Saúde e Bem-Estar

Amanda Milléo*

Câncer pode ser prevenido com uma medida simples, dizem especialistas

Amanda Milléo*
21/09/2017 08:00
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Pedalar está na lista de atividades físicas que reduzem risco de câncer. Foto: Visual Hunt | EVE

Ciclovias são mais que espaços por onde as pessoas podem circular em bicicletas. São medidas preventivas de combate a diferentes tipos de câncer. A associação é simples, mas nem sempre lembrada: estimular os exercícios físicos diminui o sedentarismo, que leva a uma redução nos níveis de obesidade e sobrepeso da população – uma das principais causas preveníveis de câncer. Portanto, não é difícil associar que cidades com mais ciclovias ajudam a população com a prevenção do câncer.
“Até 40% dos cânceres podem ser prevenidos seja através da alimentação, dos exercícios físicos ou pelo abandono do cigarro”, explica David Read, vice-presidente de oncologia médica do Instituto do Câncer Dana-Farber, nos Estados Unidos. O especialista discursou sobre as mudanças de hábitos em prol da saúde durante o evento War on Cancer, ou Guerra ao Câncer, em português, promovido pela revista The Economist, ao lado do laboratório Roche e da farmacêutica Amgen, em Bogotá, na Colômbia.
Ao alertar que o câncer é uma doença que pode ser prevenida, os palestrantes pouco discutiram sobre novas tecnologias ou inovações em tratamentos – ainda mais que as novidades tendem a ficar nas mãos de poucas pessoas, seja no Brasil ou em outros países da América Latina. Esta, inclusive, foi uma das críticas mais reforçadas durante o encontro.
“Quando falam que o problema do combate ao câncer é a falta de tecnologias, ao invés de melhorar a equidade entre os países ou dentro deles, ela aumenta a inequidade. Isso porque a tecnologia termina sendo acessível e disponível às partes mais ricas da população e não aos mais pobres”, reforça Ruben Torres, reitor da Universidade Isalud, ex-superintendente de Serviços de Saúde da Argentina e ex-gerente de Sistemas e Serviços da Saúde da Organização Panamericana da Saúde (OPAS).
O sistema de saúde de um país que seja realmente consolidado, segundo Torres, deve garantir ao conjunto da sociedade o acesso à tecnologia apropriada. “É fundamental que cada país tenha uma agência de tecnologias, como no Brasil é a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). Isso evita a judicialização, ou a garantia de um tratamento custoso, nem sempre necessário, a uma só pessoa e não a todas”, completa Torres.
Mesmo com essa regulação, não é incomum vermos no Brasil diferenças em tratamentos oncológicos entre hospitais. Uma pesquisa divulgada em junho deste ano, desenvolvida pelo Instituto Oncoguia, mostrou que em São Paulo e Recife haviam hospitais que ofereciam protocolos de tratamento diferentes para um mesmo tipo de câncer. Ao paciente cabia a sorte de ser tratado no local com o protocolo mais completo. No Paraná, no entanto, a pesquisa mostrou que todos os hospitais ofereciam tratamentos considerados acima ou dentro do esperado.
Questões como essa encarecem o tratamento oncológico na região Latina e, engana-se quem acha que essas discussões cabem apenas aos órgãos governamentais.
O que eu posso fazer para tornar o tratamento ao câncer mais barato?
Primeiro passo é evitar, sempre que possível, ser um paciente oncológico. Conhecidos – e cientificamente comprovados – os fatores de risco, é importante que cada pessoa adote medidas ou mudanças de hábitos que venham a protegê-la da doença, como por exemplo:
  • Abandone o cigarro. Fumar aumenta em 70 vezes o risco de câncer de pulmão, além de contribuir com o desenvolvimento de derrames, enfartes e das doenças cardiovasculares
  • Vacine-se e imunize seus filhos contra o HPV. A vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV) é, hoje, a melhor forma de prevenir o desenvolvimento do câncer do colo do útero. No Brasil, mais de 95% do público alvo foi vacinado no primeiro ano da vacina. No segundo, no entanto, alguns fatores prejudicaram a ampla imunização. ?Infelizmente, a vacinação saiu das escolas e passou para os postos de saúde, então naturalmente fica mais difícil de vacinar. Também teve muita atividade dos grupos antivacinas com informações inadequadas e nada verdadeiras, falando que as vacinas prejudicavam mais do que ajudavam. Obviamente a vacina pode ter efeitos secundários leves, e muito raramente pode ter efeitos que são graves. Na média, porém, a vacina mais ajuda do que atrapalha?, explica Gilberto Lopes, médico oncológico do Sylvester Comprehensive Cancer Center e professor da Universidade de Miami, nos Estados Unidos. 
  • Alimente-se de forma mais natural. Se a carne vermelha ou as bebidas quentes aumentam o risco de câncer ainda não há um consenso dos especialistas. No entanto, uma coisa é certa (e comprovada): alimentos industrializados, ultraprocessados e açucarados elevam, sim, o risco do desenvolvimento de diferentes tipos de cânceres. Evitar esse tipo de dieta, portanto, é fundamental.
  • Exercite-se. Comece com uma caminhada e mantenha os 150 minutos semanais recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ninguém precisa se tornar um atleta de triathlon ou competidor de CrossFit, apenas deve se mexer e levar a família junto.
  • Pesquisas clínicas. Descoberto o câncer, uma das formas de garantir um tratamento novo e inovador, sem custo, é através das pesquisas clínicas. Descubra quais estão abertas, para quais tipos de doença e como se inscrever.
  • Informe-se. Conheça seus direitos, enquanto paciente oncológico. No Brasil, há organizações não-governamentais que ajudam e orientam quem tem dúvidas sobre a doença e o que fazer. O Instituto Oncoguia é um deles. A ONG Acción contra el Cancer, do Peru, reúne dados sobre estudos e pesquisas de diferentes tipos de câncer. As informações, porém, estão todas em espanhol.
Pontos positivos e negativos do combate ao câncer no Brasil
No encontro War on Cancer, realizado na última terça-feira (19), médicos, especialistas e jornalistas de toda a América Latina receberam os resultados de uma pesquisa que mostra os pontos positivos e negativos de 12 países da região no diagnóstico, prevenção, tratamento e até mesmo nos cuidados paliativos do paciente oncológico.
O Brasil, embora não esteja entre os primeiros colocados no cômputo geral, ficou em destaque em pelo menos uma categoria: a formulação de um Plano Nacional de Controle do Câncer. Dos 12 países, apenas cinco têm um plano focado na doença. A Costa Rica tem o plano mais amplo, enquanto no México o plano nacional está para ser aprovado. A Argentina tem vários planos, mas nenhum nacional. 
Na categoria de acesso aos dados e às informações oncológicas nos países, apenas a Argentina, Costa Rica, Panamá e Uruguai possuem registros da doença de base nacional. O Chile concentra 30% dos cuidados paliativos da região, embora represente apenas 3% da população oncológica. “Embora existam muitas disparidades entre os países, temos também muitas semelhanças. Por isso o acesso aos dados e informações dos países vizinhos é essencial”, explica Gilberto Lopes.
Os resultados foram compilados em uma tabela de pontuação do controle do câncer na América Latina – LACCS, na sigla em inglês. No cômputo geral, o Brasil se encontra em 5º lugar, atrás do Uruguai, Costa Rica, Chile e México, e com a mesma pontuação da Colômbia.

106% será o aumento nas mortes causadas por câncer na América Latina até 2035. Atualmente, é a segunda causa de mortalidade na região.

*A jornalista viajou à Colômbia por convite da farmacêutica Roche.
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