Saúde e Bem-Estar

Bruna Covacci

“Não existe rotina no CrossFit. Todos os dias os desafios são novos”

Bruna Covacci
10/12/2016 09:00
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Katlyn Barcarol, 29 anos: CrossFit não é monótono e ajudou-a a aumentar sua imunidade. Fotos: Leticia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi

Para eles não tem nem feriado, nem preguiça. Quem entra em uma academia de CrossFit ganha um time, novos objetivos de superação e até mesmo uma linguagem para descrever os movimentos e técnicas que compõem um determinado WOD (“Work Out of the Day” ou treino do dia, em português). Para trabalhar força e condicionamento físico, os praticantes misturam movimentos funcionais variados executados em alta intensidade. Entre eles estão o levantamento de peso olímpico, práticas da ginástica olímpica e condicionamento metabólico ou cardiovascular.
Não existe rotina no CrossFit. Todos os dias os desafios são novos”, explica a atleta, coach e proprietária da High Pulse CrossFit, Tassia Dada, 27 anos. Sua história com a modalidade começou em 2013, quando procurou especializações e se tornou uma das primeiras profissionais da área na cidade. Tassia acredita que o resultado rápido e visível é um dos grandes atrativos de quem procura uma box (academia). “Os treinos são intensos e mexem com o corpo todo. Os praticantes conseguem superar os seus limites e realizar exercícios que não se imaginariam fazendo”, diz.
Segundo ela, o ambiente não permite os “migués” das academias tradicionais e os praticantes estimulam uns aos outros. “Qualquer pessoa pode começar a prática, seja ela sedentária, seja ela uma atleta de elite. A idade também não é impeditivo. Todo mundo faz a mesma aula, respeitando suas limitações”, explica.

Xô, deprê!

O exercício não faz bem apenas para o corpo. A contadora Alessandra Roncaglio Gabarron, 25 anos, começou a praticar CrossFit há oito meses. “Eu estava vivendo uma fase difícil depois do término de um relacionamento. Estava mal e com a autoestima prejudicada”, diz. Com os treinos, eliminou 20 kg, tornou-se uma pessoa mais disposta, resistente e passou a acreditar em si mesma. “O meu resultado apareceu rápido e me fez perceber que tenho poder sobre o meu corpo”, conta.
Segundo ela, o clima de companheirismo, o espírito de equipe e o trabalho dos coaches fazem com que você não desista. “É muito legal ver que todos estão torcendo por sua superação”, diz. Antes de encontrar sua box, Alessandra acreditava que os exercícios físicos não eram para ela. Agora, já chegou a participar de competições na modalidade.
Alessandra Roncaglio ficou mais disposta e resistente no CrossFit.
Alessandra Roncaglio ficou mais disposta e resistente no CrossFit.

Vida nova

Filipe Bittencourt, 24 anos, psicólogo, sempre tentou emagrecer: foi para a academia, praticou diferentes modalidades esportivas e até embarcou no pilates. Os resultados nunca eram satisfatórios e as práticas não traziam prazer para o psicólogo. Mesmo desacreditado, achando que CrossFit exigia muito esforço e que não era para pessoas como ele, aceitou o convite de fazer uma aula experimental há três meses.
“Depois que eu pesquisei melhor, vi nas redes sociais pessoas com biotipos diferentes treinando, criei coragem e desde então muita coisa mudou na minha vida. Emagreci 10 kg, estou mais animado e tenho vontade de vir treinar sempre”, conta. Prova disso é que Bittencourt conversou com o Viver Bem numa sexta-feira chuvosa, à noite, antes do seu treino.
Segundo ele, não há nada melhor que treinar em um lugar em que todos torcem e se preocupam com você. “Eu fiz várias coisas que jamais imaginaria conseguir. A primeira vez que subi na corda me marcou”, diz. Segundo ele, o CrossFit mudou seu modo de pensar em exercícios; antes ele os fazia por obrigação, porque queria emagrecer. Agora, a prática é seu hobby e momento de descontração.
Filipe Bittencourt, de 24 anos, tentou de tudo, e no começo teve receio em relação à prática. Já perdeu 10kg.
Filipe Bittencourt, de 24 anos, tentou de tudo, e no começo teve receio em relação à prática. Já perdeu 10kg.

Não é força, é saúde

A corretora de imóveis Katlyn Cristina de Souza Barcarol, 29 anos, praticava esportes desde criança e na vida adulta foi para a academia. “O problema é que eu achava tudo monótono e, com o tempo, perdi a vontade de treinar”, conta. A rotina agitada do CrossFit a atraiu. Para ela, o mais bacana é que a prática foi trazendo melhorias que ela não esperava.
“Eu tinha a imunidade baixa, ficava muito gripada. Aos poucos aumentei minha resistência e fiquei mais forte e saudável por causa dos treinos”, conta. Agora, Katlyn costuma brincar com os amigos que se sente preparada até para situações de emergência, caso precise carregar alguém ou tirar algo da sua frente.
Katlyn Barcarol, 29 anos: CrossFit não é monótono e ajudou-a a aumentar sua imunidade.
Katlyn Barcarol, 29 anos: CrossFit não é monótono e ajudou-a a aumentar sua imunidade.

Riscos existem

Antes de procurar uma box para treinar, o cardiologista especialista em exercícios de esporte do Instituto de Joelho e Ombro, Marcelo Leitão, indica fazer um check-up. “As atividades físicas têm benefícios, ajudam a reduzir problemas cardiovasculares e auxiliam no controle de peso, mas ao mesmo tempo podem deixar quem tem algum problema silencioso mais suscetível a uma complicação cardíaca”, diz.
Há ainda o overtraining, que mostra que ninguém pode se empolgar demais com a prática. “Acontece quando o organismo não tem tempo de se recuperar em meio aos treinos intensos. A falta de intervalo pode prejudicar o desempenho físico e causar muita dor”, explica. Por isso, Leitão ressalta a importância do trabalho do coach, que vai conseguir medir estas questões. Sua outra dica é a de seguir os sinais do corpo. “Se a dor persistir por mais de três dias e não passar quando o corpo se exercita é preciso procurar um médico”, diz.
A fisioterapeuta Andréa Dipp lembra que os cuidados para não sofrer lesões são os mesmos de qualquer outro esporte, como realizar o aquecimento adequado e fazer um trabalho de prevenção a lesões com um fisioterapeuta ou educador físico. “Para evitar o overtraining é necessário um controle das variáveis de treino por parte dos coaches, realizando uma periodização correta e a percepção da resposta dos alunos aos treinos”, explica.
Por ser uma atividade relativamente nova, a fisioterapeuta percebe que o CrossFit é associado ao alto índice de lesões, mas, segundo ela, o número é próximo ao de outras atividades como levantamento de peso e musculação convencional, e menor que esportes como rugby, por exemplo. “Se o exercício for bem orientado, o praticante está menos susceptível às lesões, assim como em qualquer outra prática”, finaliza.

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