia de um jeito muito simples, beirando o desleixo. E como rica, com figurinos comportados e suaves. A única semelhança é a escolha pelos tons sempre claros: muito branco, nude, e cores pastéis. Vestido Sandra Kanayama (R$ 1.421), colar pérolas Madame Morena (R$ 110) e relógio acervo.
Hit da estação
Com mais de 20 novelas no currículo, Marília Carneiro, também figurinista da emissora, escreveu em seu livro “O Camarim das Oito” que quando uma novela entra no ar os trajes são sempre baseados em mostruários da próxima estação (quando não são tramas de época) para não correr o risco de apresentar ao público roupas já vistas, e assim fugir do velho – que para a moda é fatal.
O que faz uma peça mostrada na novela tornar-se o hit da estação? “Um conjunto de fatores. Suas características, o carinho dedicado ao ator que o interpreta e a forma com que o figurino conversa com tudo isso enquanto a novela é exibida”, diz Gogoia.
Serviço
Fotos: Daniel Katz, Avenida República Argentina, 50, cj 102, fone (41) 3243-4720. Assistente de fotografia: Rodrigo Labatut. Produção: Rafael Chaouiche, fone (41) 9890-3242. Beleza: Riccardo Guerra (make) e Beto Bravo (cabelo). Assistentes: Junior Cardoso e Marck Pejic. Palco RG&BB, Rua Alferes Ângelo Sampaio, 1.452, Batel, fone (41) 3224-0910. Modelos: Etty Nandes, DM Atores e Modelos, Rua Bento Viana, 428, Água Verde, fone (41) 3243-0202. Larissa Damas e Ana Bender, Rua São Francisco, 150, sala 16, Centro, fone (41) 3501-6134. Iolanda Viola, Mega Model Sul, fone (41) 3387-4280. Lojas: Bazaar Fashion, Avenida Sete de Setembro, 5.769, Água Verde, fone(41) 3243-2605. Madame Morena, Avenida do Batel, 1.230, loja 5, Batel, fone (41) 3086-1902. Helô Capobianco Trend, Rua José Sabóia Cortês, 399, Loja 01, Centro Cívico, fone (41) 3352-9856. Trinca Z, Rua Trajano Reis, 576, São Francisco, fone (41) 3308-5902. Sandra Kanayama, Avenida Cândido de Abreu, 470, sala 409, Centro, fone (41) 3045-5527. Maria Ignez Simões. Brechó Libélula, Rua Mateus Leme, 291 e 302 (duas lojas), São Francisco e Rua Coronel Dulcídio, 836, Batel.