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Maximalismo, blazers com brasões e jaquetas de pele no desfile da Dolce & Gabanna em Milão

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05/02/2016 10:48
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Foi uma experiência singular. Primeiro, porque, invertendo a lógica, a plateia estava acomodada no palco, de frente para os luxuosos camarotes e galerias, em dourado e vermelho, do Teatro alla Scala, de Milão, uma das casas de ópera mais famosas do mundo. Depois, porque o espetáculo em questão era um desfile de Alta Moda da grife Dolce & Gabbana, apresentado no último domingo a convidados da marca.
A atmosfera inusitada e dramática estava à altura das fontes de inspiração dos estilistas Domenico Dolce e Stefano Gabbana para a temporada: as composições de Giacomo Puccini, autor de Madame Butterfly, Turandot, Tosca, entre outras; e as criações chiquérrimas da estilista milanesa Biki (Elvira Leonardi Bouyeure), que era neta de Puccini e, entre 1940 e 1960, vestiu princesas, milionárias e estrelas, como a atriz Sophia Loren e a soprano Maria Callas.
“Para produzir essa coleção, miramos em dois tipos de mulheres: de um lado, as heroínas passionais das óperas, com aqueles figurinos maravilhosos, aqueles chapéus enlouquecidos, de outro, as mulheres que assistiam aos espetáculos em Milão, sempre elegantes e poderosas, vestidas sob medida por Biki”, disse Gabbana, ao jornal O Estado de S.Paulo, pouco antes do show.
De pontos de partida opostos, surgiu uma coleção ovacionada de pé pela plateia de 200 convidados, formada por jornalistas de moda e editores, familiares, amigos e clientes bilionários da dupla vindos especialmente para o desfile dos Estados Unidos, da Rússia, da China e de toda a Europa. O maximalismo exposto em estampas florais exibidas, brocados exuberantes, capas, caudas, coroas e muito mais realmente encheu os olhos. A dupla deu show de opulência, mas também seduziu a crítica investindo no melhor da alfaiataria e do mais simples e eficiente vestido do mundo: o preto. Básico, atemporal, incrivelmente bem cortado, do tipo que molda o corpo e dura para sempre. “Não estamos mais interessados em lançar tendências. As tendências passam, o estilo fica. Estamos focados hoje em oferecer roupas com estilo”, afirmou Gabbana.
Representantes declarados da cultura italiana, os designers levaram ainda para a passarela longos com estampas pintadas a mão de ícones arquitetônicos de Milão, como o Duomo e a Galleria Vittorio Emanuele. Desenhos inspirados nos croquis da estilista Biki também enfeitaram vestidos com modelagem dos anos 1960. Como Biki amava chapéus, os estilistas se sentiram à vontade para apresentar na coleção os modelos mais variados: decasquetes a um capuz que lembrava uma mantilha. Blazers bordados e um smoking branco e preto também se destacaram, ao lado de vestidos com cristais e longos drapeados que eram puro luxo.
Em plena hora de almoço, no domingo, a plateia, que usava joias e peças de vison, vibrou e se emocionou, enquanto ouvia as árias mais lindas e emotivas da obra de Puccini. Dolce chorou quando pisou na passarela, ao final do desfile, e viu Anna Wintour (aquela temida e famosa editora de moda da revista Vogue America) aplaudindo sua coleção de pé.
Quando parecia que todas as surpresas haviam acabado, veio o gran finale. Os convidados deixaram o palco enquanto aguardavam pelo almoço. As cortinas se fecharam e, de repente, se abriram. O palco emergiu do subsolo com mesas superdecoradas por arranjos de orquídeas e rosas, com os garçons a postos elegantemente vestidos. No menu, risoto e filé à milanesa. Foi um desfile bem peculiar.
Tendências
A elegância dos anos 1920, Fred Astaire, o charme vintage dos jogadores de tênis e de golfe do início do século 20… O caldeirão de inspiração de Dolce & Gabbana para o desfile masculino de Alta Sartoria, apresentado no último sábado, em Milão, foi bem eclético. E permitiu à dupla de estilistas, que comanda a casa de moda, há 30 anos, exercitar várias facetas. Primeiro a que está voltada ao homem alinhado, penteadinho, barbeado. Para esse, a ideia foi oferecer robes e pijamas de seda, ternos justinhos e brasões bordados em paletós de lã e de cashmere. É difícil pensar em um homem comum usando isso, mas a ideia é justamente oferecer roupas sob medida para homens que não querem parecer comuns – sheiks árabes, craques de futebol, celebridades multimilionárias e empresários ricos de variadas estirpes fazem parte da clientela.
Uma linha mais jovem e mais interessante trouxe looks esportivos, que misturam tecidos e texturas em jaquetas, polos e tricôs casuais e elegantes. Ousados e polêmicos na mesma medida, os casacões enormes de pele faziam alusão ao modelo usado pelos estudantes ricos das grandes universidades americanas nos anos 1920. Óculos de grau redondos completavam o visual nostálgico, que tomou conta da passarela armada no QG da marca, um prédio histórico no comércio de ouro de Milão. “Nosso cliente compra imediatamente após o show. Ele está sempre em movimento, joga tênis, joga golfe e gosta da forma com que nós criamos roupas diferentes e renovamos os clássicos”, diz Domenico Dolce.